Tio de jovem baleado em favela do Rio diz que foi detido ao questionar PMs sobre disparos

O tio do adolescente Bryan Bispo da Silva, 14, que foi baleado com dois tiros (um no rim e outro na perna) na comunidade da Matinha, em frente à Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro, no final da tarde de terça-feira (31), relatou ao UOL ter sido detido por PMs por suposto desacato ao perguntar se eles haviam efetuado disparos no momento em que o jovem foi atingido.

De acordo com Wallace Pereira, ele foi encaminhado para a 11ª DP (Rocinha), que também investiga o caso. Ficou lá por uma hora e foi liberado. Segundo ele, a ocorrência de suposto desacato não foi registrada.

“Estava voltando do trabalho e minha mulher me ligou avisando sobre o Bryan. Corri ao local para socorrê-lo. Há testemunhas, as pessoas viram policiais pegando as cápsulas [das balas] do chão e botando no bolso. Fui perguntar se aconteceu algum disparo da parte deles [PMs]. Eles me prenderam, fizeram uma cena horrível para inibir as testemunhas. Deu certo porque estão todos com medo”, declarou

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar ainda não se manifestou sobre a detenção de Pereira por suposto desacato. Desde ontem, a PM nega envolvimento de policiais no caso.

“Segundo o pai da vítima, ele foi alvo de bala perdida. Esclarecemos que nesta terça-feira não houve disparos de arma de fogo na comunidade da Rocinha por parte dos policiais da unidade", disse a PM, em nota divulgada ontem.

Já a Polícia Civil declarou que “o caso foi registrado na 11ª DP [Rocinha] e diligências estão em andamento com o objetivo de identificar o autor do disparo. Testemunhas estão sendo ouvidas”.

Adolescente passou por cirurgia

Bryan está internado no Hospital Municipal Miguel Couto desde ontem, quando passou por uma cirurgia durante a noite. A Secretaria Municipal de Saúde e familiares confirmaram que o quadro de Bryan é estável.

Segundo o tio do adolescente, a equipe médica retirou um pedaço do intestino que foi danificado pelo projétil. Ele está em observação para análise da evolução do quadro clínico.

“Ele é estudante, um bom menino. Bryan não mora na Rocinha e estava de férias, visitando o pai dele. [O adolescente] estava brincando de rapel com o irmão na parte de trás de casa quando, de repente, sentiu os disparos”, contou Pereira.

Embora a Polícia Militar negue envolvimento com os tiros, tanto Pereira quanto William Oliveira, porta-voz da associação de moradores, dizem que há testemunhas que viram que os tiros partiram de policiais na passarela da Rocinha. Eles estão em busca de imagens de câmeras de segurança que tenham registrado o momento em que Bryan foi baleado.

“Há testemunhas que viram o que houve, mas elas estão com medo de se expor. Estamos em busca de câmeras de segurança da região para comprovar isso”, afirmou Oliveira.