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Em meio a onda de violência, RJ reduz efetivo de UPPs em um terço e manda 3.000 PMs para as ruas

9.abr.2015 - Crianças brincam perto de policial em rua do Complexo do Alemão - Fábio Teixeira/UOL
9.abr.2015 - Crianças brincam perto de policial em rua do Complexo do Alemão Imagem: Fábio Teixeira/UOL

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

22/08/2017 18h16Atualizada em 23/08/2017 13h59

O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Roberto Sá, anunciou nesta terça-feira (22) uma reestruturação do programa das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Segundo ele, após um diagnóstico de todas as unidades do programa, cerca de 3.000 policiais (33% do efetivo do programa) serão realocados para o policiamento da capital e região metropolitana e as UPPs passam a ser subordinadas aos batalhões. Os agentes que serão redistribuídos atuam em setores administrativos.

"Todas as UPPs serão mantidas na sua essência. Vamos continuar presentes cumprindo nosso papel, melhorando nossos serviços. Com esse diagnóstico, vai ser possível colocar nas ruas do Rio de Janeiro 3.000 policiais sem que isso modifique as atividades fins das UPPs. As UPPs passam a ser subordinadas aos batalhões", afirmou Sá.

Também será criado um batalhão de polícia pacificadora, abrangendo o bairro da Penha e o Complexo do Alemão. Segundo ele, a presença da PM será mantida em todas as UPPs, mas com o que chamou de efetivo essencial.

"É o possível para o momento que nós vivemos", afirmou Sá, ao comentar as mudanças na principal política de segurança do governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB).

De acordo com o comandante geral da PM, Wolney Dias, o fato de boa parte do efetivo ser redistribuído para a Baixada Fluminense e região metropolitana se deve a uma avaliação da Secretaria de Segurança de que 86,5% da criminalidade se concentra nessa região.

Dos 3.000 PMs a serem redistribuídos, 1.100 atuarão na capital, 900 na Baixada Fluminense, 550 nas cidades de São Gonçalo, Niterói e Itaboraí (região metropolitana), 300 no BPVE (Batalhão Policial de Vias Expressas) e 150 no BPTur (Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas).

Pouco antes do anúncio, a CPP (Coordenadoria de Polícia Pacificadora) confirmava a morte de mais um policial militar. O cabo Thiago Silva, 32, foi encontrado morto em seu próprio carro em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. O policial, que atuou seis anos na corporação, não estava em serviço. Com ele, sobe para 98 o total de PMs assassinados neste ano no Estado.

Levantamento feito pelo UOL com base nos dados do aplicativo Fogo Cruzado, da Anistia Internacional, mostrou que, desde o começo do ano, ao menos uma pessoa perdeu a vida a cada dois dias em decorrência de conflitos armados nas favelas ocupadas pela polícia.

"Projeto falido", dizem moradores

Prestes a completar dez anos, o projeto das UPPs passa por seu pior momento. Com 38 unidades em diferentes comunidades do Rio de Janeiro e cerca de 10 mil policiais, o programa enfrenta críticas de moradores, denúncias de abuso policial e falta de recursos; entre os dez bairros com mais tiroteios na cidade do Rio, oito são ocupados pela polícia.

De acordo com o estudo "UPP: Última Chamada -Visões e expectativas dos moradores de favelas ocupadas pela Polícia Militar na cidade do Rio de Janeiro", realizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes e divulgado nesta terça, 66% dos moradores consideram que a UPP é um "projeto falido".

Ao mesmo tempo, 59,7% defendem a manutenção da ocupação da polícia, desde que com mudanças. A maior parte dos moradores que desejam a permanência das UPPs vivem em favelas da zona sul, são brancos, tem 35 anos ou mais e nunca foram revistados pela polícia. Entre os 35,4% que pedem a saída dos PMs das comunidades, destacam-se os moradores das comunidades na zona oeste e aqueles que já tiveram suas casas revistadas. 

Também chama atenção a indiferença relatada pelos moradores frente aos benefícios trazidos pelo programa. Ao serem questionados sobre os aspectos tanto negativos quanto positivos da ocupação da polícia, entre 55% e 68% disseram que as UPPs "não fizeram diferença".