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Morre 5ª vítima de atirador de Campinas; ele foi um herói, diz filha

Luís Adorno e Guilherme Mazieiro

Do UOL, em São Paulo e em Campinas (SP)

12/12/2018 14h28Atualizada em 12/12/2018 18h59

Subiu para cinco o número de vítimas do atirador que abriu fogo dentro da catedral de Campinas (SP) após a missa na igreja. Heleno Severo Alves, 84, estava internado em estado grave e morreu no início da tarde desta quarta-feira. Ele havia sido atingido por dois tiros no pulmão e um no fígado. A informação é do hospital municipal Mário Gatti, confirmada pela prefeitura da cidade. 

No hospital, a filha de Heleno disse que vai se lembrar do pai como herói. "Meu pai morreu como herói. É a lição que ele nos deixa. Ele tinha muita fé. Rezo para Deus nos dar força para entender isso tudo um dia", afirmou Ivonete Severo Alves Prates, uma das 8 filhas de Heleno.

Ivonete contou que o pai era devoto de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Campinas e santa que dá nome à igreja onde Euler Grandolpho, 49, fez os disparos.

O pai é lembrado pela filha como herói porque durante o tiroteio ele pediu para que Euler, que tinha a pistola apontada para uma mulher, não atirasse.

Minha mãe disse que era para ele não ir na igreja. Mas ele insistiu porque fazia duas semanas que não ia. Ele morava em Indaiatuba [a 27 km de distância] e tinha perdido o ônibus duas vezes. Por isso insistiu em ir. E aconteceu isso tudo. Mas talvez ela tenha ido mesmo para salvar aquela moça. É a lição de fé que ele nos deixa

Ivonete Severo Alves Prates, uma das 8 filhas de Heleno

Presente na igreja no momento da chacina, Daniele Coutinho contou nesta terça que Heleno estava sentado na frente dela quando ela entrou na catedral para cadastrar o chip de celular que estava vendendo a uma cliente.

Ele conta que travou um diálogo com o atirador e que conseguiu fugir quando Heleno atraiu a atenção do Euler.

"Ele [o atirador] disse assim 'se você não sentar, eu vou dar um tiro na sua cabeça'. Eu disse 'moço, não me mata, pelo amor de Deus, eu tenho três filhos para criar'. Ele disse 'então você vai para trás', eu disse 'não vou'. Tinha um senhorzinho [Heleno] na frente, foi na hora que o senhorzinho levantou, foi a hora que ele atirou e eu sai correndo. Todo mundo saiu correndo. Ele falou 'vou matar todo mundo aqui dentro e começou a dar um monte de tiro'", contou.

Além de Heleno, foram mortos pelo atirador Sidnei Vitor Monteiro, 39; José Eudes Gonzaga, 68; Cristofer Gonçalves dos Santos, 38; Elpidio Alves Coutinho, 67. Segundo a polícia, o atirador se suicidou. Outras três pessoas ficaram feridas, mas já receberam alta. 

A Polícia ainda investiga a motivação do ataque. Grandolpho não tinha antecedentes criminais.

Entenda como foi o ataque

Imagens de uma câmera interna da catedral mostram que o atirador estava sentado em um banco próximo aos fundos da igreja. Ele se levanta e atira em pelo menos três pessoas atrás dele. Duas delas permanecem caídas enquanto uma outra se levanta, cambaleante, e vai em direção à porta. Enquanto isso, um grupo de pessoas que estava do lado oposto da igreja também vai em direção à porta. O homem então passa a atirar em direção a elas.

Uma pessoa que estava no centro da catedral fica no chão. O homem então vai até o corredor, atira em direção à saída da igreja e caminha até ela. Ele recarrega a arma e, enquanto isso, uma mulher escondida entre os bancos se levanta e consegue escapar. O atirador caminha em direção ao altar e sai do campo de visão da câmera. As próximas imagens mostram dois policiais entrando na igreja.

De acordo com a PM, enquanto atirava, Euler Fernando Grandolpho foi atingido por um disparo efetuado por policiais e, ferido, se suicidou --o que, na avaliação da corporação, impediu que o homem continuasse atirando contra quem estava dentro da igreja. (*Colaborou Mirthyani Bezerra)