Testemunha afirma que viu a mãe esfaquear o filho em Cravinhos (SP)
A Polícia Civil de Cravinhos, no interior de São Paulo, localizou neste final de semana uma pessoa que testemunhou a morte do jovem Itaberli Lozano, 17. Ela, que é menor de idade e não teve a identidade revelada, afirmou, em depoimento, que foi a mãe do adolescente, Tatiana Lozano Pereira, 32, a autora das facadas que o mataram.
Segundo o delegado Helton Tosti Renz, responsável pela investigação, a menor estava no carro com Miller da Silva Barissa, 18, e Victor Roberto da Silva, 19, presos na noite da sexta-feira (13) após admitirem o crime e contarem que foram procurados pela mãe da vítima para "dar um corretivo" no filho.
Com eles, ela foi até a casa da avó paterna de Itaberli para levar o jovem até a casa da mãe dele, onde o crime aconteceu.
No depoimento, a menor contou que entrou na casa quando ouviu os gritos de socorro de Itaberli e viu Tatiana desferindo a última das três facadas que mataram o adolescente. A facada, segundo ela, atingiu o pescoço de Itaberli e ele ainda estava vivo. Ela nega, no entanto, participação no espancamento, que foi praticado momentos antes pelos outros dois homens.
"Ele chegou a conversar com a mãe e dizer que ia morrer", contou o delegado, citando o depoimento.
"Essa testemunha estava no local do crime e entrou na casa. Temos imagens de segurança que mostram que ela estava com os dois rapazes que prendemos e que efetivamente entrou na casa, o que nos leva a crer que o testemunho dela seja fundamental para elucidar a questão", disse o Renz.
A testemunha informou ainda que o padrasto de Itaberly, Alex Pereira, 30, estava acordado no momento do assassinato e que tinha ciência do que estava acontecendo. "Ela colocou o padrasto na cena do crime e, com o depoimento dela, cai por terra a versão dada pela mãe de que o padrasto estava dormindo e não sabia de nada”, disse.
A menor também deve ser incriminada, já que teria, segundo a polícia, participado da emboscada encomendada por Tatiana. Há um pedido de prisão para ela, mas, por falta de vagas na Fundação Casa, ela apenas prestou depoimento.
Entenda o caso
O caso ganhou repercussão depois que Dario Rosa, tio da vítima, levantou a hipótese de que o homicídio tivesse relação com o fato de Itaberli ser gay, já que a mãe não aceitava a orientação sexual do filho.
Mas o delegado descartou homofobia. "Os dois [mãe e filho] tinham um histórico de conflito, mas a homossexualidade dele aparentemente não era a motivação", disse.
Itaberli foi morto no dia 29 de dezembro, mas seu corpo só foi encontrado, carbonizado, em 7 de janeiro em um canavial da cidade. A mãe dele e o padrasto, Alex Pereira, 30, teriam levado o corpo até o local e ateado fogo na área.
Tatiana, que num primeiro momento assumiu autoria do crime, posteriormente disse que Miller e Victor eram os responsáveis pela morte do adolescente, mas para o delegado estava claro que ela tinha premeditado o crime.
No primeiro depoimento, em 11 de janeiro, Tatiana disse que matou Itaberli porque ele havia feito ameaças a ela, ao marido e ao filho do casal, de quatro anos. Ela e o filho mais velho haviam tido uma briga pouco depois do Natal e ele então tinha ido morar com a avó paterna.
No dia seguinte, no entanto, a mãe afirmou que o filho foi morto por dois jovens, que teriam invadido a casa e agredido Itaberli. Ela disse ter ficado do lado de fora da casa enquanto o filho era espancado e que só entrou no local após o jovem ter sido morto a facadas.
Miller e Victor, por sua vez, contaram que a mãe ligou para Itaberli no dia 29 e simulou ter feito as pazes. Depois, a dupla foi até a casa da avó para buscar Itaberli e levá-lo para a casa da mãe. Quando entraram na garagem, emboscaram o jovem e começam a espancá-lo.
Segundo Renz, a mãe teria resolvido matá-lo neste momento. "Os dois afirmaram que apenas bateram no Itaberli e que a mãe, em determinado momento, pediu que eles o matassem. Após negarem, ela mesma pegou uma faca e golpeou o filho", disse o delegado.
Alex também está preso no Cadeia Pública de Santa Rosa do Viterbo, já a mãe está em cadeia de Cajuru (SP).
"Além de ter participado no assassinato do filho, os novos depoimentos também apontam que o crime foi premeditado e que o padrasto participou ativamente da ação, ao contrário do que a Tatiana disse antes. E há a questão da associação criminosa, já que quatro pessoas teriam participado”, relatou o delegado.
Ainda segundo o delegado, se for confirmada a participação dos jovens presos no crime, eles estarão sujeitos a uma pena que pode chegar aos 36 anos. Eles devem responder por homicídio duplamente qualificado e associação criminosa. Já o padrasto e a mãe podem responder também por associação criminosa e podem ser condenados a até 39 anos de cadeia.
A reportagem tentou falar com a defesa de Tatiana, mas o advogado Fabiano Ravagnini Junior, constituído por ela no início do processo, informou que renunciou ao caso, já que a cliente dele resolveu prestar um novo depoimento sem avisá-lo. A Polícia Civil não informou quem são os advogados envolvidos no caso.
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