Líder de ocupação em palco de massacre de sem-terra no PA é assassinado
Pouco mais de 40 dias após o massacre que vitimou 10 trabalhadores rurais em ação da polícia, na Fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D'Arco (PA), um líder camponês do acampamento palco da chacina foi assassinado a tiros na noite dessa sexta-feira (7). A informação é do advogado da CPT (Comissão Pastoral da Terra) na região, José Batista, e foi confirmada por entidades que apoiam o acampamento.
Segundo a ONG (organização não governamental) Justiça Global, a vítima foi um trabalhador rural chamado Rosenildo, mas que era conhecido pelo apelido de "Negão". Ele foi morto com três tiros na cabeça por volta das 22h. O crime aconteceu na cidade Rio Maria, a 61 km de Pau D'Arco, para onde a vítima tinha fugido nessa sexta após suspeitar de movimentações estranhas.
"No dia anterior ele foi procurado no acampamento por pessoas estranhas, trafegando em um automóvel", afirma José Batista, que está acompanhando o caso.
O líder era integrante da Liga de Camponeses Pobres --entidade que assiste o acampamento. "Ele era uma das lideranças do acampamento e sabíamos que estava sendo ameaçado de morte. Ele tinha deixado o acampamento por essa razão, mas foi monitorado pelos criminosos", conta Batista.
Rosenildo integrava o grupo de trabalhadores rurais que decidiu novamente acampar na fazenda dias após o massacre para cobrar reforma agrária da área. Ele não estava no grupo de presentes no dia da ação policial que resultou em 10 mortes e dois feridos.
Ainda de acordo com a ONG Justiça Global, ele e outras três lideranças do acampamento estavam marcadas para morrer. Depois de receber a informação de que estava ameaçado, Rosenildo foi à cidade de Rio Maria, onde iria passar o fim de semana. Ele iria se reunir com a Liga dos Camponeses Pobres para definir medidas que iriam tomar de segurança.
Por conta do crime, organizações e movimentos de direitos humanos estão novamente se mobilizando para cobrar uma ação urgente do Estado para resolver o conflito agrário.
O massacre
O massacre que vitimou 10 sem-terra aconteceu no dia 24 de maio, quando policiais foram cumprir mandados judiciais no acampamento referentes à investigação do assassinato de um segurança da fazenda dias antes. Eles teriam sido acompanhados por seguranças da fazenda. Os policiais dizem que foram recebidos à bala e reagiram. O caso teve repercussão internacional e foi a maior chacina no campo desde Eldorado dos Carajás, também no Pará, em 1996.
Parte das terras da fazenda, de 5.694 hectares, foram ocupadas pelos trabalhadores em novembro de 2013, quando pediram a desapropriação.
As polícias Civil e Federal e o Ministério Público do Pará investigam o caso. Nesta semana foi realizada a reconstituição do caso.
Já se sabe que nenhum dos carros e coletes dos policiais envolvidos na ação teve marca de tiro, o que reforça a tese apresentada por testemunhas de que houve chacina. Todos os policiais envolvidos no caso estão afastados desde o dia 26 de maio.
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