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SP teve hoje ao menos três ataques sexuais em ônibus em um intervalo de 4h

Evandro Quessada da Silva, 26, deixa o 30º DP, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, nesta quarta-feira (27). Ele foi preso em flagrante depois de ejacular em uma passageira de ônibus - Paulo Lopes/Futura Press/Estadão Conteúdo
Evandro Quessada da Silva, 26, deixa o 30º DP, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, nesta quarta-feira (27). Ele foi preso em flagrante depois de ejacular em uma passageira de ônibus Imagem: Paulo Lopes/Futura Press/Estadão Conteúdo

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

27/09/2017 17h35

A polícia de São Paulo registrou ao menos três ataques sexuais contra passageiras do transporte coletivo nesta quarta-feira (27), em um intervalo de pouco mais de quatro horas. O caso divulgado mais recentemente é investigado pelo 38º DP (Distrito Policial), na zona norte, e foi qualificado como estupro depois que um homem de 31 anos foi preso em flagrante por esfregar a genitália em uma mulher de 35. 

De acordo com o setor de investigações da delegacia, o preso é o vigilante noturno Rafael Anselmo Alves Lopes, 31, que já tinha passagem policial por atentado violento ao pudor. Em depoimento, segundo a investigação, a vítima relatou que estava de pé no ônibus que fazia a linha Terminal Cachoeirinha/Shopping Center Norte quando sentiu algo estranho encostando em sua perna.

Conforme a polícia, uma passageira que estava sentada viu o ataque e, antes mesmo que a vítima percebesse a situação, gritou, e o motorista parou o veículo, que trafegava pela avenida Imirim. A Polícia Militar foi chamada na sequência.

Na delegacia, informou a investigação, Lopes admitiu o ataque, afirmou ter pegado a linha “aleatoriamente” e alegou que estaria “passando por problemas no relacionamento, se sentindo depressivo e rejeitado, a ponto de ver na atitude [o ataque à passageira] uma espécie de válvula de escape, mesmo sabendo que isso é errado”. “Ele alegou que agiu por impulso, e, como tal, não conseguiu se controlar”, informou o DP.

Quatro testemunhas depuseram no DP –entre os quais, passageiros, cobrador e motorista do ônibus. Lopes será encaminhado hoje ou, no máximo, amanhã, para uma audiência de custódia que avaliará, no fórum criminal da Barra Funda, o flagrante.

Ataque também na zona leste

Mais cedo, às 7h14, outro rapaz foi preso em flagrante por ejacular na perna e nos pés de uma passageira de ônibus – mas no Tatuapé, na zona leste. Evandro Quessada da Silva, 26, foi preso em flagrante por violação sexual mediante fraude – crime que é inafiançável e que pode render até seis anos de prisão.

Na ocasião, o ônibus seguia pela rua Melo Freire, próximo ao cruzamento com a rua Apucarana. De acordo com a Polícia Civil, ele ejaculou na perna de uma passageira de 34 anos que estava de pé e de costas para ele. O ônibus estava lotado.

Ao perceber o que havia ocorrido, a vítima, uma assistente administrativa que seguia para o trabalho, gritou.  “Senti um movimento, e, depois, um negócio caindo na minha perna e no meu pé; vi que estava sujo. Na hora desacreditei, pensei: ‘não é isso’. Mas, quando olhei para ele, vi que estava fechando o zíper”, disse a vítima, que preferiu não se identificar.

Ainda assustada, a jovem disse ter acompanhado outros casos semelhantes pela imprensa, com o de Diego Novais, preso, solto e preso novamente depois de atacar mulheres em ônibus na região da avenida Paulista.

“Tenho visto isso na TV e jamais imaginei que aconteceria comigo. É uma sensação de nojo, desrespeito, não sei explicar direito --nunca tinha passado por isso. Minha perna está tremendo até agora”, afirmou aos jornalistas, na delegacia, mais de duas horas após o ocorrido. “Minha primeira reação foi gritar. Agora, espero que algo seja feito com ele –que seja preso, que vá se tratar...”, concluiu.

O delegado responsável pelo inquérito no 30º DP, Rubens Salles Pereira Orrin, afirmou que o agressor foi preso em flagrante por violação sexual mediante fraude. “O agressor usou de uma forma que impossibilitou a defesa da vítima e que foi contrária à vontade dela”, disse.

A calça da vítima, com sêmen do agressor, foi apreendida e encaminhada para perícia técnica. Ainda segundo o delegado, o rapaz disse informalmente que teria ejaculado, mas não soube informar o porquê da atitude.

Mulher diz que homem apalpou as nádegas

Outro ataque foi registrado no final da manhã, na zona sul da cidade, em um ônibus que fazia a linha Jardim Miriam/Heliópolis e trafegava pela avenida Jabaquara, na altura do número 2199. De acordo com o boletim de ocorrência registrado pela PM, o caso ocorreu às 11h41 quando Fernando Ruas da Silva, 50, foi detido em flagrante por importunação ofensiva ao pudor.

Segundo a vítima, uma mulher de 25 anos, Silva teria entrado no ônibus depois dela e se sentado no banco de atrás. Em certo momento, diz o boletim, a vítima “sentiu a mão do autor tocar a parte superior suas nádegas, mas, sem acreditar, [ela] se mexeu e achou que ele ia parar”. Logo em seguida, porém, ela relata que ele repetiu o gesto ao tocá-la, novamente nas nádegas, colocando a mão no vão do assento. Ela acionou a cobradora e o motorista, que chamou a polícia.

No boletim, a mulher nega que tenha havido “violência ou grave ameaça”, mas afirmou que o gesto foi libidinoso. Não houve testemunhas. Na delegacia, Silva alegou que o ônibus teve uma “freada brusca” que fez com que uma sacola dele caísse ao chão. Ele alega que se abaixou, e, nisso, “acabou encostando no banco em que a vítima estava sentada”.

Também em depoimento, o homem se disse casado há 27 anos, pai de quatro filhos e avô de quatro netos” e afirmou “que jamais teria qualquer atitude parecida com o que foi narrado pela vítima”. Ele assinou termo circunstanciado e foi liberado.

Há um mês, TJ lançou campanha para coibir assédio no transporte 

Os casos vêm à tona há pouco menos de um mês de uma campanha lançada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, em parceria com as empresas de transporte público, para o combate aos casos de assédio nesses ambientes. A proposta é que, a partir de outubro, homens presos em flagrante nessas situações passem por uma espécie de curso de reciclagem com questões como machismo e masculinidade, desde que não sejam reincidentes. Isso valeria como uma alternativa de pena a crimes de menor potencial ofensivo.

O curso será ministrado pelo sociólogo Sérgio Barbosa no fórum criminal da Barra Funda (zona oeste de SP) e já é aplicado a autores de violência doméstica. De acordo com a juíza, a ação resultou em queda de 77% para 6% no índice de reincidência.