Brasil dá guinada com Bolsonaro indiciado, plano contra Lula e homem-bomba
Bolsonaro e mais 36 pessoas, dos quais 25 militares, foram indiciados, nesta quinta (21), por tentativa de golpe. Quatro militares, dos quais um general, foram presos, na terça (19), devido a um plano para envenenar Lula, executar Alckmin, explodir Alexandre de Moraes e manter Jair no poder. E, após detonar bombas na praça dos Três Poderes e tentar invadir o STF, Francisco Wanderley Luiz, o Tiu França, um chaveiro de Rio do Sul (SC), se explodiu na quarta (13).
Sim, em oito dias, o roteirista deste folhetim chamado Brasil trouxe uma reviravolta de respeito à trama, que andava caída. Com a lembrança coletiva da invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, mais rala que a da cadeirada de Datena sobre Pablo Marçal, o interesse da população sobre a tentativa de golpe de Estado já era mínimo.
Aproveitando-se disso, deputados e senadores da oposição articularam a anistia aos golpistas para beneficiar Jair Bolsonaro. Na tribuna do Congresso, avolumavam-se oradores pedindo "pacificação" através da impunidade. Em páginas de jornais e sites, crescia o número daqueles que argumentavam que punições apenas aumentariam a polarização. Teve até Jair escrevendo coluna defendendo a democracia. O Supremo e os democratas estavam começando a ficar emparedados.
Até que Tiu França apareceu.
O chaveiro catarinense, candidato derrotado à Câmara dos Vereadores de Rio do Sul (SC) pelo PL, em 2020, tornou-se o exemplo do que brota quando punições rigorosas não são dadas a líderes de movimentos contra a democracia e quando o Estado decide passar pano a tentativas de golpes de Estado. Do ponto de vista político, pouco importa se ele estava profundamente perturbado. Francisco foi inspirado pelos arquitetos do golpe e guiado por eles desde então.
Nem bem a pólvora das bombas havia se dissipado do noticiário, a Polícia Federal foi às ruas para prender o general da reserva Mario Fernandes, os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima e Rodrigo Bezerra de Azevedo, o major Rafael Martins de Oliveira e o policial federal Wladimir Matos Soares que organizaram a morte de Lula, Alckmin e Moraes. A operação da PF já era planejada, mas é difícil imaginar que a escolha do timing foi aleatória.
Afinal, um plano para assassinar os três ganha feições bem mais claras considerando as bombas acionadas em Brasília dias antes. Ainda mais porque ambos os casos foram adubados pela certeza de impunidade, em 2022, em 2024.
Só isso já seria o suficiente para enterrar de vez o projeto de anistia. Mas a democracia precisa mais do que isso para garantir que outras pessoas manipuladas por lideranças políticas tornem-se homens-bomba. Ou que militares continuem se sentindo no direito de explodir quem quer que seja e de tutelar os destinos do país. Para isso, é necessário punição.
O contexto não poderia ser mais propício para a Polícia Federal indiciar, dois dias depois das prisões dos supostos terroristas, os 37 que atentaram contra o Estado democrático de direito, dos quais os nomes de 25 militares estão a seguir: generais Augusto Heleno, Estevam Theophilo, Laercio Virgilio, Mario Fernandes, Nilton Diniz, Paulo Sérgio de Oliveira e Braga Netto, almirante Almir Garnier, coronéis Alexandre Castilho Bittencourt, Anderson Lima de Moura, Bernardo Romão Correa, Carlos Delevati Pasini, Cleverson Ney Magalhães, Fabrício Moreira Bastos e Marcelo Costa Câmara, tenentes-coronéis Guilherme Marques de Almeida, Hélio Ferreira Lima, Ronald Ferreira de Araújo, Mauro Cid e Sergio Ricardo Cavalieri, majores Ailton Barros, Angelo Denicoli e Rafael Martins de Oliveira, capitão Jair Bolsonaro e Subtenente Giancarlo Rodrigues.
É claro que indiciamento é início de uma longa caminhada, que passa pela denúncia, julgamento, condenação e execução da pena. Mas pode-se dizer que os últimos oito dias viraram o jogo em nome da democracia.
E tudo começou com o ato tresloucado de Tiu França, que acreditava que estaria prejudicando o STF com suas bombas, mas que criou o contexto para que a impunidade do golpe voltasse à pauta nacional.
Quem disse que uma pessoa não pode mudar o curso da História?