Acusado por estupro, homem é linchado na periferia de Natal
Um homem de 38 anos foi linchado ao ser acusado de estuprar uma adolescente de 13 anos, no bairro Felipe Camarão, zona Oeste de Natal, na noite dessa quarta-feira (2). O servente de pedreiro Aldecir Bezerra da Silva, 38, foi espancado até a morte com pedaços de madeira, pedras e até um fogão. O linchamento ocorreu na Travessa do Alicate.
Porém, apesar da acusação de moradores, a Polícia Civil do Rio Grande do Norte informou que até a noite desta quinta-feira (3) nenhuma vítima de estupro registrou boletim de ocorrência e que não houve nenhum caso recente de estupro no bairro. A Polícia Militar, que foi chamada logo depois do linchamento, também não registrou nenhuma ocorrência de estupro.
O linchamento foi registrado na Dehom (Delegacia Especializada em Homicídios) e, segundo o delegado Roberto Andrade, a suposta vítima não foi sequer identificada. Andrade disse que a polícia não descarta a possibilidade de Silva ter sido assassinado por engano.
“Investigadores estiveram na área do crime, ouviram moradores, mas ninguém conhece a suposta adolescente que teria sido estuprada. Também ainda não conseguimos identificar nenhum dos agressores”, disse o delegado.
Andrade disse que, caso tenha ocorrido o estupro, a família da vítima tem de comparecer à delegacia para registrar o crime. “Condenamos qualquer tipo de violência dessa forma porque não há pena de morte no Brasil. A população não pode aplicá-la, por mais revolta que tenha gerado o crime."
Silva estava a caminho do supermercado para fazer as compras quando foi morto. A mulher do servente de pedreiro, Isabel Cristina do Nascimento, com quem era casado havia seis anos, afirmou que ele era inocente e teria sido confundido com outra pessoa. “Meu marido era uma pessoa de bem, não bebida e nunca usou drogas. Também não se envolvia em brigas, vivia de casa para o trabalho. Acredito que tenham confundido com outra pessoa."
O casal tem um filho de um ano e seis meses, mas Silva ainda ainda tinha outros quatro filhos do primeiro casamento. O irmão de Silva, Aldeir Bezerra da Silva, destacou que o irmão não tinha passagem pela polícia e sempre foi dedicado à família.
“Ele foi assassinado por engano, era um homem trabalhador. As pessoas que o mataram levaram até o dinheiro das compras que ele ia fazer para passar o mês”, contou Aldeir.
A Degepol (Delegacia Geral de Polícia Civil do RN) informou que não houve registro de estupros na Delegacia de Atendimento à Mulher nos últimos dias. A reportagem do UOL fez uma busca no sistema do TJ-RN (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte) e não encontrou ocorrências com o nome de Silva, assim como no sistema da polícia, o Infoseg.
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