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Reverendo orientou Matsunaga a trancar armário com armas, diz irmão em júri

Mauro Matsunaga afirmou que o irmão (d) dava a Elize uma "vida de princesa" - Reprodução/Band
Mauro Matsunaga afirmou que o irmão (d) dava a Elize uma "vida de princesa" Imagem: Reprodução/Band

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

29/11/2016 20h08

O reverendo da igreja que realizou o casamento de Elize Matsunaga e Marcos Kitano Matsunaga orientou o empresário a manter trancada a porta de um bunker com armas que ele mantinha dentro de casa e a destruir a chave, na sequência, caso quisesse se proteger da própria mulher. Elize é julgada pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e destruição e ocultação de cadáver praticados na residência do casal, na Vila Leopoldina (zona oeste de São Paulo), em maio de 2012, contra o marido. Antes de ter o corpo seccionado e ocultado em pontos da Grande São Paulo, ele tomou um tiro na região da têmpora.

A informação sobre o religioso foi divulgada no júri de Elize no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, pelo irmão do empresário, Mauro Kitano Matsunaga. Ele depôs nesta terça-feira (29) no julgamento como testemunha de acusação e pediu que a ex-cunhada não permanecesse no plenário enquanto ele depunha. A vítima era o irmão único da testemunha, que se emocionou ao falar sobre o reconhecimento, à época, das partes do corpo –que ficou a cargo dele -- e também ao mencionar o fato de ter, hoje, dois filhos. “Peço para um cuidar muito bem do outro, porque um irmão faz muita falta”, disse.

Sobre o reverendo, a testemunha relatou que o irmão era mais apegado à mãe, a quem teria contado sobre as orientações do reverendo, que atuou, também, como terapeuta do casal. “Ele [o religioso] pediu ao Marcos que tomasse cuidado com a Elize e o orientou a trancar a porta do bunker e quebrar a chave”, disse.

Mais cedo, o delegado que indicou Elize em junho de 2012, Mauro Gomes Dias, falou que, em depoimento à polícia, o reverendo teria confirmado as informações –alegando que Elize estava “psiquicamente abalada” por desconfiar de traições do marido.

Segundo o irmão da vítima, a família Matsunaga não desconfiou de Elize quando Marcos desapareceu –ela havia dito que ele saiu de casa. Dias depois, ela mostraria a eles o vídeo com a traição do marido com uma mulher, material repassado a ela por um detetive que Elize havia contratado.

“Ele gastava mais com ela do que com ele”, afirmou o irmão da vítima, que completou: “Ele endeusava a Elize”, definiu, classificando ainda o empresário como “um pai babão” da filha que, quando o crime foi praticado, tinha em torno de um ano de idade.

Antes de Mauro Matsunaga depor, nas mais de cinco horas em que foi ouvido, o delegado Mauro Gomes Dias afirmou que o clima entre o casal “estava péssimo” antes do crime, uma vez que Elize desconfiava de relações extraconjugais do marido e teria confirmado ao menos uma delas por meio do detetive. O policial ainda disse que, segundo depoimento de Elize e de funcionárias do casal à polícia, Matsunaga “humilhava bastante” a mulher com xingamentos contra ela e o sogro, a quem chamaria de “vagabundo”.

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Após o depoimento do irmão da vítima, o advogado da família Matsunaga e assistente da acusação, Luiz Flávio D’Urso, afirmou que os dois depoimentos, do irmão e do delegado, teriam reforçado a tese de que a jovem praticou os crimes sem chance de defesa, com um tiro a queima roupa, e por motivo torpe –já que o empresário “a tratava como uma princesa”.

Indagado se os xingamentos e a traição relatados por Elize e pelas testemunhas são condizentes com a “vida de princesa” relatada pela acusação, D’Urso minimizou: “O que importa é que eles tinham um convívio. Ele estava apenas reprisando uma situação que ele já tinha vivido com Elize –e ele se apaixonou por Elize”, concluiu, referindo-se ao fato de o empresário ter conhecido a futura cônjuge em um site de relacionamentos. A mulher com quem ele a estava traindo, descoberta pelo detetive, trabalhava pela mesma empresa e disse à polícia ter recebido R$ 27 mil mensais e uma Pajero blindada de Matsunaga para que o atendesse com exclusividade. “Querem pintar o Marcos como um devasso, um beberrão, violento, mas nada disso procede”, refutou D’Urso.

O julgamento acontece desde ontem e tem precisão de durar cinco dias. Nesta quarta-feira (30), são previstos os depoimentos de peritos e médicos legistas que aturaram nas investigações.