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PM do Paraná não planejou ações e usou mal armas não letais; entenda

Do UOL, em São Paulo

30/04/2015 19h22

Especialistas em segurança pública apontaram várias falhas na ação da Polícia Militar do Paraná que deixou pelo menos 160 feridos em frente à Assembleia Legislativa do Estado, em Curitiba, na quarta-feira (29).

O governo paranaense conseguiu na Justiça a autorização para impedir manifestantes de acompanharem, na Assembleia Legislativa, a votação de um projeto que muda regras previdenciárias no Estado. Cerca de 2.000 policiais militares cercaram a sede do Legislativo.

Para o coronel José Vicente, professor do Centro de Altos Estudos da Polícia Militar de São Paulo e consultor de segurança pública, a localização do prédio da assembleia proporcionava certa “facilidade operacional” para a PM paranaense, “mas houve falha na preparação e na execução [da ação]”. "As tropas foram levadas de qualquer jeito."

Vicente afirmou nunca ter visto número tão grande de feridos em operações como esta. “Não adianta ter grande quantidade e ter pessoas que não têm experiência. Não tinha homogeneidade de comando”, disse. “Muita coisa errada aconteceu. Não foi um planejamento detalhado e cuidadoso."

Parte do efetivo que participou da operação pertence ao Bope (Batalhão de Operações Especiais), tropa de elite da corporação, ou seja, a mais treinada para esse tipo de atuação. Essa tropa ficou na retaguarda, mais próxima ao prédio da Assembleia.

Na opinião do consultor, o Bope agiu de forma incorreta. “Estranhei a tropa de choque indo em direção à multidão. Raramente se usa esse tipo de expediente. Essa tropa tinha que ser mais passiva do que ativa."

Policiais de outros batalhões fizeram as barreiras mais à frente. Segundo Vicente, são policiais menos habituados a trabalhar em protestos por não terem o mesmo nível de treinamento e não suportarem provocações por muito tempo.

Vicente também afirmou que houve falha na organização do serviço de atendimento aos feridos e que o uso de cães nesse tipo de operação é despropositado. Um deles atacou um cinegrafista da "Band"

“Faz mais de dez anos que não se usa cães nesse tipo de operação em São Paulo. O cão pode se estressar e ficar incontrolável." 

Diálogo e armas

Na opinião de Algacir Mikaloviski, professor e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná, era necessário negociar mais com os manifestantes. “A situação poderia ter sido controlada se houvesse mais diálogo e negociação, como acontece em casos de sequestro”.

Para o professor, que também é delegado da Polícia Federal, é preciso investigar a forma como os policiais usaram bombas de ar lacrimogênio e armas com balas de borracha.

“O caso determinava, pela gravidade a que chegou, o emprego dessas armas [não letais]. O que se contesta é a forma do emprego. Nunca se dispara no rosto. A distância mínima [para atirar] é de dez metros e tem que mirar da cintura para baixo. A bala de borracha pode cegar uma pessoa."

Governo aprova PM

A Polícia Militar rebateu a crítica sobre o “uso desproporcional” da força na ação que impediu a entrada de manifestantes na Assembleia Legislativa do Paraná.

O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), defendeu a ação da PM e a atribuiu a violência à ação de black blocks.