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Presos fecham acordo com governo, e rebelião no Paraná deve terminar hoje

Do UOL, em São Paulo

15/10/2014 12h21

A Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju) do Paraná informou que os presos que participam da rebelião no Presídio Industrial de Guarapuava fecharam acordo com o governo do Estado e devem liberar os reféns ainda hoje (15). De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, o acordo, feito por volta das 9h30, determina a transferência de 28 homens para outras unidades prisionais do Paraná e também de Santa Catarina. Os detalhes não foram divulgados por questão de segurança.

Os detentos aguardam o início da transferência para libertar os nove agentes penitenciários e os sete presos mantidos reféns. Na noite de ontem (14), um agente penitenciário foi libertado com ferimentos leves e escoriações. Ele recebeu atendimento e já teve alta médica.

O governo do Estado está providenciando camburões e motoristas para que a transferência dos presos seja feita até a hora do almoço, mas a assessoria de imprensa já informou que a logística pode demorar um pouco mais.

Com capacidade para abrigar 240 presos, a Penitenciária Industrial de Guarapuava abriga 239 detentos. O motim começou por volta das 11h30 da última segunda-feira (13), quando parte dos apenados era conduzida para um canteiro de trabalho no interior do presídio.

De acordo com o Sindicato dos Agentes Penitenciários, esta é a 21ª rebelião no sistema penitenciário paranaense, desde dezembro de 2013. A assessoria da secretaria, contudo, ponderou que parte desses episódios foram motins menos graves que rebeliões, pois não há registro de consequências graves, como agentes e presos feridos com gravidade ou danos estruturais às unidades.

A transferência para outros presídios é a principal reivindicação dos detentos. Outro pedido é a mudança na diretoria do presídio, hoje sob o comando de Anderson de França Uchak. Conforme a Seju, este pedido só deve ser analisado após o fim da rebelião.

Ao longo desta terça-feira, dois agentes penitenciários foram soltos pelos detentos. O primeiro foi liberado em troca de comida. O segundo, solto no final da tarde, estava com o nariz quebrado, mas passa bem, segundo a vice-presidente do Sindarspen (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná), Petruska Sviercoski. Durante todo o dia, como ocorreu na segunda-feira, reféns foram agredidos e mantidos amarrados e seminus no telhado do presídio.

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A rebelião

A rebelião começou perto das 11h30 de segunda-feira (13), na fábrica da unidade prisional. Treze agentes penitenciários foram rendidos no momento em que distribuíam o almoço aos detentos, que usaram tesouras, estoques e outros materiais para dar início ao motim. Na penitenciária, sapatos, botinas e luvas são fabricados pelos presos. Um grupo formado por cerca de 40 presos –dos 239 do presídio– estaria no comando da rebelião. A unidade tem capacidade para 240 presos.

No final da tarde de segunda, um agente carcerário acabou liberado depois de passar mal com a cola que os presos colocaram no corpo dele e dois detentos foram jogados do telhado do presídio. Outros 11 presos que eram mantidos reféns pularam do telhado para escapar. Os ferimentos de todos foram leves. O fornecimento de luz e água das galerias ocupadas pelos rebelados foi suspenso.

Policiais da tropa de choque da PM e do Bope (Batalhão de Operações Especiais) participaram de uma primeira rodada de negociações das 17h às 22h30 de segunda. O diálogo foi retomado por volta das 7h desta terça. A falta de uma pauta com reivindicações claras dificultou o início do diálogo.

Segundo o sindicato, esta é a 21ª rebelião no sistema penitenciário do Paraná desde dezembro de 2013. "Com esta rebelião, temos um sentimento de mais revolta. Há três semanas, aprovamos greve em assembleia sem uma proposta salarial na pauta. Estamos com medo de trabalhar. A situação é caótica", afirma Petruska, que ainda conta que a greve foi impedida por uma liminar da Justiça.

A Seju contabiliza cinco rebeliões e 16 motins e diz contar com o apoio de investigações da Polícia Civil e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) do Ministério Público para entender o que tem motivado as revoltas e tentar antecipar novas ações em outras unidades do sistema penitenciário do Paraná.

Reincidentes

Há a informação de que a rebelião no presídio teria sido orquestrada por um grupo de presos que havia sido transferido recentemente da Penitenciária Estadual de Cascavel e do Complexo Penitenciário de Piraquara, na Grande Curitiba, para a unidade de Guarapuava.

De acordo com a secretaria, embora essa ainda não seja uma informação oficial, caso seja confirmada, os presos reincidentes serão transferidos para o regime de segurança máxima federal. Esta é a primeira rebelião desde que a penitenciária foi inaugurada, em 1999. (Com Jorge Olavo, em Curitiba, e Agência Brasil)