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Morre professora que tentou salvar crianças em creche de MG; nº de mortos em incêndio chega a 9

Do UOL, em São Paulo

05/10/2017 22h08Atualizada em 06/10/2017 16h35

Uma professora e uma criança morreram na noite desta quinta-feira (5), após o incêndio em uma creche em Janaúba (547 km de Belo Horizonte), elevando para sete o número de mortos depois que o segurança Damião Soares Santos, 50, colocou fogo em seu corpo e incendiou o local, segundo a Polícia Civil. Mais cedo, foi divulgado que uma sexta criança havia falecido. De acordo com o Corpo de Bombeiros, houve um "erro de avaliação dentro do hospital". A criança tem passado por procedimentos de reanimação e está viva.

Entre as vítimas que morreram estão cinco crianças de 4 anos, a professora e o segurança. Segundo os Bombeiros, há ainda 31 feridos, sendo 28 crianças e três adultos.

A criança que morreu na noite desta quinta estava a caminho de Belo Horizonte para atendimento. O garoto Renan Nícolas estava com 90% do corpo queimado. Já a menina Cecília, também de 4 anos, tem queimaduras em 80% do corpo e tinha sido dada como morta.

3.out.2017 - A professora Heley Abreu, 43, teve 90% do corpo queimado  - Facebook/Divulgação - Facebook/Divulgação
A professora Heley Abreu, 43, teve 90% do corpo queimado
Imagem: Facebook/Divulgação

A professora Heley de Abreu Silva Batista, 43, tentou enfrentar Santos e impedir que o segurança jogasse álcool e, depois, fogo nas crianças, segundo relatos. 

"É uma pessoa que sempre amou a profissão e arriscou a vida para salvar outras vidas [das crianças]. É triste, a família está sofrendo demais", afirmou Luis à TV Bandeirantes. 

Heley sofreu duas paradas cardíacas, teve 90% do corpo queimado e estava internada no Hospital Regional de Janaúba em estado gravíssimo.

Os nomes das crianças que morreram pela manhã no incêndio são: Juan Pablo Cruz dos Santos, Luiz Davi Carlos Rodrigues, Ruan Miguel Soares Silva e Ana Clara Ferreira Silva.

Ao saber do incêndio na creche, familiares e moradores da cidade foram até o local para tentar ajudar no socorro das vítimas. A pedagoga Inês Ramos, 37, diz que Heley chegou estabelecer uma luta corporal com o vigia. "Muito triste, estou horrorizada, [foram] cenas de terrorismo", disse ela. Inês conta que Heley era da Pastoral Familiar, dava cursos para noivos e fazia trabalhos voluntários. "É uma ótima pessoa e tem um bebê de um ano."

Cristina Magda disse que sua irmã, Marley Simone, uma das pessoas feridas, teve 40% do corpo queimado porque tentou ajudar as crianças. "Ela [Heley] ficou mais ferida porque estava com os alunos no pátio quando o sujeito chegou. Lutou com ele para salvar os alunos. Minha irmã e a outra [professora] também lutaram para salvar as crianças, mas todos foram pegos de surpresa", disse ao UOL.

Entre as crianças, os feridos têm entre três e seis anos. A maioria delas sofreu queimaduras, mas há outras que estão sendo atendidas devido à inalação de fumaça. Além de Janaúba e Belo Horizonte, há alunos da creche sendo encaminhados para a Santa Casa de Montes Claros (MG).

Vídeo mostra pessoas tentando conter fogo em creche

TV Folha

Segurança premeditou crime, diz polícia

O segurança Damião Soares dos Santos, 50, foi o único responsável pelo incêndio na creche municipal em Janaúba (547km de Belo Horizonte), segundo investigações da Polícia Civil da região. Ele morreu na tarde desta quinta-feira (5), no Hospital Regional de Janaúba, em decorrência das queimaduras. O delegado Bruno Barbosa Fernandes afirmou que Santos premeditou o crime.

Familiares do segurança disseram, de acordo com a polícia, que Santos planejava se matar. "Ele disse na última terça-feira (3), que daria um presente a todos, se matando em breve", informou o delegado. Segundo a investigação, o segurança cometeu o crime na creche numa data simbólica para ele, quando a morte do pai completaria três anos.

A Polícia Civil também apurou que o segurança tinha problemas mentais e era obcecado por crianças.

Questionado sobre o que teria causado o ataque à creche, o delegado resumiu: "loucura". "Conseguimos um relatório do Caps [Centro de Apoio Psicossocial] indicando que ele estava em tratamento psiquiátrico desde 2014; ele sofria de muitas manias de perseguição", disse. Ainda conforme o policial, a tendência é que, com a morte do segurança, o inquérito seja arquivado.

"Ele nunca precisou ser afastado do trabalho, nem tinha contato com crianças, já que era segurança noturno. O que ele fez foi algo bestial, covarde, mas nunca tinha manifestado nada disso no ambiente de trabalho, nem tinha orientação de ser segregado do convívio pelo que pudemos apurar junto ao Caps", afirmou o delegado.

Ao menos quatro crianças de quatro anos morreram no ataque a uma creche registrado em Janaúba (MG) nesta quinta-feira (5) - PM-MG/Divulgação - PM-MG/Divulgação
Creche incendiada em Janaúba (MG) ficou com salas destruídas
Imagem: PM-MG/Divulgação

Segurança guardava galões com álcool em casa

De manhã, equipes da Polícia Civil estiveram na casa do segurança e na de familiares dele. "Fomos até a casa do suspeito e encontramos vários galões com álcool", afirmou o delegado do caso. De acordo com o policial, três irmãs e a mãe do suspeito também foram ouvidas.

Santos trabalhava como segurança noturno da unidade, na condição de funcionário efetivo, desde 2008. De acordo com testemunhas, ele teria ateado fogo ao próprio corpo e ido em direção às crianças durante o ataque.

Vigia da creche tinha problemas psicológicos

Band Notí­cias

Suspeito voltaria de férias hoje

Em entrevista ao UOL, o prefeito de Janaúba, Carlos Isaildon Mendes (PSDB), afirmou que o segurança retornaria de férias hoje à creche, que funciona em período integral. A instituição tinha capacidade para 82 crianças e estava cheia na manhã desta quinta-feira.

"Ele tinha acabado de chegar de férias e entrou na escola dizendo que ia entregar um atestado médico, alegando que não passava bem. Mas estava com um balde, e, em um gesto completamente insuspeito, jogou o que seria álcool, que estava nesse balde, no próprio corpo, e no corpo das crianças", afirmou.

05.out.2017 - Damião Soares dos Santos, 50, conhecido como "Damião Picolé", é o segurança suspeito de atear fogo em creche no norte de Minas Gerais - Divulgação/PM - Divulgação/PM
O vigia Damião Soares dos Santos
Imagem: Divulgação/PM

Indagado sobre as condições mentais do funcionário, Mendes negou que ele tivesse apresentado algum indício de problemas. "O que me relataram lá é que ele chegou normal e tranquilamente até a diretora para supostamente entregar um atestado médico. Estamos mesmo muito surpresos com o que aconteceu", disse.

Por outro lado, o prefeito disse que o ataque "poderia ter sido pior", já que a sala em que o segurança entrou com o material inflamável era a do segundo período, com crianças de até cinco anos de idade. "Infelizmente, poderia ter sido algo até pior, porque a sala ao lado era o berçário, e evacuar crianças dali seria muito mais difícil. Onde ele atacou, as vítimas são maiorzinhas e muitas conseguiram escapar", afirmou.