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"Tenho muita pena desses rapazes", diz mulher de cinegrafista morto

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

13/02/2014 10h10

Pouco depois de chegar ao velório do marido, o cinegrafista da "Band" Santiago Andrade, na manhã desta quinta-feira (13), a assistente social e diretora de creche Arlita Andrade disse ter pena dos dois suspeitos de envolvimento no caso.

"Todas as crianças que passaram por mim [na creche] não foram violentas. Tenho muita penas desses dois rapazes", declarou, antes de ser interrompida pelo abraço de um amigo.

Santiago morreu nesta segunda (10), quatro dias depois de ser atingido na cabeça por um rojão, em uma manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus, no Centro do Rio de Janeiro. Ele está sendo velado no Cemitério do Caju, na Zona Portuária da capital fluminense, desde as 8h20. A cremação está prevista para o meio-dia.

A mulher de Santiago fez um apelo aos repórteres que cobrem o velório, muitos deles colegas e amigos do cinegrafista: "Queria pedir a todo mundo: por favor, sejam mais amigos, sejam mais tranquilos, tenham amor um pelo outro".

Arlita também falou sobre como lidava com o trabalho do marido. "Eu falava: 'poxa, amor, faz alguma coisa mais leve'. Aí ele falava: 'eu gosto de tiro, porrada e bomba'. O sonho dele era ser repórter cinematográfico.”

Veja o momento em que o cinegrafista é atingido por bomba

Amigos comentam

Santiago "era um cara bem alegre, que brincava com todo mundo" e que não gostava de cobrir manifestações, segundo Edeilton Macedo, cinegrafista da Band há 13 anos. "Ele era muito precavido, cuidadoso, mas tinha até medo de cobrir protestos. E olhe que ele também cobria conflito em morros", disse Macedo.

Ele era muito precavido, cuidadoso, mas tinha até medo de cobrir protestos. E olhe que ele também cobria conflito em morros

Edeilton Macedo, amigo e cinegrafista

O cinegrafista conta que quando chega ao prédio da emissora olha para o lugar onde o colega e amigo costumava sentar quando estava na redação. "Não dá pra acreditar. Acho que minha ficha ainda não caiu", disse. "Eu trabalhava no período anterior ao dele. No dia que aconteceu [6 de fevereiro], antes de chegar na Band, ele desviou do caminho dele para me dar carona e me deixar em casa."

O diretor nacional de jornalismo da Band, Fernando Mitre, não poupou críticas aos chamados aos manifestantes. "Não se pode imaginar que um grupo de mascarados seja representante de alguma coisa legítima", declarou. "Não vamos descansar enquanto não se fizer o jornalismo crítico que precisa ser feito. Tem que se descobrir o que está por trás disso", afirmou.

O jornalista lamentou a morte do cinegrafista e disse que ela foi "uma tragédia que poderia ter sido evitada caso algumas providências tivessem sido tomadas". "É lamentável que haja uma tragédia para se tome providências."

Prisões

Na madrugada desta quarta-feira (12), a Polícia Civil do Rio prendeu o homem suspeito de acender o rojão que atingiu Santiago, em Feira de Santana (BA), a cerca de 100 quilômetros da capital baiana, Salvador. Ele confessou que acendeu o rojão que matou Santiago.

No domingo (9), o tatuador Fábio Raposo, 22, que admitiu à polícia ter entregue o rojão para Caio, teve mandado de prisão temporária cumprido por policiais da 17ª DP (São Cristóvão), que investiga o caso. Os dois estão presos no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio. Caio foi levado, nesta quarta, para a cadeira pública José Frederico Marques. Já Fábio está desde domingo na cadeia pública Bandeira Stampa.

De acordo com o delegado Maurício Luciano de Almeida, que preside o inquérito, os dois foram indiciados por homicídio doloso (quando há intenção de matar) qualificado pelo uso de artefato explosivo e crime de explosão, que somados podem resultar em pena de 35 anos de reclusão.