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Lula comparece a velório e diz que dom Paulo foi esquecido pelo Nobel da Paz

Com o padre Júlio Lancelotti(d), Lula comparece ao velório de dom Paulo Evaristo Arns - Alex Silva/Estadão Conteúdo
Com o padre Júlio Lancelotti(d), Lula comparece ao velório de dom Paulo Evaristo Arns Imagem: Alex Silva/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

15/12/2016 21h04

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (15), em São Paulo, que dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito da cidade, foi esquecido e injustiçado por não ter ganhado o Prêmio Nobel da Paz. Lula compareceu ao velório de dom Paulo, realizado na Catedral da Sé, nesta noite.

"Eu acho que morre a pessoa mais injustiçada por aqueles que escolhem o Prêmio Nobel da Paz. Dom Paulo, nos anos 70 e no começo dos anos 80, mais do que ninguém, merecia, por tudo que fez na luta pela democracia, na luta contra o regime militar, ser premiado. E não foi, foi esquecido. E eu acho que essa é uma injustiça que cometeram com uma das figuras mais brilhantes que esse país produziu", disse em áudio divulgado por sua assessoria de imprensa.

O Prêmio Nobel da Paz é concedido anualmente desde 1901 pelo Comitê Norueguês do Nobel, formado por cinco pessoas indicadas pelo Parlamento da Noruega. Segundo informações disponíveis no site da premiação, o prêmio deve ser concedido a quem fez "o máximo ou o melhor trabalho pela fraternidade entre nações, pela abolição ou redução de exércitos e pela manutenção e promoção da paz".

'Coragem de denunciar' crimes da ditadura

Lula disse que a dedicação de Dom Paulo aos pobres, a São Paulo e ao Brasil "vai continuar para sempre". O ex-presidente também lembrou a atuação do arcebispo durante a ditadura militar.

"Ele teve a coragem de se pronunciar, ele teve a coragem de receber gente que ninguém queria receber, ele teve a coragem de denunciar o que ninguém tinha coragem de denunciar. Quando a imprensa estava calada, quando a imprensa estava de acordo com o regime militar, tinha uma voz que gritava ao mundo: era D. Paulo."

Dom Paulo visitou Lula na prisão durante o regime militar. Foi numa sala da repressão que conheceu o futuro presidente, detido após as greves dos metalúrgicos do ABC, em 1980.

Segundo a assessoria de imprensa do Instituto Lula, o ex-presidente chegou à Catedral da Sé por volta das 19h30 e deixou o local cerca de 20 minutos depois. Ele estava acompanhado do vereador Antonio Donato (PT-SP) e do ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi. Lula ainda conversou por alguns minutos com o padre Júlio Lancellotti.

Dom Paulo Evaristo Arns morreu em São Paulo nesta quarta (14), aos 95 anos. Ele estava internado no Hospital Santa Catarina desde 28 de novembro com um quadro de broncopneumonia e, nos últimos dias, apresentou piora do sistema renal. Tornou-se arcebispo de São Paulo em 1970, quando o país vivia o auge da repressão da ditadura militar. O sepultamento do corpo de dom Paulo está marcado para as 14h desta sexta (14), na Catedral da Sé.