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Laudos mostram que não houve suicídio de jovem que estava algemado

Eduardo Schiavoni

Do UOL, Americana (SP)

14/02/2014 15h26

Cinco meses após a morte do jovem José Guilherme da Silva, 20, que, segundo a polícia, cometeu o suicídio dentro de um carro da PM (Polícia Militar), mesmo algemado, em Limeira (151 km de São Paulo), nenhum dos dois laudos que já tiveram resultados finalizados conseguiu comprovar a hipótese da polícia. As autoridades aguardam a finalização de um terceiro exame pericial para finalizar as investigações.

Até o momento, foram concluídos o laudo residuográfico, que determinou que não havia partículas de chumbo e pólvora nas mãos de José Guilherme, e o de balística, que determinou que o tiro foi disparado a cerca de meio metro da cabeça do jovem, de baixo para cima.

A falta de pólvora nas mãos do jovem que torna menos provável a hipótese de que ele tenha se suicidado, pois esses resíduos costumam estar presentes em pessoas que atiram com arma de fogo.

Já o segundo laudo corrobora com a informação prestada pelos policiais. O terceiro laudo, ainda não finalizado, é a perícia nas armas dos policiais para determinar se o projétil que matou o jovem saiu de uma delas.

O caso, ocorrido em 14 de setembro de 2013, foi registrado como roubo seguido de suicídio, segue em apuração no 3º Distrito Policial de Limeira.

Procurado para comentar, o delegado Mamede Jorge Rime, que responde pelo distrito,  limitou-se a confirmar, através da atendente, que as investigações seguem em curso, mas afirmou que só falaria com a reportagem pessoalmente.

Já o delegado seccional de Limeira, José Henrique Ventura, que encontra-se em férias, chegou a dizer, em entrevista concedida logo após a divulgação dos laudos, que as investigações ainda têm o suicídio como a principal hipótese.

"É um caso realmente diferente, mas há casos em que o exame resíduográfico não aponta pólvora e fica comprovado que a pessoa atirou", disse.

Informação

Embora nenhum dos laudos tenha sido liberado para a imprensa, uma fonte na polícia de Limeira confirmou que o documento, em um de seus trechos, afirma que a hipótese de suicídio não pode ser descartada porque “envolve um estudo personalíssimo da habilidade do agente que encontra-se algemado”.

“E é sabido nos meios policiais tanto sobre a habilidade de movimento de alguns detidos, bem como sua condição pessoal de burlar a revista”, diz trecho do documento.

Segundo o representante do 36º Batalhão da PM de Limeira, major Márcio Silveira, os três agentes envolvidos foram retirados das ruas até o fim do inquérito e seguem fazendo trabalhos burocráticos.

“Ao que tudo indica, os dois laudos apontam para suicídio. Mas ainda há um laudo e temos que esperar para poder concluir as investigações e determinar as eventuais punições”, disse.

O caso

O desempregado José Guilherme da Silva, 19, estava com um amigo, de 20 anos, em uma moto, quando foi abordado por policiais militares da Força Tática, na Avenida Laranjeiras, em Limeira. Momentos antes, ele tinha roubado uma mercearia. Lá, ele chegou a disparar uma arma de calibre 38 contra o filho do dono do estabelecimento. 

Enquanto abordava a dupla, os PMs receberam a informação de que uma pessoa havia sido baleada em um assalto a um comércio nas imediações. Nesse momento, familiares de Silva chegaram ao local e a dupla foi reconhecida por testemunhas, entre elas o próprio comerciante. Eles foram autuados e Silva chegou a confirmar com a mãe, Cláudia Regina Silva, que tinha feito o roubo. "Ele pediu perdão pelo que fez e me abraçou", disse.

Ainda na presença da família, ele foi revistado pelos policiais, colocado no carro e, mesmo algemado, segundo a versão da polícia, conseguiu sacar uma arma e atirar contra a própria cabeça. A PM informou que o tiro teria sido dado de baixo para cima, pelo próprio rapaz, atingindo a têmpora do lado direito.

De acordo com a versão da polícia, o rapaz era encaminhado para a delegacia quando os policiais ouviram um disparo vindo do compartimento onde o preso estava. Após perceberem que o suspeito tinha sido baleado, os PMs o levaram ao hospital, onde ele chegou vivo, mas morreu minutos depois. O outro suspeito foi levado à delegacia e preso.

Família contesta

Três policiais participaram da ação e a PM informou que houve uma "falha procedimental" do policial que revistou o rapaz antes de colocá-lo no compartimento de presos. O agente não teria percebido que o suspeito trazia um revólver calibre 32. Essa falha é alvo de apuração.

A versão, no entanto, é contestada por José Silva, pai de José Guilherme. "Como uma pessoa algemada, com as mãos para trás, pode atirar na cabeça? Não tem sentido. E como uma pessoa que não tem restos de pólvora na mão atirou? Esse laudo só comprova que a polícia está mentindo. Meu filho foi executado", disse.