Segurança que deu "gravata" e matou jovem chega a delegacia para depoimento
O segurança Davi Ricardo Moreira, apontado como autor do homicídio de Pedro Henrique Gonzaga, 19, morto por sufocamento na tarde da última quinta-feira (14) após levar um golpe conhecido como "gravata" no supermercado Extra da Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), presta depoimento na Delegacia de Homicídios na tarde desta quarta-feira (20).
Ele chegou por volta das 16h20 de boné e óculos, tentando despistar os jornalistas que estavam na porta da delegacia. Moreira e André França, advogado que o representa, não falaram com a imprensa.
Ontem, a mãe de Pedro Henrique, Dinalva dos Santos de Oliveira, prestou depoimento. Hoje, ela registrou queixa formal por agressão contra Moreira --a mãe da vítima deixou a delegacia antes da chegada do segurança.
O segurança foi preso em flagrante no dia do crime, mas após pagamento de fiança foi liberado.
Apesar de ter sido indiciado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar), o diretor do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Antonio Ricardo, declarou ontem que é possível que ocorra uma mudança do indiciamento para homicídio doloso (com intenção de matar).
"O delegado do plantão ainda não tinha elementos suficientes para ter uma decisão mais concreta. Optou por fazer um flagrante de homicídio culposo arbitrando fiança", justificou Ricardo. "Depois de registrado o fato, surgiram novas imagens na mídia que estão sendo analisadas minuciosamente. Se houve intenção de matar, ele poderá responder por homicídio doloso", prosseguiu.
Uma testemunha-chave foi ouvida na segunda-feira (18). "Essa testemunha trouxe informações relevantes, já que ela declarou que alertou diversas vezes esse segurança no sentido de ele largar o rapaz que estava por baixo já estava desfalecido. O segurança ouviu a mensagem e, mesmo sendo alertado diversas vezes, permaneceu naquela posição, chegando à consequência de tirar a vida daquele rapaz", disse Ricardo.
O delegado também afirmou que a polícia coletou novas imagens sobre o episódio na tarde de ontem. "Foi possível identificar um outro agente patrimonial, do qual só aparecia o coturno dele. Essa pessoa também vai ser chamada à delegacia para prestar depoimento", declarou.
Como o laudo do IML constatou morte por asfixia e no caso de Moreira ser indiciado por homicídio doloso, "esse homicídio doloso será qualificado pela asfixia com pena mínima de 20 anos de prisão", acrescentou o delegado.
Ao menos dois seguranças testemunharam o caso e não intervieram. Segundo Ricardo, eles devem ser indiciados por omissão de socorro. "Eles poderão responder por homicídio doloso também [caso a acusação de Moreira seja convertida], já que eram agentes garantidores daquela vida naquele instante", afirmou.
"Ele assassinou meu filho", diz mãe
Em depoimento prestado à polícia ontem, a mãe de Pedro Henrique afirmou que "ele [o segurança] assassinou o meu filho".
"A mãe viu o filho dela em momento de surto [psicótico]. Ele correu, o segurança foi atrás, aplicou o golpe nele, derrubou o garoto no chão. E ele ficou", disse o advogado da família, Marcello Ramalho, que também negou qualquer tipo de suposta ameaça feita por Pedro Henrique.
"Ele estava desarmado, sem oferecer perigo para o agente que justificasse aquela ação, e mesmo assim ele prosseguiu. Não atendeu aos apelos", disse o defensor, que acompanhou o depoimento.
Ramalho negou que Pedro Henrique tenha tentado pegar a arma do segurança. "Isso não existiu em momento algum. No momento da ação, a vítima estava desarmada. Nada justificaria ele prosseguir naquela ação que ceifou a vida do Pedro Henrique."
O que diz o segurança
André França Barreto, advogado do segurança, disse, na semana passada, que ele acusou a vítima de simular um problema de saúde.
"O rapaz simulou um ataque epiléptico, o Davi se aproximou para prestar os primeiros socorros e teve a arma retirada do corpo. Ele chegou a apontar a arma para os presentes no mercado e, neste momento, um segundo segurança conseguiu intervir. Neste momento, o Davi e o jovem entraram em luta corporal e o segurança cai por cima dele, o deixando imobilizado até a chegada de reforços", disse Barreto.
O advogado informou ainda que o segurança acompanhou a vítima até a unidade de saúde e que ficou detido por três horas na delegacia para prestar esclarecimentos.
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