Ministério Público reforça segurança de promotor apontado como alvo do PCC
O promotor Lincoln Gakyia teve sua segurança reforçada, mas trabalha normalmente, afirmou nesta segunda-feira (10) o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Smanio. Segundo a polícia, Gakyia foi alvo de ameaças pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) após pedir a transferência de uma série de integrantes da facção.
Equipes de inteligência da Promotoria e das polícias Civil e Militar já haviam detectado ameaças de integrantes da facção ao promotor e a Roberto Medina, coordenador dos presídios na região oeste do estado (onde fica Presidente Venceslau, cidade em que a cúpula está presa). Duas cartas foram apreendidas neste domingo com duas mulheres de presos da penitenciária onde estão os principais nomes da facção.
“Ameaças sempre existiram. Existem e sempre existirão”, disse Smanio durante entrevista para jornalistas sobre o caso, reforçando que o trabalho continua sendo feito “com tranquilidade”.
Smanio afirma ainda que as ameaças não intimidam o Ministério Público porque as ações de combate ao crime não são individuais. “Se sair um, a gente coloca outro. Tem outros 2.000 promotores e, se for o caso, todos vão agir contra o crime organizado”, disse.
Para apurar a origem das cartas que sugerem risco a Gakyia, o MP iniciou uma força-tarefa com cinco promotores do estado.
As cartas, codificadas por números e letras, obtida pelo UOL, foram apreendidas na bolsa de Maria Elaine de Oliveira, que estava guardada no carro de Alessandra Cristina Vieira. As duas haviam visitado presos na penitenciária II de Presidente Venceslau, onde está Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pelas polícias e pela Promotoria como o principal chefe do PCC.
A reportagem não localizou as defesas das duas mulheres, que estão presas sob a suspeita de estar com "informações em códigos que promovem ou ajudam a promover barbáries", apontou a polícia. Procurada, a defesa de Marcola não se manifestou sobre o assunto.
Nas duas cartas apreendidas e atribuídas ao crime organizado, os integrantes do PCC afirmam querer matar o coordenador dos presídios Roberto Medina, apontado como "Frango", e o promotor Lincoln Gakyia, apontado como "Japonês". O promotor confirmou a veracidade das informações, disse estar com reforço na escola e que não daria entrevistas sobre o assunto.
Transferências para presídios federais
Lincoln Gakyia foi o responsável por pedir à Justiça a transferência de sete membros do PCC, considerados de segundo escalão dentro da facção, e denunciados no primeiro semestre deste ano pela Operação Echelon. A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) deu parecer favorável. Então, o juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci determinou as transferências.
A transferência dos sete membros não tem prazo para ocorrer. Os governos estadual e federal estudam a melhor maneira de transferir os condenados sem que haja risco de tentativa de resgate durante o trajeto. A principal probabilidade é que eles sejam enviados ao presídio federal de Brasília, onde devem ser agrupados integrantes do PCC, nos moldes do que já ocorre em Presidente Venceslau (SP).
Gakiya também solicitou a transferência para presídios federais da alta cúpula da facção criminosa, denunciada através da operação Ethos, de 2016, e que inclui Marcola e outros membros da alta cúpula da facção. SAP e Justiça ainda não determinaram suas avaliações sobre os pedidos.
A reportagem apurou junto a membros da Justiça de São Paulo que, dificilmente, a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) e o juiz designado pela execução penal darão parecer favorável às transferências da cúpula do PCC, sob os argumentos de que as penitenciárias estaduais são eficientes, mas com o receio de que haja represálias fortes, que alterem os índices de homicídios no estado. A justificativa foi a mesma em outros pedidos de transferências feitos nos últimos 15 anos.
Desde o segundo pedido, para transferir a cúpula da facção, Gakyia tem sido alvo de ameaças. Por isso, teve a escolta reforçada. A transferência de membros do PCC foi apoiada pelo governador eleito João Doria (PSDB) durante a corrida eleitoral deste ano. Membros da SAP e da Justiça acreditam que Márcio França (PSB) deixará para a questão para seu sucessor.
Em nota, a APMP (Associação Paulista do Ministério Público) manifestou “irrestrito apoio” ao promotor. “Ressaltamos que as autoridades do sistema de Justiça que atuam no combate ao crime, notadamente organizado, necessitam de todo o respaldo do estado e da sociedade para bem desempenharem suas funções.”
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