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Polícia mata turista espanhola após carro furar bloqueio policial na Rocinha, diz PM

Carro onde turista espanhola estava na Rocinha - Divulgação/Polícia Militar do Rio de Janeiro - Divulgação/Polícia Militar do Rio de Janeiro
Carro em que turista espanhola foi balada na Rocinha
Imagem: Divulgação/Polícia Militar do Rio de Janeiro

Do UOL, no Rio

23/10/2017 12h07Atualizada em 23/10/2017 15h56

Uma turista espanhola foi baleada e morreu na manhã desta segunda-feira (23) na Rocinha, comunidade da zona sul do Rio de Janeiro. Maria Esperanza Jimenez Ruiz, 67, estava em um carro com outros turistas quando o veículo rompeu um bloqueio policial, segundo informou a Polícia Militar, e agentes atiraram.

A Delegacia de Homicídios e a Corregedoria da Polícia Militar estão apurando o caso. No veículo, que possui película que escurece o vidro, além de Maria Esperanza, estariam outras quatro pessoas, entre elas, o irmão e a cunhada da vítima. O motorista relatou não ter percebido que se tratava de um bloqueio policial.

Responsável pela investigação do caso, o delegado Fábio Cardoso, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, afirmou que o tiro atingiu o pescoço da vítima, que chegou morta ao hospital.

Três policiais militares envolvidos no caso tiveram as armas recolhidas e ainda devem depor. A polícia vai fazer exame de confronto balístico para identificar a arma.

Segundo o porta-voz da PM, major Ivan Blaz, o tiro que matou a espanhola partiu de um policial. "Foi um policial que atirou contra o carro [onde estava a mulher], que rompeu a barreira policial", disse ele em entrevista à "BandNews FM". O major afirmou que os turistas passavam por uma região tensa, com muitos confrontos registrados. "Não é uma área tranquila. Já tivemos confrontos armados no local e trânsito de criminosos."

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Por volta das 9h30 dessa segunda-feira (23), policiais militares do BPChq (Batalhão de Polícia de Choque) entraram em confronto com criminosos em duas localidade da Rocinha, no 199 e na rua 1. Dois policiais foram baleados e encaminhados ao Hospital Municipal Miguel Couto.

Uma pistola Glock com kit rajada (adaptada para aumentar a frequência dos disparos) foi apreendida nesse confronto. Um criminoso conhecido como Meteoro também foi socorrido no mesmo hospital.

Esta foi a primeira vez que policiais foram feridos, desde quando começou a disputa pelo comando do tráfico na Rocinha, no dia 17 de setembro. Na ocasião, criminosos ligados a Antonio Bonfim Lopes, o Nem, um dos cabeças da facção ADA (Amigos dos Amigos), teriam invadido a favela para tirar o controle do morro de Rogério 157, seu antigo aliado.

Uma hora após o tiroteio, por volta das 10h30, o veículo Fiat Fremont, onde estava a espanhola, rompeu o bloqueio policial no Largo do Boiadeiro, segundo informações da PM. Houve reação da guarnição, atingindo o veículo.

Durante a abordarem, informou a corporação por meio de nota, verificou-se que se tratava de um veículo para transporte de turistas. Ferida, a espanhola foi levada para o Miguel Couto, mas não resistiu. A Secretaria Municipal de Saúde confirmou que a vítima chegou à unidade de saúde sem vida.

Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Segurança lamentou a morte da turista e disse acompanhar a apuração dos fatos junto à Corregedoria da Polícia Militar e à Divisão de Homicídios.

O Consulado da Espanha no Rio informou que uma equipe estava no começo da tarde no hospital Miguel Couto para apurar informações referentes ao caso. O crime repercute nos principais jornais da Espanha.

Os novos episódios de violência acontecem após um racha entre traficantes desencadear uma onda de violência na favela da Rocinha. Há um mês, em 22 de setembro, um tiroteio no principal acesso à comunidade, perto da autoestrada Lagoa-Barra, que liga as zonas sul e oeste da cidade, levou pânico a moradores. Naquela sexta-feira, o governo do Rio de Janeiro acionou as Forças Armadas, e militares fizeram um cerco por uma semana na Rocinha.

Responsável por passeios desconhecia local, dizem guias

Guias turísticos que fazem passeios na favela da Rocinha, na zona sul do Rio, afirmaram que a espanhola Maria Esperanza Ruiz, de 67 anos, morta nesta manhã de segunda-feira, 23, pela Polícia Militar, deve ter sido guiada ao local por alguém de fora da comunidade sem conhecimento dos conflitos do tráfico na comunidade.

"A gente trabalha com guias locais e um vai passando informação para o outro. Todo dia, tem que avaliar a situação. Como a gente é daqui, sabe dizer se dá ou não. Trabalho com isso há três anos e nunca tive problema. A gente zela. Tem todos os cuidados. Sabe os locais de perigo. Não vai levar turistas a vielas onde tem facilidade de acontecer algo. E claro que, se algum policial recomendar que não haja passeio, a gente não vai. Um guia local nunca iria desobedecer a uma ordem da polícia para parar o carro. Talvez a pessoa não tenha escutado bem", contou Roberto Júnior, coordenador do Favela Walking Tour, um dos muitos serviços turísticos da Rocinha.

Ele disse que não há interação entre os policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela com os que estão reforçando o policiamento no morro há um mês, desde que houve a invasão por traficantes rivais em área do grupo que comanda o comércio de drogas atualmente. Segundo ele, a decisão por fazer ou suspender os passeios acaba sendo individual. Já outro guia ouvido pela reportagem, que não quis se identificar, relatou que diariamente, desde o início dos conflitos nas favelas, policiais fazem uma avaliação em casos de risco de tiroteio, orientam as empresas a não levar visitantes para o morro.

Na semana passada, a reportagem presenciou um grupo de turistas passeando num dia de tiroteio. Na ocasião, o capitão Maicon Pereira, um dos porta-vozes da PM, afirmou que a visita não era recomendada. Segundo os guias, o movimento de turistas caiu a menos da metade no último mês por causa dos conflitos. Num dia chuvoso como esta segunda-feira, visitantes que deixam de ir ao Cristo Redentor e Pão de Açúcar, por causa da baixa visibilidade, optam por visitar comunidades. "Tem muita gente que sonha conhecer uma favela. Ver o que ninguém noticia. Mostramos que a maioria é trabalhador. Eles veem o que não está no cartão-postal", justificou o guia Roberto Júnior.

(Com informações do Estadão Conteúdo)