Em diário, atirador de Campinas disse que precisava fazer "algo grande"
O atirador que matou cinco pessoas na catedral de Campinas (SP) na terça (11) escreveu em seu diário que era preciso fazer "algo grande" para que sua ação provocasse "a necessidade do 'Estado' fazer uma investigação rigorosa do que aconteceu". As mensagens foram escritas pelo atirador Euler Fernando Grandolpho em textos em forma de diário, segundo afirmou a Polícia Civil nesta sexta-feira (14).
"Preciso fazer 'algo grande' para que isto provoque a necessidade do 'Estado' fazer uma investigação rigorosa do que aconteceu e quem são os verdadeiros culpados", escreveu Grandolpho em anotação.
Segundo o delegado-chefe da Seccional de Campinas, José Henrique Ventura, uma "análise subjetiva da interpretação dos bilhetes" sugere que ele achava que estava sendo perseguido e que ninguém se importava com isso. "Nem a família estava dando atenção na avaliação dele. Só fazendo um massacre. Se esse massacre que ele cita foi o tiroteio na catedral, não sabemos", analisou.
O que ele coloca e em letra maiúscula [nos escritos] é que só 'um massacre' daria jeito nessa perseguição de que ele julgava ser vítima. Se ir para a igreja seria parte desse plano, ainda não podemos dizer
Delegado-chefe José Henrique Ventura
O delegado lembrou que Grandolpho havia registrado boletins de ocorrência sobre a suposta perseguição, mas com investigações que não surtiram resultado.
Os bilhetes exibidos nesta sexta pelas autoridades que investigam o caso datam de 28 de dezembro do ano passado. Em um trecho, Grandolpho afirma estar em um jogo quando teria início "a interferência". "Depois de uns 10 minutos, levantei e fui carregar a CZ", escreveu, referindo-se ao mesmo tipo de pistola 9mm encontrada com ele, além de um revólver calibre 38. "Pararam na hora", completou.
Em seguida, Grandolpho sugere que precisa fazer algo "grande", mas sem especificar o quê. Isso seria uma maneira, considerou, de se chegar a "quem são os verdadeiros culpados".
De acordo com a polícia, há indícios de que o atirador teria algum tipo de transtorno mental, já que, por essa é por outras anotações, fazia menção a supostas perseguições das quais seria alvo.
Em outro trecho de diário divulgado pela polícia, mas de um bilhete datado de 29 de agosto deste ano, o rapaz volta a citar supostos importunadores e conclui: "Infelizmente, elas [vozes ou pessoas] só param com ajuda profissional (o Estado negou, minha família negou) ou com um massacre".
O material foi aprendido em uma primeira varredura feita na casa de Grandolpho. O material de uma segunda varredura, feita ontem, ainda será analisado - há munição, carregadores e mais trechos do diário, ainda não analisados. Há também recortes de notícias de jornal e revistas - alguns, pelo que a reportagem verificou, sobre depressão e suicídio.
Em um trecho do diário ao qual o UOL teve acesso na quarta (12), o atirador faz possível referência a um massacre no Ceará e outro em Realengo.
"Passei com o meu cão em frente uma construção ao lado de uma casa q os moradores tem uma veterinária e uma delas gritou com 'as paredes': 'e aí Ceará', sobre o massacre ocorrido dias atrás. Ok. Hj, 31/01/18 passei por lá e falei alto com o celular desligado na orelha E AÍ REALENGO", escreveu.
A referência provável é à chacina ocorrida no dia 27 de janeiro deste ano em uma casa de shows de Fortaleza onde 14 pessoas foram assassinadas. O crime teria sido fruto da disputa por territórios de tráfico de drogas entre o PCC (Primeiro Comando da Capital), o CV (Comando Vermelho) e o GDE (Guardiões do Estado).
Já "Realengo" é uma possível referência ao que ficou conhecido como massacre de Realengo, quando 12 crianças foram mortas e outras 11 ficaram feridas na Escola Municipal Tasso da Silveira, na zona oeste do Rio, em 2011. O atirador era o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, que invadiu duas salas do 8º ano atirando com dois revólveres.
Polícia ouvirá mais testemunhas
Nos próximos dias, a polícia deve ouvir outras pessoas, entre testemunhas e familiares do atirador, além de seguir na análise do material apreendido na casa de Grandolpho - além de munição, carregadores, diário e recortes de jornais e revistas, também uma pequena porção de maconha.
Ontem, segundo o delegado que chefia a investigação, Hamilton Caviola, um amigo do rapaz prestou depoimento e relatou que há 11 anos Grandolpho dissera que queria comprar uma arma.
"Em 2007 ele já tinha pedido a esse amigo que achasse uma arma fria [ilegal] para ele, em função dessa perseguição que ele acreditava [estar sofrendo]. O amigo estranhou e não fez nada", declarou o delegado.
Entenda como foi o ataque
Imagens de uma câmera interna da catedral mostram que o atirador estava sentado em um banco próximo aos fundos da Catedral de Campinas. Ele se levanta e atira em pelo menos três pessoas atrás dele. Duas delas permanecem caídas enquanto uma outra se levanta, cambaleante, e vai em direção à porta. Enquanto isso, um grupo de pessoas que estava do lado oposto da igreja também vai em direção à porta. O homem então passa a atirar em direção a elas.
Uma pessoa que estava no centro da catedral fica no chão. O homem então vai até o corredor, atira em direção à saída da igreja e caminha até ela. Ele recarrega a arma e, enquanto isso, uma mulher escondida entre os bancos se levanta e consegue escapar. O atirador caminha em direção ao altar e sai do campo de visão da câmera. As próximas imagens mostram dois policiais entrando na igreja.
Questionado sobre o suposto suicídio do rapaz, conforme apontado pela Polícia Militar, os delegados informaram não haver dúvida a respeito, embora o laudo de necropsia não tenha ainda sido concluído.
"Um ministro da Eucaristia que estava na igreja viu a cena do rapaz atirando no próprio ouvido, após ser baleado pela PM. O fato é que ele estava preparado mesmo para um massacre, não fosse a ação policial", concluiu Ventura.
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