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Indícios do caso Marielle "são mais materiais" e apontam para "crime de milícia", diz ministro

O ministro da Segurança Pública Raul Jungmann disse que investigações da morte de vereadora apontam para milícias - Foto: AFP
O ministro da Segurança Pública Raul Jungmann disse que investigações da morte de vereadora apontam para milícias Imagem: Foto: AFP

Hanrrikson de Andrade e Marina Lang

Do UOL, no Rio

16/04/2018 14h33Atualizada em 16/04/2018 16h33

O ministro da Segurança Pública Raul Jungmann (PPS-PE) afirmou nesta segunda-feira (16) que as provas do caso da morte de Marielle Franco "são mais materiais do que testemunhais". Ou seja, a investigação se concentra mais no trabalho pericial para analisar evidências como cápsulas de munição e impressões digitais do que em relatos de testemunhas e pessoas ligadas à vereadora.

Segundo ele, a principal linha de trabalho dos policiais da Divisão de Homicídios da Polícia Civil diz respeito ao possível envolvimento de milicianos no crime.

"Indícios apontam, possibilidades apontam para um crime de milícia", disse Jungmann.

Segundo o ministro, Marielle atuou como uma ponte entre o atual chefe de Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj durante a CPI das Milícias, que tramitou no Legislativo fluminense em 2007. Ele deu a entender que o crime poderia estar ligado a esse fato.

Após participar de um evento na PRF (Polícia Rodoviária Federal), no Rio de Janeiro, o representante do governo federal disse que, em um mês, a investigação avançou "basicamente no âmbito da materialidade".

Como exemplos, o ministro citou o reconhecimento das cápsulas usadas no crime e o recolhimento de fragmentos de impressão digital do atirador na cena do assassinato. Disse ainda que a Polícia Federal colocou à disposição da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, responsável pela condução do inquérito, um PhD formado nos Estados Unidos e especialista em ciência forense.

"É bom lembrar que o caso Marielle é raro. Não se identificou até aqui nenhum testemunho de ameaças que tenham sido feitas a ela. Isso deixa a investigação basicamente no âmbito da materialidade. Identificar a cápsula, ver as impressões digitais e assim por diante."

Jungmann disse ainda que as investigações sobre o duplo homicídio estão caminhando com celeridade e lembrou de outros casos complexos desvendados pela Divisão de Homicídios, como o desaparecimento e morte do pedreiro Amarildo Dias de Souza, na Rocinha, favela da zona sul carioca, em 2013, e o assassinato da juíza Patrícia Acioli, em Niterói, na região metropolitana do Estado, em 2011. Ambos os casos levaram cerca de dois meses para serem solucionados.

Há pouco mais de um mês, Marielle e seu motorista Anderson Gomes foram mortos a tiros na região central do Rio. O carro da vereadora, conduzido por Anderson, foi seguido pelos criminosos e interceptado na rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio. Foram 13 disparos contra o veículo, quatro dos quais atingiram a cabeça da vereadora.

Imagens obtidas pela polícia mostram que o crime foi planejado. Antes da perseguição, os executores ficaram de tocaia na Lapa, bairro da região central da cidade, onde a parlamentar participava do evento "Jovens Negras Movendo Estruturas". Ao menos dois carros foram utilizados na emboscada, ambos com películas escuras nos vidros.

Além disso, no local em que Marielle foi morta, havia um ponto cego em relação às câmeras de trânsito da prefeitura. Para a polícia, isso indica que os criminosos planejaram o crime de forma minuciosa. Nenhum suspeito foi identificado, segundo as informações divulgadas até o momento pela Divisão de Homicídios.

Vereadores

Questionado se a polícia havia constatado suposto envolvimento de vereadores, Jungmann disse não ter conhecimento, mas afirmou que "não se pode descartar nada, sobretudo se existem alvos e informações que possam levar a qualquer responsabilização".

"Não estou dizendo que é caso", completou. "Mas testemunhas estão sendo ouvidas."

Cena do crime

O chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, declarou nesta segunda-feira (16) que "grande parte do cenário" do assassinato da vereadora e de seu motorista já foi elucidada.

A Polícia Civil já entendeu, de fato, grande parte do cenário do crime. Faltam alguns procedimentos que ainda serão feitos posteriormente
Rivaldo Barbosa, chefe de Polícia Civil do Rio

A declaração foi dada após uma reunião do chefe de polícia com familiares de Marielle. Estavam presentes o deputado estadual Marcelo Freixo, os pais da vereadora assassinada, a viúva Monica Benício, a filha de Marielle, Luyara Santos e  Agatha Arnaus, viúva de Anderson.

Barbosa disse que a expectativa de resolução dos assassinatos é positiva.

"Trata-se de um crime complexo, que traz um desafio maior, mas estamos enfrentando cada desafio desses dia a dia. Temos uma expectativa muito boa em relação a toda a forma como foi feita a utilização de todos os meios para que a gente possa resolver isso o mais rápido possível", disse o chefe de polícia.

"A gente entende e compreende também o anseio da família e da sociedade por uma resposta rápida, mas a polícia tem deus protocolos [para conclusão das investigações]", disse o policial.

A gente teve uma excelente reunião, acho que, de alguma forma, nos tranquiliza. Entendemos que todos estamos aflitos por uma resposta. Mas não há ninguém mais aflito por uma resposta do que a família sobre o que aconteceu com Marielle e Anderson
Monica Benício, viúva de Marielle

Crítica

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) criticou as declarações do ministro Jungmann nesta segunda-feira (16). O ministro havia dito a uma rádio no início da manhã que a principal hipótese da investigação era a ação de milícias.

Antes da reunião entre familiares das vítimas e o delegado Barbosa, o deputado afirmou:

"Não cabe ao ministro falar sobre as linhas de investigação. Cabe aos delegados. Eu não falo sobre linhas de investigação. Tenho muito respeito pelo trabalho dos delegados [da Polícia Civil]. Acho que são eles que têm que se pronunciar quando eles entenderem que podem e devem se pronunciar sobre as linhas de investigação. Fora isso, eu acho que pode inclusive atrapalhar o trabalho da polícia", disse o deputado.

Porém, membros da Polícia Civil e o próprio ministro já haviam afirmado em ocasião anterior que os órgãos policiais do estado, atualmente sob o comando do interventor federal Walter Braga Neto, atuam em conjunto com o Ministério da Segurança Pública e suas ações são coordenadas. 

Queda de braço da intervenção com a Alerj

O ministro também comentou a polêmica sobre a devolução de policiais militares cedidos à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Os interventores federais pediram para que os deputados devolvam 87 dos 146 PMs emprestados à instituição para realizar funções de segurança, mas os parlamentares resistiram argumentando que terão que devolver mais policiais que outros órgãos em situação semelhante (como o Tribunal de Justiça e a Promotoria).

Após diversos avisos, nesta segunda-feira (16), a Secretaria de Segurança Pública publicou no Diário Oficial uma resolução que suspende o empréstimo dos 87 PMs ao Legislativo fluminense.

"Todos colaboraram devolvendo policiais para que eles cumprissem com suas tarefas de assegurar a segurança que é tão necessária, urgente e requerida pelos cariocas. Não consigo entender o porquê dessa colaboração não ter se estendido à Alerj. Até porque a Alerj, ao contrário dos outros órgãos, não se encontrava adimplente. Ela tem uma dívida de aproximadamente R$ 60 ou R$ 68 milhões. E, de fato, independentemente dessa questão da dívida, é uma colaboração da Alerj com a segurança do Rio de Janeiro", disse o ministro.

A assessoria de imprensa da Alerj disse que o órgão não se manifestará sobre o assunto.

"E acredito que aqueles que fazem a Alerj têm responsabilidade e sensibilidade, até porque foram eleitos pelos cariocas."

De acordo com Jungmann, com a devolução de parte dos PMs cedidos a outros órgãos, ao menos 700 agentes reforçarão imediatamente o patrulhamento nas ruas do Rio.