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Fora da Olimpíada, obra na zona portuária do Rio está parada há oito meses

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

11/02/2015 06h00

Nos últimos anos, a zona portuária do Rio de Janeiro foi transformada em um imenso canteiro de obras, e mudanças urbanísticas como a queda do Elevado da Perimetral, a construção do MAR (Museu de Arte do Rio) e do Museu do Amanhã e a implementação do sistema VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) saíram ou estão saindo do papel.

Há várias intervenções em andamento, mas aquele que seria o único projeto residencial do Porto Maravilha não emplacou. As obras do Porto Vida Residencial estão paradas há oito meses e sem previsão de retorno, informou ao UOL o grupo Porto 2016 Empreendimentos Imobiliários, formado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia.

Até o primeiro semestre do ano passado, quando o empreendimento privado ainda estava na rota de instalações dos Jogos Olímpicos de 2016, a Prefeitura do Rio propagava com frequência a ideia de que o Porto Vida representaria a "reocupação da zona portuária", um modelo a ser seguido para revitalizar a região de modo que não existissem apenas prédios comerciais. Era o "Porto Olímpico".

Porém, mais de um ano depois, o que se vê no local são apenas blocos de concreto. O trabalho foi interrompido no primeiro semestre do ano passado, com apenas 25% das obras concluídas. O que antes era objeto de propaganda, hoje é assunto sobre o qual a prefeitura não deseja comentar. Procurada pela reportagem do UOL, a assessoria do governo municipal informou que qualquer demanda sobre o Porto Vida Residencial deveria ser encaminhada para a assessoria do grupo de empreiteiras.

Na ocasião em que o projeto foi lançado, há dois anos, havia um discurso diferente. "Meu compromisso é o de garantir que a área seja ocupada com residenciais para todas as classes econômicas. O Porto Vida representa a reocupação da região portuária, lugar estratégico próximo ao centro, onde a população poderá morar perto do trabalho", afirmou o prefeito Eduardo Paes (PMDB) durante o evento de lançamento do empreendimento, em setembro de 2013.

Um acordo entre o governo municipal e as empreiteiras determinava que servidores do município teriam prioridade na compra de 75% dos apartamentos. Um cadastro foi realizado e quase 11 mil servidores demonstraram interesse, dos quais 180 assinaram um termo de reserva de aquisição de imóvel. Com a mudança de cronograma provocada pela transferência das instalações olímpicas, a prioridade para servidores só vai ser mantida caso seja de interesse das empreiteiras.

"Isso não chega a ser problema porque, na fase de arranque da obra, nós criamos uma gordura. Como ali não vai ter mais a Vila de Mídia e a Vila de Árbitros da Olimpíada, decidiu-se por fazer um remanejamento do produto imobiliário que vinha se concebendo", disse o gerente nacional de Fundos Imobiliários da Caixa Econômica Federal, Vitor Hugo Pinto. Segundo ele, o empreendimento deve ser entregue em 2017.

O banco estatal investiu cerca de R$ 100 milhões no Porto Vida Residencial, cujo orçamento está avaliado em aproximadamente R$ 500 milhões.

Em nota, o grupo Porto 2016 Empreendimentos Imobiliários informou apenas que "o projeto e o cronograma de obras do Porto 2016 estão sendo readequados”.

Já a Cdurp (Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio) informou que a participação da Prefeitura do Rio "se limitou à proposta de trazer a Vila de Mídia e de Árbitros para o Porto Maravilha a fim de conferir visibilidade à nova área para investimentos imobiliários na cidade". Na avaliação do órgão, "a estratégia surtiu efeito".

"A previsão de entrega do Porto Olímpico era abril de 2016 para atender aos Jogos Olímpicos, mas a mudança do projeto para a zona oeste permitiu que os empreendedores, que já iniciaram as obras, refizessem seus planos de lançamento", informou a Cdurp, em nota.

Empreendimentos aguardam aprovação

Dos 65 projetos imobiliários aprovados na zona portuária do Rio, apenas o do Porto Vida Residencial é particular. Nos quase cinco anos do programa Porto Maravilha, houve uma grande dificuldade para atrair empreendimentos para a região, principalmente em função do "momento de retração do mercado", na avaliação de Vitor Hugo Pinto.

"O mercado imobiliário não vive o seu momento mais glorioso. Os ciclos são mais longos e os projetos demoram mais para sair do papel. Além disso, muitos investidores tiram um pouco o pé à espera de que o poder público mostre para o cidadão que o Porto Maravilha vai ser tudo aquilo que a gente planejou para o Porto", explicou.

"É uma pausa estratégica, aguarda-se o amadurecimento da infraestrutura urbana para se ter a certeza de que vale a pena investir naquela região", completou Pinto.

Os outros 64 projetos são de construções de caráter social da SMH (Secretaria Municipal de Habitação), dos quais 39 são condomínios financiados pelo programa Minha Casa, Minha Vida.

Em fase de aprovação, estão dois grandes empreendimentos particulares, cada um com 720 apartamentos, de acordo com a Secretaria Municipal de Urbanismo.

Na opinião do presidente do IAB-RJ (Instituto de Arquitetos do Brasil no Rio de Janeiro), Pedro da Luz Moreira, a dificuldade para atrair projetos residenciais para a região do Porto pode criar um novo centro financeiro da cidade, porém praticamente inabitado, como já ocorre com o centro da cidade.

"Há uma tendência de expansão da área do centro, onde se viabiliza apenas empreendimentos comerciais para sedes de grandes corporações. (...) É importante fazer uma mistura de usos, mesclar o comercial com o residencial, para não criar um novo centro financeiro que, aos fins de semana, torna-se um lugar desértico. Isso é uma coisa que a gente vem alertando há algum tempo", disse.

Transferência de instalações olímpicas

Localizado nos arredores da Rodoviária Novo Rio, o Porto Vida Residencial seria entregue em 2016 e teria 90% de seus apartamentos alugados para os Jogos Olímpicos, de acordo com o planejamento inicial da prefeitura aprovado pelo COI (Comitê Olímpico Internacional).

Ao fim do evento, os imóveis seriam reformados pela prefeitura e, até o começo de 2017, entregues aos novos moradores.

Os ventos começaram a rumar para outra direção no ano passado, quando o prefeito Eduardo Paes sugeriu que as duas vilas fossem transferidas para Curicica, na zona oeste. O martelo foi batido pelo governo após alguns meses de indefinição.