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UPP foi "ousadia demais" e virou "preço caro" para o Rio, diz secretário de Segurança

Imagem mostra vidro destruído após ataque contra a UPP Nova Brasília, no Complexo do Alemão, em 2012. Durante a ação criminosa, uma policial militar foi atingida por um disparo de fuzil e morreu - Márcia Foletto/Agência O Globo
Imagem mostra vidro destruído após ataque contra a UPP Nova Brasília, no Complexo do Alemão, em 2012. Durante a ação criminosa, uma policial militar foi atingida por um disparo de fuzil e morreu Imagem: Márcia Foletto/Agência O Globo

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

04/05/2017 16h48

Nos últimos anos, mesmo com os sucessivos episódios de violência urbana e o recrudescimento do crime organizado nas favelas, o governo do Estado do Rio de Janeiro adotava discurso de que não havia "crise" nas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). O termo "pacificação", que foi repetido como um mantra publicitário na gestão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) --hoje preso e acusado de corrupção e lavagem de dinheiro--, ganhou sobrevida na eleição de Luiz Fernando Pezão (PMDB), ex-vice de Cabral. À época, durante campanha eleitoral, Pezão prometera, inclusive, instalar mais 50 UPPs em território fluminense.

Nesta quinta-feira (4), quase uma década após a instalação da primeira UPP na capital, o atual secretário de Estado de Segurança Pública, Roberto Sá, afirmou que o projeto de ocupação policial das comunidades foi uma iniciativa "ousada demais". A declaração foi dada a jornalistas após reunião com o secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, general Carlos Alberto Santos Cruz, para discutir o envio de tropas federais ao Estado.

"A UPP foi uma tentativa. Hoje nós percebemos ousada demais do governo estadual e com o instrumento que ele tinha de segurança pública local", declarou ele. "E talvez estejamos pagando um preço caro por ter tido essa tentativa de levar paz a todas as áreas, inclusive essas áreas mais carentes."

O secretário estadual mencionou o policiamento comunitário implementado em Medellín, na Colômbia, que serviu como fonte de inspiração para o modelo das UPPs. Para ele, há uma diferença básica que pontua eventuais sucessos e fracassos. "A experiência da Colômbia é governo federal, com todos os Poderes, todos os entes. Nós fomos ousados demais", repetiu ele.

No caso do Rio, o policiamento das UPPs é feito apenas pela Polícia Militar, um órgão do Estado.

Sá disse ainda que uma comissão formada por PMs está traçando um diagnóstico completo da situação das UPPs e que "todas as alternativas são possíveis". "A diretriz é policiamento comunitário, preservar direitos. Só que o crime organizado no Brasil e no Rio perde com isso. Vai tentar o tempo todo desestimular o governo e as forças públicas a estarem presentes onde ele perde o seu lucro."

"É uma escolha difícil, mas a gente tem que preservar vidas", finalizou.

O secretário também voltou a propor mudanças legislativas no campo penal. Para ele, a redução do comércio e do tráfico de armas, principalmente as de grosso calibre, passa por um endurecimento das penas previstas em lei. "Precisamos de uma legislação que diga ao criminoso que não compensa cometer crimes", destacou.

Ele citou os mais de 30 fuzis apreendidos em operação policial na Cidade Alta, onde uma guerra de facção desencadeou a queima de nove ônibus e dois caminhões em importantes vias do Rio na última terça-feira (2), e argumentou que a pena de três a seis anos para a posse desse armamento não é satisfatória. "Tem que pagar caro por isso."