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Após 1 ano, família espera laudo para esclarecer suicídio em Limeira (SP)

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

14/09/2014 06h00

Um ano após a morte de José Guilherme da Silva, 20, sua família ainda espera o resultado do terceiro e último laudo que pode esclarecer as circunstâncias da morte do jovem. Segundo a polícia, ele cometeu suicídio dentro de um carro da PM (Polícia Militar), mesmo algemado com as mãos nas costas, em Limeira (a 151 km de São Paulo), em 14 de setembro de 2013.

Até o momento, nenhum dos dois laudos que já tiveram resultados finalizados conseguiu comprovar a hipótese da polícia.

“É uma dor intensa. Esses últimos dias não têm sido fáceis. Lembramos que ele morreu há um ano. E lembramos que a polícia falou que ele, algemado, se matou. Queremos Justiça, mas essa dor não vai parar de sangrar enquanto os culpados não forem punidos”, diz a mãe de José Guilherme, Cláudia Regina Silva.

O laudo é fundamental para que os policiais envolvidos na ação - Luan Ribas Alcântara, Carlos Alexandre dos Santos e Robson Alexandre dos Santos – sejam julgados por homicídio. Eles já foram indiciados por homicídio em processo que corre no Tribunal de Justiça de São Paulo, mas a sentença só será possível após a entrega do último laudo.

Até o momento, foram concluídos o laudo residuográfico, que determinou que não havia partículas de chumbo e pólvora nas mãos de José Guilherme, e o de balística, que determinou que o tiro foi disparado a cerca de meio metro da cabeça do jovem, de baixo para cima.

O terceiro laudo, ainda não finalizado, é a perícia nas armas dos policiais para determinar se o projétil que matou o jovem saiu de uma delas. Além disso, serão avaliados aspectos como a posição de José Guilherme no veículo e se o tiro que o matou poderia ser dado na posição em que ele se encontrava.

De acordo com os laudos já disponibilizados, a falta de pólvora nas mãos do jovem torna menos provável a hipótese de que ele tenha se suicidado, pois esses resíduos costumam estar presentes em pessoas que atiram com arma de fogo. Já o segundo laudo corrobora a tese dos policiais, embora não exclua a possibilidade de o tiro ter sido disparado pelos oficiais.

Demora

Segundo a advogada Fernanda Felix, os peritos realizaram o trabalho em março de 2014, quando houve a segunda reconstituição da morte de José Guilherme. Por conta da demora, a família pediu, em julho, que o trabalho fosse apressado, e o laudo, entregue. Até o momento, o material continua sendo elaborado.

"Esses laudos são essenciais e, sem eles, tudo fica parado. Esperamos que, em no máximo um ou dois meses, eles finalmente sejam entregues. O prazo costuma ser de até nove meses e já se foram sete. Mas não temos muito que fazer a não ser esperar”, disse.

O caso

José Guilherme estava com um amigo de 20 anos em uma moto, quando foi parado por policiais militares da Força Tática, na avenida Laranjeiras, em Limeira. Momentos antes, segundo a polícia, ele tinha roubado uma mercearia. Lá, ele chegou a disparar uma arma de calibre 38 contra o filho do dono do estabelecimento.

Enquanto abordava a dupla, os PMs receberam a informação de que uma pessoa havia sido baleada em um assalto a um comércio nas imediações. Nesse momento, familiares de Silva chegaram ao local, e a dupla foi reconhecida por testemunhas, entre elas o próprio comerciante.

Eles foram autuados e Silva confirmou à mãe que tinha efetuado o roubo. "Ele pediu perdão pelo que fez e me abraçou. Nunca vou esquecer a ação dele. Ele sabia do erro, não tinha por que se matar. Ele foi morto", afirma Cláudia.

Ainda na presença da família, ele foi revistado pelos policiais, colocado no carro e, mesmo algemado, segundo a versão da polícia, conseguiu sacar uma arma e atirar contra a própria cabeça.

A PM informou que o tiro teria sido dado de baixo para cima, pelo próprio rapaz, atingindo a têmpora do lado direito.

De acordo com a versão da polícia, o rapaz estava sendo encaminhado para a delegacia quando os policiais ouviram um disparo vindo do compartimento onde estava o preso. Após perceberem que o suspeito tinha sido baleado, os PMs o levaram ao hospital, onde ele chegou vivo, mas morreu minutos depois. O outro suspeito foi levado à delegacia e preso.

"Falha"

Segundo a versão da PM, houve uma "falha procedimental" do policial que revistou o rapaz antes de colocá-lo no compartimento de presos. O agente não teria percebido que o suspeito trazia um revólver calibre 32, arma que teria sido utilizada no disparo. A corporação, portanto, defende a tese de suicídio, embora admita punições aos envolvidos pela falha na revista.

Logo depois da reconstituição, os três policiais foram afastados das funções, mas retornaram ao trabalho três meses depois. A princípio, eles faziam apenas trabalhos administrativos, mas agora, embora não integrem as chamadas formas de elite, que faz o trabalho ostensivo, já podem atuar nas ruas.

“Eu vejo direto os policiais que mataram o meu filho. Tenho de cruzar com eles sempre. Mas não tenho medo e espero que eles fiquem presos, na cadeia, que é o lugar de quem mata outra pessoa”, diz José Silva, pai de José Guilherme.

O 36º Batalhão de Polícia do Interior, sediado em Limeira e do qual os acusados são integrantes, foi procurado para comentar, mas informou apenas que apenas a assessoria de imprensa da PM, em São Paulo, comentaria. Foi pedido que um e-mail com os questionamentos da reportagem fosse enviado, o que aconteceu na quinta-feira (11). A reportagem cobrou novamente um posicionamento da PM na sexta-feira (12), mas, até o fechamento desta reportagem, não havia tido resposta.