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Paraná aguarda resposta de Santa Catarina para transferir presos rebelados

Jorge Olavo

Do UOL, em Curitiba

14/10/2014 22h48

O poder judiciário do Paraná negocia com o de Santa Catarina a transferência de presos rebelados da Penitenciária Industrial de Guarapuava, no centro-sul paranaense.

De acordo com a Seju (Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos), a resposta da justiça catarinense deve ser dada nesta quarta-feira (15). As negociações dos presos amotinados com a Polícia Militar foram suspensas às 20h30 desta terça-feira (14), 33 horas após o início da rebelião. Dez agentes penitenciários e sete detentos ainda são mantidos reféns no interior da unidade. Cinco pessoas estariam feridas.

A transferência para outros presídios é a principal reivindicação dos detentos. Eles pedem para serem transferidos para unidades do Paraná e de outros Estados, principalmente de Santa Catarina. Outro pedido é a mudança na diretoria do presídio, hoje sob o comando de Anderson de França Uchak. Conforme a Seju, este pedido só deve ser analisado após o fim da rebelião. As negociações estão previstas para serem retomadas às 7h de amanhã.

Ao longo desta terça-feira, dois agentes penitenciários foram soltos pelos detentos. O primeiro foi liberado em troca de comida. O segundo, solto no final da tarde, estava com o nariz quebrado, mas passa bem, segundo a vice-presidente do Sindarspen (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná), Petruska Sviercoski. Durante todo o dia, como ocorreu na segunda-feira, reféns foram agredidos e mantidos amarrados e seminus no telhado do presídio.

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A rebelião

A rebelião começou perto das 11h30 de segunda-feira (13), na fábrica da unidade prisional. Treze agentes penitenciários foram rendidos no momento em que distribuíam o almoço aos detentos, que usaram tesouras, estoques e outros materiais para dar início ao motim. Na penitenciária, sapatos, botinas e luvas são fabricados pelos presos. Um grupo formado por cerca de 40 presos –dos 239 do presídio– estaria no comando da rebelião. A unidade tem capacidade para 240 presos.

No final da tarde de segunda, um agente carcerário acabou liberado depois de passar mal com a cola que os presos colocaram no corpo dele e dois detentos foram jogados do telhado do presídio. Outros 11 presos que eram mantidos reféns pularam do telhado para escapar. Os ferimentos de todos foram leves. O fornecimento de luz e água das galerias ocupadas pelos rebelados foi suspenso.

Policiais da tropa de choque da PM e do Bope (Batalhão de Operações Especiais) participaram de uma primeira rodada de negociações das 17h às 22h30 de segunda. O diálogo foi retomado por volta das 7h desta terça. A falta de uma pauta com reivindicações claras dificultou o início do diálogo.

Segundo o sindicato, esta é a 21ª rebelião no sistema penitenciário do Paraná desde dezembro de 2013. "Com esta rebelião, temos um sentimento de mais revolta. Há três semanas, aprovamos greve em assembleia sem uma proposta salarial na pauta. Estamos com medo de trabalhar. A situação é caótica", afirma Petruska, que ainda conta que a greve foi impedida por uma liminar da Justiça.

A Seju contabiliza cinco rebeliões e 16 motins e diz contar com o apoio de investigações da Polícia Civil e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) do Ministério Público para entender o que tem motivado as revoltas e tentar antecipar novas ações em outras unidades do sistema penitenciário do Paraná.

Reincidentes

Há a informação de que a rebelião no presídio teria sido orquestrada por um grupo de presos que havia sido transferido recentemente da Penitenciária Estadual de Cascavel e do Complexo Penitenciário de Piraquara, na Grande Curitiba, para a unidade de Guarapuava.

De acordo com a secretaria, embora essa ainda não seja uma informação oficial, caso seja confirmada, os presos reincidentes serão transferidos para o regime de segurança máxima federal. Esta é a primeira rebelião desde que a penitenciária foi inaugurada, em 1999.