Rio: 3.000 PMs começam a deixar UPPs para patrulhar ruas em 2 semanas, diz governo
Os 3.000 policiais militares que serão deslocados das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) para patrulhamento das ruas da capital e da região metropolitana do Rio de Janeiro devem começar a exercer as novas funções em até duas semanas, informou nesta quarta-feira (23) a CPP (Coordenadoria de Polícia Pacificadora), órgão ligado à Secretaria de Estado de Segurança Pública.
O prazo final para que todo o efetivo extra esteja adaptado à rotina de patrulhamento é de aproximadamente um mês. Os 3.000 policiais que serão mobilizados correspondem a cerca de 33% do total do efetivo das UPPs.
De acordo com o secretário Roberto Sá, em entrevista na terça-feira (22), os militares que estão deixando as Unidades de Polícia Pacificadora não atuavam no policiamento ostensivo das comunidades, e sim em setores administrativos.
Por esse motivo, segundo ele, não haverá prejuízo para as UPPs. "Todas as UPPs serão mantidas na sua essência. Vamos continuar presentes cumprindo nosso papel, melhorando nossos serviços. Com esse diagnóstico, vai ser possível colocar nas ruas do Rio de Janeiro 3.000 policiais sem que isso modifique as atividades fins das UPPs. As UPPs passam a ser subordinadas aos batalhões", afirmou Sá.
Essa não é a mesma avaliação feita por especialistas em segurança pública ouvidos pelo UOL após o anúncio da reestruturação funcional. Para os entrevistados, a Secretaria de Estado de Segurança acaba enfraquecendo o projeto de polícia comunitária e cedendo à pressão da classe média ao tirar um terço do efetivo das UPPs para o policiamento das ruas na capital e região metropolitana.
"Em um momento em que operações rocambolescas, incluindo nelas forças federais, não chegam em lugar algum, vai dizer o que para a classe média? Vamos botar mais polícia nas ruas. Quero saber onde estarão esses mil policiais da capital. É querer enganar a classe média dizendo: 'estamos tirando das favelas e colocando nas ruas'. É enganoso, vergonhoso, não resolve o problema", afirmou a socióloga e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, Julita Lemgruber.
Para Ignacio Cano, doutor em sociologia e integrante do Laboratório de Análise de Violência da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), no entanto, o realocamento dos policiais das UPPs não é necessariamente ruim, desde que a medida seja para conter situações emergenciais, para áreas com maior necessidade de policiamento.
"É um enfraquecimento, sem dúvida. A UPP perde a autonomia, sua marca inicial, a de que não passasse pelas lógicas dos batalhões, com mais flexibilidade para dirigir os policiais", diz Cano. Para ele, o principal programa de segurança pública do governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB) deve ficar paralisado até a próxima gestão. "Esse atual governo não tem recursos e liderança política. Então, até o ano que vem, a UPP vai viver certa inércia", acrescenta.
Mais mudanças
Também será criado um batalhão de polícia pacificadora, abrangendo o bairro da Penha e o Complexo do Alemão. Segundo Roberto Sá, a presença da PM será mantida em todas as UPPs, mas com o que chamou de efetivo essencial.
"É o possível para o momento que nós vivemos", afirmou o secretário, ao comentar as mudanças, anunciadas ontem.
De acordo com o comandante-geral da PM, Wolney Dias, o fato de boa parte do efetivo ser redistribuído para a Baixada Fluminense e região metropolitana se deve a uma avaliação da Secretaria de Segurança de que 86,5% da criminalidade se concentra nessa região.
Dos 3.000 PMs a serem redistribuídos, 1.100 atuarão na capital, 900 na Baixada Fluminense, 550 nas cidades de São Gonçalo, Niterói e Itaboraí (região metropolitana), 300 no BPVE (Batalhão Policial de Vias Expressas) e 150 no BPTur (Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas).
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