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Família do interior de MG desiste de tentar enterrar corpo de filha em casa

Bianca Rodrigues Silva morreu em um acidente de carro em 11 de maio - Arquivo pessoal
Bianca Rodrigues Silva morreu em um acidente de carro em 11 de maio Imagem: Arquivo pessoal

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

26/05/2014 12h03

Após uma reunião familiar feita no fim de semana, os pais da jovem cujo enterro foi alvo de um imbróglio judicial desistiram de tentar sepultar o corpo dela em jazigo erguido em terreno da casa onde moram, na cidade de Santo Antônio do Monte (a 180 km de Belo Horizonte), em Minas Gerais.

O engenheiro Daniel Rodrigues Silva, 41, pai de Bianca Rodrigues Silva, morta em um acidente de carro no dia 11 deste mês, informou ao UOL nesta segunda-feira (26) que o corpo da filha permanecerá no cemitério local e não haverá recurso contra a decisão da juíza Lorena Teixeira Vaz Dias. Ela havia determinado, na semana passada, a retirada do corpo do jazigo domiciliar e o retorno para o cemitério da cidade, onde havia sido enterrado logo após o acidente. Em nove dias, a jovem teve três enterros.

No entanto, Silva afirmou que vai discutir a possibilidade de uma ação contra o Estado. Segundo ele, a intenção é mostrar que a magistrada não poderia proibir o sepultamento no local preparado pelos pais, que tinham obtido da prefeitura e de um delegado da Polícia Civil a permissão para realizar o enterro da filha em casa.

Segundo ele, a ideia era trazer conforto espiritual à família e atender a um pedido de Bianca, que havia relatado à irmã o desejo de ser enterrada perto dos familiares.

“Não vamos mais mexer nessa questão de remover o corpo dela e trazê-lo para casa. Agora, a gente vai ver o que se pode fazer contra o Estado. A juíza não se baseou em nenhuma lei para fazer o que fez e há exemplos de pessoas que foram enterradas nos terrenos das famílias. Vamos ver o que é cabível no caso”, afirmou.

O engenheiro disse que a família está muito transtornada com a perda da filha e espera pôr um ponto final na história.

“A gente já está sofrendo muito com a perda dela, perder um filho é a coisa mais terrível do mundo. Você pode perder dinheiro, casa, um braço, um perna, mas perder um filho é uma dor tremenda”, declarou.

Jazigo

O engenheiro afirmou que não vai desmontar o jazigo construído no terreno de sua casa e onde o corpo da filha permaneceu por alguns dias antes de ser retirado e levado para o cemitério municipal. “Vou deixar do jeito que está.”

Em sua decisão, a juíza afirma que a exumação de um cadáver somente poderia ser feita com autorização judicial e atribuiu a ação da família a um forte impacto emocional.

Segundo a magistrada, a atitude dos pais coloca em risco a saúde pública e da própria família ao manter o cadáver em local considerado por ela como inadequado.

No despacho, a juíza disse ainda que o delegado e o secretário da prefeitura, que deram o aval, não detêm legitimidade para tomar a decisão e ainda considerou que o ato deles poderia ser interpretado como criminoso. Ela frisou que a decisão visava vedar a abertura de precedentes (outras famílias poderiam seguir o exemplo dos pais de Bianca).

A assessoria da prefeitura havia enviado uma nota ao UOL na qual reproduziu a versão para o caso dada pelo secretário de Administração, Antenógenes Antônio da Silva Júnior.

Conforme o texto, Silva Júnior foi quem deu a autorização do traslado do corpo para a casa dos pais da jovem "com base em autorização prévia da Polícia Civil".

O secretário ainda disse que foram feitas pesquisas e "mediante toda documentação apresentada pela família peticionária e entendendo não haver qualquer ilegalidade ou irregularidade, é que eu outorguei tal autorização, sem qualquer intenção de dolo, visando apenas minorar e minimizar a dor de uma família". O delegado não foi localizado.