Vingança dos motoboys: sabe o que acontece quando você demora para buscar a pizza?
Ao pedir pizza em casa, separe o dinheiro ou o cartão. Se puder, facilite o troco. Encontre também a chave do portão, para não deixar o entregador esperando. Porque, se a demora for grande --e eles garantem que isso acontece com frequência--, você pode sentir o gosto da vingança dos motoboys.
As práticas, expostas por eles mesmos em comunidades no Facebook, consistem em chacoalhar o refrigerante, trocar os tapetes dos vizinhos e, em casos de raiva extrema, tirar a comida do baú para que esfrie. Quanto mais o cliente demora, mais fria sua refeição fica.
“Além da diversão, essas comunidades são para desabafar. Também tem sempre alguém para ajudar quando a moto quebra ou não conhecemos algum endereço de entrega em outra cidade”, conta Allan Eloi, de Jundiaí (SP), que tem 30 anos e quatro de profissão. Na entrevista, ele falou não praticar essas vinganças, mas disse conhecer quem o faça.
Para Leonardo Requião Franco, 41 anos e 14 deles fazendo entregas, a zoeira faz parte da cultura dos motoboys, mas tem, sim, limites. Administrador do grupo “Motoboy’s e Entregadores”, o maior da categoria, com mais de 111 mil membros pelo país, ele conta já ter banido milhares de pessoas por causa das “brincadeiras”. “Se alguém chacoalhar o refrigerante, vai no máximo vazar um pouco. Dá para dizer que é uma vingança do motoboy. Mas mexer na comida ou deixar esfriar é vandalismo, é sacanagem”, afirmou o entregador de pizza que vive em Santos (SP).
O Sindimoto-SP (Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo) também condena as atitudes. Segundo a instituição, essas ações e publicações em redes sociais reforçam uma imagem negativa da qual a categoria vem tentando se desvencilhar (inclua aí a figura do motoqueiro que chuta espelhos de carro). Configura um “tiro no pé”, ainda segundo o sindicato, pois podem causar a demissão de quem faz as postagens.
Confira, a seguir, alguns desses posts e comentários.
Refrigerante sem gás, pizza fria
A principal reclamação dos motoboys é a demora dos clientes em pegar seus pedidos: às vezes até 20 minutos. Há também quem esqueça o dinheiro/cartão e volte para buscar, atrasando o pedido. Em um post que ficou famoso nas redes sociais, o suposto motoboy recomenda que, depois de pedir a pizza, o cliente não vá tomar banho, não vá à vizinha, não saia de casa.
O autor da postagem também ameaça “sacudir seu refri”, uma vingança recorrente, a julgar pelos comentários de muitos motoboys. Outra prática --esta mais condenada-- é abrir o baú ou tirar a comida dele durante o tempo de espera, para que esfrie.
“Saímos com várias entregas e, se uma atrasa, vai atrasando as outras. O curioso é que sempre as mesmas pessoas fazem as mesmas coisas. Depois de alguns meses trabalhando em um lugar, você já sabe quem vai demorar e quem vai fazer questão de centavos de troco”, exemplifica Franco. Para ele, o melhor cliente é aquele agilizado.
Cadê a caixinha?
Muitos motoboys reclamam da caixinha, que não vem ou é muito baixa (R$ 1). Mas sejamos justos: nas comunidades de Facebook, eles também divulgam quando a gorjeta é boa. Eloi reconhece a importância desse dinheiro extra, mas define como mais importante ser tratado com educação pelos clientes --o que nem sempre acontece. “É uma pessoa que está chegando na sua casa, prestando um serviço. Trate com educação: ‘bom dia, boa tarde, boa noite’. Às vezes a pessoa não fala nada, não agradece e ainda reclama”, conta Eloi.
Seu tapete foi trocado com sucesso
O seu tapete está na porta da vizinha e o dela, na sua. Se isso acontecer, desconfie do motoboy: a troca desses acessórios está entre as atividades do “dia da maldade”. Eloi e Franco dizem se tratar de uma brincadeira da categoria, algo que não afeta negativamente a vida de ninguém. “É uma brincadeira naquele dia que o cara está mais alegre”, explica.
Pizza da discórdia
Entre as fotos mais polêmicas nos grupos de Facebook estão aquelas que mostram pizzas desmontadas, que certamente enfrentaram muitos obstáculos até chegar ao destino. As postagens geralmente são feitas por clientes e até pelos próprios motoboys, quando pedem pizza. O grupo então se divide. Tem aqueles que criticam a falta de profissionalismo do entregador e tem os agitadores, que mencionam as empinadas (“dar o grau”, “puxar o grau”), além das ruas esburacadas.
Para Franco, o maior desafio está na pizza de muçarela: dependendo da qualidade do produto, ela parece um líquido e pode escorrer. Nesses casos, ele diz que abre um pouco a tampa da caixa da pizza e depois fecha, antes de iniciar a entrega. “Tudo depende da experiência do motoboy. Quando a gente conhece os caminhos, também fica mais fácil evitar buracos. E não precisa correr, porque você sabe a melhor forma de chegar lá”, relata.
Problemas de comunicação
Existe uma guerra declarada entre as duas pontas do atendimento: aqueles que anotam os pedidos e os entregadores.
Eloi diz que escrevem como médicos: é preciso decifrar as letras para encontrar o endereço. Também menciona informações erradas e a falta de numeração. “Tem duas pessoas falando ao telefone. Não é possível que elas não se entendam”, desabafa. Franco faz coro: “Não ajudam em nada. Poderiam pegar mais informações, como a cor da casa, se tem uma árvore na frente. Ficaria mais fácil encontrar o destino, principalmente à noite”.
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