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Estas mães perderam filhos em chacinas em 2015. O que elas mudariam na PM?

Raimunda - mãe chacina Pavilhão Nove - Marcela Sevilla/UOL - Marcela Sevilla/UOL
Imagem: Marcela Sevilla/UOL

Marcela Sevilla

Do UOL, em São Paulo

04/03/2016 06h00

Em 2015, elas tiveram que enterrar os corpos dos filhos. Jovens, eles foram assassinados por policiais militares. Morreram em chacinas cometidas por agentes de segurança pública em São Paulo.

Mães de vítimas de uma violência policial que assusta cada vez mais, elas aceitaram conversar com a reportagem do UOL para falar sobre o luto, a luta por justiça e a revolta com a atuação das PMs no país.

Maria José de Lima Silva, chacinas de Osasco e Barueri

Maria José - chacina de Osasco e Barueri - Marcela Sevilla/UOL - Marcela Sevilla/UOL
Imagem: Marcela Sevilla/UOL

No dia 13 de agosto de 2015, a empregada doméstica Maria José de Lima Silva, 49, estava em sua casa quando o filho, Rodrigo Lima da Silva, 16, entrou pedindo dinheiro para tomar sorvete. Rodrigo iria visitar sua namorada (na época grávida). Na volta, pararia na sorveteria do bairro e, então, seguiria novamente para a casa de sua mãe, mas este percurso não foi concluído. Rodrigo foi um dos 23 mortos em uma série de ataques nas regiões de Osasco e Barueri naquele dia.

“Me falaram que a chacina aconteceu por conta de um policial que tinha sido morto em um posto de gasolina, mas os inocentes não têm nada a ver com isso”, conta Maria José. Ela afirma que antes de ser assassinado, seu filho era abordado pela polícia com frequência. “Cada vez que ele vinha para cá, ele chegava machucado... As pessoas me falavam que a polícia sempre batia nele. Uma vez, o derrubaram da bicicleta com um carro”.

Hoje em dia, a empregada doméstica diz entrar em pânico quando se depara com um policial. Ela ainda tem receio de sair de casa sozinha e chegou a perder o emprego desde que seu filho foi assassinado. “Eu só continuo vivendo porque tenho meus outros cinco filhos, minha nora e minha neta Lara Sophia, filha do Rodrigo. Espero que essa criança tire um pouco da minha tristeza e da minha dor”.

Ivani Lira Santos, chacina de Mogi das Cruzes

Ivani - mãe chacina Mogi - Marcela Sevilla/UOL - Marcela Sevilla/UOL
Imagem: Marcela Sevilla/UOL

A vendedora Ivani Lira Santos, 42, também diz não se sentir segura perto de agentes da Polícia Militar. “Eu fico com mais medo perto da polícia do que dos bandidos. Cresci em locais com pessoas que faziam coisas erradas, mas elas não mexiam com os moradores de lá. Hoje, se você olha para um policial, ele até encara e pergunta ‘o que foi?’”, conta.

Em 24 de janeiro de 2015, Ivani perdeu o filho Breno Santos Vale, 14, em uma chacina na região de Mogi das Cruzes. “Meu filho estava deitado no sofá mexendo no celular quando eu fui tomar banho. De repente, ouvi barulho de tiros... Quando saí do banheiro, ele já não estava mais dentro de casa. Aí que me dei conta que ele tinha ido até o portão e foi atingido pelos tiros”.

Josiana dos Santtos, chacina de Mogi das Cruzes

Josiana - mãe chacina Mogi - Marcela Sevilla/UOL - Marcela Sevilla/UOL
Imagem: Marcela Sevilla/UOL

Josiana dos Santtos, 45, também perdeu o filho, Ivan Marcos dos Santtos Souza, 18, na mesma série de ataques. “Até então, eu achava que a polícia era a melhor opção para defender a população. Mas, depois do caso do meu filho e de muitos outros que eu acompanho, me parece que a própria polícia está causando tudo isso, então acho que a PM deveria acabar”, explica Josiana, hoje membro do grupo Mães Mogianas, que reúne mães de vítimas de chacinas na região de Mogi das Cruzes.

Raimunda Mileni do Prado, chacina da Pavilhão Nove

A autônoma Raimunda Mileni do Prado, 66, também se juntou a um grupo de mães de vítimas da chacina na qual seu filho, Ricardo Júnior Leonel do Prado, 35, foi morto. O ataque foi à sede da Pavilhão Nove, zona norte de São Paulo, em 9 de abril de 2015. “Fora a chacina da Pavilhão, já aconteceram umas três ou quatro e você vê todas as mães chorando... Perder um filho assim, assassinado, é muito difícil”, desabafa Raimunda.