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Prefeitura retira mais de 18 toneladas de lixo de casa de idosos em BH

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

21/03/2014 17h42

Funcionários da Prefeitura de Belo Horizonte trabalham desde a última terça-feira (18) para retirar mais de 18 toneladas de lixo do imóvel de um casal de idosos no bairro Santa Lúcia, região centro-sul da capital mineira.

Priscila Starling, gerente de controle de zoonoses da Regional Centro-Sul (uma espécie de subprefeitura da cidade), conta que em 30 anos de trabalho na prefeitura nunca presenciou nada igual. "Me assustou, a coisa lá [dentro] está tenebrosa", disse ela. "Há tuneis dentro da casa feitos com os materiais que foram acumulados. Ela [a idosa] foi fazendo os túneis. Em alguns deles, eu não consegui passar para acessar o outro cômodo".

Ela calcula que pelo menos 15 toneladas de lixo devem ser retiradas do local, mas a quantidade pode surpreender e ser bem maior. A limpeza da casa e do terreno deve se estender pelo fim de semana. E, segundo ela, caso seja interrompida, pode durar até o meio da semana que vem. 

“Somente caixas de sapatos, a gente contou até agora umas 3.000. Já conseguimos retirar o material da garagem, da varanda e da sala da casa, mas falta muita coisa ainda", disse.

Segundo Starling, já retiraram da casa pilhas de caixas de leite vazias, latinhas de alumínio, garrafas pet, cabos de vassouras, madeiras, além de caixas de papelão, de sapatos e sacolas de supermercados vazias. Há também uma quantidade enorme de potes de vidro e roupas velhas. Até uma cobra foi encontrada debaixo de um sofá que, por sua, vez, estava escondido em meio a uma montanha de lixo.

“Essa cobra nos assustou", disse a gerente. "Além disso, há muitos ratos e baratas dentro do imóvel. Todos os cômodos estão tomados por montanhas de lixo."

Os agentes também encontraram joias e uma máquina de lavar roupas ainda na caixa soterradas pelo lixo.

Os servidores que trabalham no local tentam localizar documentos para identificar o casal, que seria um caso típico de acumuladores compulsivos, ou seja, pessoas com fixação por guardar objetos.

Starling conta que a mulher é bastante lúcida, mas não sabe explicar por que juntava tanto material. “Ela é uma idosa muito bonita, com olhos claros. Uma hora ela me disse que foi modelo, em outra, falou que foi professora. Encontramos fotos dela, ainda jovem, na quais ela aparece muito bonita e bem arrumada, com roupas bonitas."

A limpeza do imóvel só foi possível após uma liminar da Justiça. A dona da casa oscila entre concordar com a retirada do material e subir no caminhão de lixo para jogar no chão tudo o que já foi recolhido.

“Estamos conversando muito com ela e tentando convencê-la a nos deixar tirar o material, mas ela concorda e, em seguida, já não quer mais que o material seja retirado. Ela fala que junta tudo isso para fazer artesanato e para doar para campanhas para ajudar crianças e escolas”, disse a gerente.

Segundo os vizinhos ouvidos pela equipe de limpeza, o casal tem a mania de recolher tudo o que encontra na rua e consegue carregar.

A casa apresenta rachaduras nas paredes, o chão da sala está cedendo e vários cômodos apresentam muito mofo, o fornecimento de água e luz, no entanto, é regular.

Os moradores, aparentemente, não cozinham no local. “Parece que eles se alimentam de produtos industrializados e prontos para o consumo, já que encontramos um número enorme de pacotes de biscoitos. Há muitas latas de tomate e caixas de leite fechadas, mas com a data de validade expirada há seis anos, por exemplo”, afirmou Starling.

Integrantes da Defesa Civil municipal avaliam a estrutura da casa para checar se os idosos podem permanecer no local, e uma equipe do setor de Políticas Sociais da Regional ficou responsável por buscar um tratamento médico para o casal.