Como se mudar sem sair de casa... Morador leva residência em cima de caminhão no AM
Já imaginou se mudar e não abandonar a antiga casa? A pergunta vai parecer bem confusa para muita gente – a menos que você seja de Boca do Acre, município de pouco mais de 30 mil habitantes ao sul do Estado do Amazonas.
“Essa prática aqui é rotineira”, ressalta o bocacrense Jorbison Rodrigues, 35 anos, que já trabalhou na Secretaria de Cultura e Turismo da cidade e hoje é locutor e apresentador de uma rádio local.
Na manhã do último domingo (17), por exemplo, um morador contratou um caminhão de mudança e transportou sua casa de madeira inteira até o novo terreno que adquiriu. Stênio Carvalho, do jornal "A Tribuna", de Rio Branco-AC, passava pelo local e registrou as imagens, que fizeram sucesso nas redes sociais.
“A casa de madeira transportada por caminhão fica bem mais barato, ao invés de desmanchar e construir novamente. O valor do frete fica em torno de R$ 500 a R$ 1.000, incluindo a mão de obra do carpinteiro que retira a casa do local, centraliza no caminhão e leva até a base de destino”, explica Jorbison.
O bocacrense conta que a prática começou a ser adotada em virtude de uma tragédia natural que castigou a cidade localizada às margens direita dos rios Acre e Parus: a grande enchente em 1997, que deixou o município submerso. Depois disso, a população ainda sofreu com o fenômeno de terras caídas, que ocasionou deslizes de barrancos e derrubou casas de palafitas.
“Desde 1997, as mudanças de casas em caminhões passaram a ser mais frequentes. Foi uma forma que o bocacrense encontrou para retirar a casa do local que corria risco de desmoronamento. Outras mudanças do mesmo gênero ocorrem quando o morador decide mudar de endereço apenas por opção”, relata.
“A maioria das casas aqui são de madeiras. Após a grande enchente de 97, os moradores passaram a construir as casas mais elevadas, altas, justamente por contas das cheias. Quando o rio transborda na cidade, os moradores preferem ficar em suas casas”, completa.
A última grande cheia em Boca do Acre foi em março de 2015 – quando a cidade chegou a entrar em estado de calamidade pública. O município tem uma parte mais alta, conhecida como Platô do Piquiá, que não tem perigo de enchente e para aonde muitos moradores migraram. Mas a parte mais baixa (na qual inclusive fica o bairro mais populoso do município, Praia do Gado) ainda concentra 70% da população urbana.
Fato é que casas inteiras sendo transportadas por caminhões são cenas que viraram rotina na cidade e só surpreendem quem vem de fora. “Eu estava saindo para estrada e acabei vendo. Para mim foi uma novidade. Estava doido para tirar uma foto dessa e presenciar pessoalmente”, diz Stênio Carvalho, o autor das fotos da última mudança.
Ele aproveitou a oportunidade para conversar sobre o assunto com moradores da cidade, que lhe contaram uma outra versão curiosa envolvendo a prática. “Alguns, de zoação, chamam estas casas de ‘casa de separação’. Aí, quando vai separar, o marido pode ficar com o terreno e a mulher leva a casa...”.
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