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'Feliz ano velho' na Rocinha: confrontos recriam cenário de guerra 2 meses após prisão de 157

Imagem publicada nas redes sociais mostra placa de boas-vindas com marcas de bala Imagem: Reprodução/Facebook/Parceiros da Rocinha

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

26/01/2018 11h49

Quase dois meses após a prisão do traficante Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, chefe do tráfico de drogas na Rocinha, a favela da zona sul carioca voltou a ser palco de uma barbárie. Criminosos e PMs trocaram tiros durante toda a quinta-feira (25), o que deixou um rastro de violência no entorno da comunidade e em suas ruas, becos e vielas. A parede de uma casa ficou repleta de marcas de bala.

Homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais) fazem operação na Rocinha na manhã desta sexta (26) Imagem: José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Por volta das 10h30 desta sexta-feira (26), disparos foram ouvidos em uma localidade conhecida como "7", segundo a página OTT (Onde Tem Tiroteio), que faz um mapeamento não oficial dos confrontos na cidade. O clima ainda é tenso na região. As escolas não são afetadas porque alunos e professores estão de férias.

Ontem (25), em um dos confrontos, o soldado Thiago Chaves da Silva morreu após ter sido baleado --ele é o 10º policial militar assassinado neste ano. Outras sete pessoas ficaram feridas, sendo três PMs, três suspeitos e um morador. Além disso, dois cães foram atingidos por disparos e levados para atendimento veterinário. Não foram divulgados detalhes sobre o estado de saúde dos animais.

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Morador carrega cão baleado na favela da Rocinha, na zona sul carioca Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Por volta das 17h30, um ônibus foi incendiado na avenida Niemeyer, nas imediações do Vidigal (favela vizinha à Rocinha). De acordo com os órgãos de segurança, essa foi uma ação orquestrada por criminosos --em um vídeo publicado nas redes sociais, um homem com um radiotransmissor ordena que comparsas ateiem fogo ao veículo.

Mulher corre com criança no colo enquanto ônibus é consumido pelo fogo em plena avenida Niemeyer Imagem: Pedro Teixeira/Agência O Globo

O coletivo em chamas afetou a rotina de moradores do Vidigal, que ficaram retidos no principal acesso à comunidade, e também de turistas hospedados no hotel Sheraton. O fogo atingiu parte da grade da ciclovia Tim Maia, que corta toda a avenida Niemeyer. A situação só foi normalizada duas horas depois.

Ônibus é incendiado perto da Rocinha

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Os tiroteios começaram logo cedo, por volta das 8h, quando PMs subiram a Rocinha em uma ação para reprimir criminosos leais a Rogério 157. Após ter sido capturado, em dezembro, e transferido para o presídio federal de Porto Velho (RO), o traficante ordenou que comparsas assumissem o comando.

Em setembro do ano passado, 157 protagonizou uma disputa sangrenta com o ex-chefe, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, que tentou derrubar o sucessor e retomar o controle da favela. A briga resultou em dias seguidos de intensos confrontos, e o Estado reagiu com uma ação militar que mobilizou mais de 1.000 pessoas.

Cerco militar à Rocinha

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Isolado em sua antiga facção (Amigos dos Amigos), 157 decidiu migrar para o bando rival, o CV (Comando Vermelho), e fugiu para outras comunidades dominadas pelo grupo. Desde a sua prisão, em razão do vácuo na estrutura de poder da Rocinha, moradores temem uma nova investida da quadrilha de Nem (que ocupa uma cela na mesma cadeia onde está o seu principal desafeto).

Base de UPP atingida e ameaça contra delegacia

Na quinta-feira (25), após a chegada dos policiais, os criminosos reagiram com força e trocaram tiros por horas seguidas. Um dos disparos acertou a vidraça da base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), situada no alto da favela.

A 11ª DP (Rocinha), localizada ao pé do morro e paralela à autoestrada Lagoa Barra, foi cercada pelas forças policiais por volta das 16h30, depois de um boato de que criminosos tentariam promover um ato violento contra a delegacia. O trânsito foi interrompido e cones plásticos, espalhados ao redor do local. PMs do Batalhão de Choque reforçaram o patrulhamento no local, com objetivo de evitar um possível ataque.

Os tiros também assustaram alunos da PUC (Pontifícia Universidade Católica), que fica na Gávea, zona sul carioca, em uma área próxima à Rocinha.

Líder provisório

Após a prisão de 157, José Carlos de Souza Silva, conhecido como Gênio, assumiu o comando da Rocinha provisoriamente e, segundo policiais e moradores, continua à frente do tráfico na comunidade, conforme revelou reportagem do UOL.

Assim como o chefe, ele pertencia à facção Amigos dos Amigos, mas migrou para o CV após o racha entre 157 e Nem.

Segundo a polícia, Gênio tinha a confiança de 157 e a rápida indicação demonstrou a intenção de não permitir que o grupo ficasse sem comando, o que poderia facilitar uma tentativa de retomada do território por parte do grupo rival.

(Com Estadão Conteúdo)

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