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Reação de mãe de bebê baleado no útero foi do choque à esperança em 1º encontro com filho

Bebê baleado no útero e mãe - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Giovani Lettiere

Colaboração para o UOL, em Duque de Caxias

08/07/2017 04h00Atualizada em 08/07/2017 05h59

O primeiro encontro de Claudineia dos Santos Melo com seu filho recém-nascido, Arthur, baleado ainda no útero da mãe no dia 30 de junho, na Baixada Fluminense, foi marcado por uma montanha-russa de emoções --a operadora de caixa de supermercado foi do choque à esperança em questão de minutos. O primeiro contato com o bebê aconteceu seis dias após ela ser submetida a uma cesária de emergência, assim que Claudineia teve alta médica na última quinta-feira (6).

De cadeira de rodas, ela deixou o hospital onde estava internada, e foi direto para o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes. Na sexta-feira (7), em vídeo, Claudineia pediu, em vídeo enviado ao UOL, "orações para a recuperação" do filho e agradeceu pelas energias positivas.

Momentos antes de visitar pela primeira vez o bebê na UTI neonatal do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, o primo Walter de Melo contou a ela sobre a possibilidade de o filho ficar paraplégico em consequência da bala perdida que perfurou o corpo do bebê pela orelha direita, atingindo em seguida a clavícula, duas vértebras, o pulmão e saindo pelo tórax.

"Comecei contando a parte boa, da excelente recuperação dele, mas depois falei sobre a possível paraplegia. Claudineia ficou em choque, abalada mesmo, mas daí conversou com os médicos em seguida no hospital e eles a tranquilizaram e deram muita esperança a ela. Arthur vai andar", desabafou Walter em entrevista ao UOL.

Segundo o vigilante, a esperança na pronta recuperação do bebê é grande depois da bem-sucedida cirurgia na região da medula realizada terça-feira (4), e Claudineia está se agarrando a isso com todas suas forças.

"Arthur está com boas expectativas depois da operação e a mãe está em casa se recuperando também da bala perdida, está de repouso total e nem teve como visitar o filho na sexta-feira (7), mas deve vê-lo no fim de semana de novo. Apesar de querer muito ficar pertinho dele, ela foi desaconselhada pelos médicos", disse Walter.

Claudineia está ciente de que foi um milagre desde o início todos terem sobrevivido. A esperança dela é enorme.

Walter de Melo, primo de Claudineia

O primeiro encontro durou cerca de 1 hora na UTI neonatal. "Ela conseguiu tocar no filho, só não teve como pegar no colo, que ela queria muito. Ficou feliz de vê-lo pela primeira vez. Ela o achou a cara dela! Do pai só tem o sexo mesmo", disse o primo de Claudineia.

"Mas ela quer logo é colocar o filho no colo e dar muito carinho a ele, aquele sentimento que só a mãe pode dar mesmo. Está contando os minutos para isso", acrescentou.

Claudineia acredita que, em um mês, Arthur estará em casa ao lado dela. "Ela está trabalhando com essa esperança, de uma rápida recuperação para estar ao lado dele o mais rápido possível. Em 30 dias ele estará em casa com ela", diz Walter.

Arthur, o bebê guerreiro

Continua em estado grave o recém-nascido Arthur. Contudo, os médicos do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes manifestaram otimismo nesta sexta quanto à recuperação dos movimentos das pernas da criança após a realização de uma cirurgia nesta semana.

"Foi feita uma laminectomia, que é uma cirurgia para retirar as lâminas das vértebras. Fizemos uma descompressão da medula. Arhur teve a terceira e quarta vértebras explodidas pelo projétil, que entrou pelo crânio, dilacerou a orelha direita, atingiu as vértebras e saiu pelo tórax", informou Vinícius Mansur Zogbi, coordenador médico da neurocirurgia do hospital. "A chance de ele voltar a mexer as pernas continua igual", completou Vinicius.

Segundo Zogni, o disparo pegou o crânio de raspão e não provocou danos cerebrais. Sobre sequelas neurológicas, além da motora já identificada, "é precoce dizer. Tem que acompanhar a evolução do quadro", disse Eduardo de Macedo Soares, coordenador médico da UTI neonatal. A lesão na medula é pequena, sem repercussão, segundo os médicos.

A medula estava inchada por conta do edema, com isso, a cirurgia removeu lâminas (parte) do osso da vértebra para abrir espaço para a medula.

Soares informou ainda que o menino respira por conta própria, sem ajuda de aparelhos, e se alimenta por sonda, ainda sem previsão de ser amamentado pela mãe.

"Arthur está tendo uma evolução esperada e bem satisfatória no seu quadro de saúde. É um bebê forte. Nasceu em circunstâncias raras. Já é um campeão, um guerreiro."

Guerra do tráfico

O primo de Claudineia está hospedando provisoriamente a prima em sua casa, no bairro Lagunas, no centro de Duque de Caxias, longe da violência da guerra do tráfico que atinge a favela do Lixão, onde Claudineia mora com o marido, o conferente de supermercado Klebson da Silva, que também conseguiu ver o filho na quinta-feira e ficou muito emocionado.

"A situação lá no Lixão está muito complicada. Então, ela está passando um tempo comigo para se recuperar totalmente. Vai ficar na minha casa até estar boa", explicou Walter.

Moradores da favela do Lixão protestaram por conta da bala perdida que atingiu Claudineia e seu bebê no dia 30 de junho. Um ônibus chegou a ser queimado nas imediações da comunidade durante a manifestação, que pedia fim à guerra de traficantes na região.

"O clima lá, que já era tenso, está mais ainda depois do que aconteceu. Ninguém de fora entra na comunidade", contou ao UOL um morador da região que preferiu não se identificar.

O quartinho do menino está todo pronto e vai ficar à espera da alta médica dele do hospital. Ainda não há previsão de saída dele do Adão Pereira Nunes. "Já, já Arthur vai estar em casa", espera o vigilante.