"Tenho feridas abertas até hoje", diz sobrevivente da maior chacina de SP com 80 pontos na barriga
Dois sobreviventes da maior chacina de São Paulo, que matou 23 pessoas a tiros em agosto de 2015, relataram à Justiça, entre terça (27) e quarta-feira (28), que ainda têm feridas em aberto e sequelas espalhadas pelo corpo. Eles são testemunhas no julgamento do PM Victor Cristilder, acusado de ter participado de 17 mortes.
Nesta quarta-feira, um autônomo que trabalha com confecção de roupas, mostrou aos jurados seus 80 pontos na barriga e uma marca de tiro na costela direita. Ele estava em um bar onde oito pessoas foram assassinadas em 13 de agosto, em Osasco, na Grande SP. Ele diz que só sobreviveu porque caiu junto aos mortos no ataque e os criminosos acreditaram que ele estava sem vida.
“Até hoje tenho pontos em aberto. Tem ferida em aberto, porque, uma semana depois, mesmo sem condições, eu tive de voltar a trabalhar, por necessidade mesmo”, afirmou. “Eu estava no fundo [do bar] e ouvi os tiros. Eu caí. Um morreu nos meus pés com dor no abdômen, porque apertava a região muito forte. Todos que estavam comigo no momento morreram”, disse ele ao júri.
Outra testemunha, um homem de cerca de 50 anos, conta que foi baleada pouco abaixo do olho enquanto dormia escorada na mesa do bar. Ao depor na terça, ele demonstrava muita dificuldade para falar e andar.
“Setenta e cinco dias depois [da chacina], saí do hospital. Depois, contaram para mim [o que havia acontecido]”, disse. O lado esquerdo do rosto da vítima ficou deformado. Ele também tem dificuldade para respirar, relata esquecimento e dores de cabeça constantes. Pintor, ele não consegue mais exercer a função e passou a ser sustentado pelos dois filhos.
“Me espelho nele até hoje”, diz colega
Um dos quatro policiais militares chamados pela defesa para colaborar com o réu afirmou que o cabo Victor Cristilder é um “exemplo”. “Era do mesmo pelotão de Victor. Toda doutrina e ‘tirocínio’ que tenho, aprendi com ele. Me espelho nele até hoje. Estudava junto com ele. Inclusive, ele me passava muitos conhecimentos”, afirmou o soldado Marco Cesar Dias ao júri.
Todos os policiais afirmaram que estavam com Cristilder no momento de um dos 17 crimes pelos quais o cabo responde. “A gente achou que aquelas mortes eram mais um ataque do PCC (facção criminosa). Ele [Cristilder], estava deitado no beliche da base policial no momento em que os tiros começaram”, afirmou o soldado identificado como Marilton, que chegou a ter seu envolvimento na chacina investigado.
“A defesa entende que já mostrou todas as provas de que Cristilder era inocente. Perdi as contas de quantas vezes a testemunha Beta [secreta, que reconheceu o PM por fotografia] mentiu. As investigações estão cheias de inverdades”, afirmou o advogado do réu.
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