Eleitores vão às urnas, e Reino Unido pode ter novo premiê; o que esperar?
Os eleitores vão às urnas nesta quinta-feira (4) para escolher os 650 membros do Parlamento e, consequentemente, o primeiro-ministro do Reino Unido. A expectativa é de que o atual premiê, Rishi Sunak, seja derrotado — por uma ampla margem — pelo trabalhista Keir Starmer, fazendo com que os Conservadores deixem o poder após 14 anos.
O que está em jogo
Economia britânica vem patinando desde o Brexit, em 2016. O principal argumento dos Conservadores era de que, com o Brexit, o Reino Unido estaria livre das "amarras" da UE e poderia fechar acordos comerciais com outros países. Na prática, aconteceu o contrário: os custos de vida e dos negócios subiram, a burocracia aumentou e a parte da mão de obra estrangeira deixou o país. Em 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) britânico cresceu 1,6%, de acordo com dados oficiais; em 2023, a expansão foi de 0,1%.
Estado crítico dos serviços é visto como herança conservadora. Os trabalhadores perderam o poder de compra, as listas de espera do NHS — equivalente ao SUS brasileiro — estão ficando mais longas e há cada vez mais vagas não preenchidas. Desde 2022, houve uma greve atrás da outra em todos os setores do Reino Unido, sem nenhum resultado satisfatório para os sindicatos. Não à toa, segundo a RFI, os eleitores veem a saúde e a educação como as questões mais importantes dessas eleições gerais.
Convocação das eleições foi 'desespero', diz professor. Klaus Guimarães Dalgaard, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), lembrou que os próprios Conservadores tinham como certa a realização das eleições no outono no Hemisfério Norte — isto é, entre setembro e novembro —, na expectativa de que Sunak teria números melhores para apresentar à população. Como o prognóstico é ruim, o anúncio foi antecipado para maio. "É a única chance de ele sobreviver", avaliou ao UOL.
Principais candidatos
Rishi Sunak, de 44 anos, assumiu o cargo no final de 2022. Ex-ministro de Finanças de Boris Johnson, Sunak foi o político mais jovem a liderar o governo desde 1812. De origem indiana, nasceu em Southampton, no sul da Inglaterra, casou-se com a herdeira de um bilionário indiano e é mais rico que o rei Charles 3º. Virou primeiro-ministro após a gestão desastrosa de Liz Truss, mas não conseguiu dar um novo impulso aos Conservadores, afetados principalmente pelas consequências do Brexit para a economia britânica, a covid-19 e o aumento do custo de vida.
Keir Starmer, 61, foi procurador-geral da Inglaterra e do País de Gales. Filho de um operário e uma enfermeira, entrou tarde na política: foi eleito deputado apenas em 2015 e substituiu Jeremy Corbyn à frente dos Trabalhistas em 2020. Desde então, tem insistido em aproximar o partido das posições de centro e abandonado algumas promessas ambientais. Durante a campanha, Starmer definiu seis prioridades: estabilidade econômica, redução da espera no NHS, reforço da polícia, nova política energética, abertura de cargos para professores e criação de um centro de comando para a segurança das fronteiras.
Pesquisas mostram ampla vantagem dos Trabalhistas. Um levantamento feito pela emissora britânica BBC coloca o Partido Trabalhista com 39% das intenções de voto, contra 21% do Partido Conservador, segundo dados compilados até 3 de julho. Hoje, a maior parte dos analistas vê como muito improvável uma vitória de Sunak sobre Starmer. "Se tivesse uma virada, seria histórica, mesmo", disse ao UOL Kai Enno Lehmann, professor do IRI-USP (Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo).
Não consigo imaginar um cenário onde o Partido Conservador vai sair com uma maioria desta eleição. (...) Alguns deputados anunciaram [ao longo da campanha] que não vão se candidatar novamente. Isso, na prática, significa que muitos não acreditam que o partido pode ganhar.
Kai Enno Lehmann, do IRI-USP
Sistema de votação
No Reino Unido, é adotado o sistema de voto distrital. Os eleitores não escolhem seu primeiro-ministro diretamente, mas sim os 650 membros do Parlamento que vão representar os distritos onde moram. Esses parlamentares compõem a chamada Câmara dos Comuns (ou House of Commons), equivalente à Câmara dos Deputados brasileira. O líder do partido que tiver a maioria do Parlamento receberá uma autorização formal do rei Charles 3º para assumir o cargo de primeiro-ministro e formar um governo.
Sistema favorece amplamente Trabalhistas e Conservadores. Desde 1922, todos os primeiros-ministros vieram de um ou de outro. Mas os partidos menores podem ganhar alguma influência nesta eleição: os Liberais Democratas (LibDems, de centro-direita), por exemplo, "podem ganhar 40 ou até 50 cadeiras", disse à RFI Justin Fisher, professor de Ciências Políticas da Universidade de Brunel, na Inglaterra. "Uma grande vitória, já que na última eleição eles tinham apenas 12 parlamentares".
(Com AFP e RFI)
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