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Polícia apura envolvimento de mais um chefe de milícia em morte de Marielle

O policial civil Rafael Luz Souza é apontado como chefe de milícia na zona oeste do Rio Imagem: Divulgação

Flávio Costa, Luís Adorno e Sergio Ramalho

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, no Rio*

06/03/2019 04h00Atualizada em 12/03/2019 15h18

Resumo da notícia

  • Documento revela que mais um chefe de milícia é investigado pelo homicídio de Marielle Franco e Anderson Gomes
  • Preso desde 2018, suspeito é policial civil e ficou em silêncio durante interrogatório na Delegacia de Homicídios

A DH (Delegacia de Homicídios) do Rio de Janeiro investiga o policial civil Rafael Luz Souza, conhecido como Pulgão, pelo possível envolvimento no duplo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março do ano passado, informa documento judicial obtido pelo UOL.

Preso desde julho do ano passado, Pulgão é apontado pela Corregedoria da Polícia Civil como chefe de uma milícia que atua nos bairros de Realengo, Bangu e Padre Miguel, na zona oeste do Rio. Ele foi detido com uma metralhadora antiaérea .50, cinco fuzis, munição e dois carros roubados.

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A principal linha de investigação da Polícia Civil relaciona o duplo homicídio aos integrantes de uma outra milícia, comandada pelo ex-oficial do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega (veja mais abaixo). Ele é tido também como chefe do chamado de "Escritório do Crime", um grupo de matadores de aluguel.

Por meio de nota enviada após a publicação da reportagem, a defesa de Pulgão afirmou que ele foi ouvido "na qualidade de testemunha" no âmbito do inquérito sobre a morte da vereadora psolista e de seu motorista. Os defensores dizem ainda que seu cliente foi "advertido quanto ao dever legal de dizer a verdade, sob pena da prática de crime de falso testemunho, onde, a todo o momento buscou apurar qualquer informação que Rafael pudesse fornecer para contribuir com as investigações".

De acordo com fontes policiais, Pulgão é um ex-integrante do Escritório do Crime. Ele saiu do grupo após falhar numa ação que resultou no assassinato de um filho de um bicheiro.

Quase um ano após o crime, a polícia ainda não concluiu o inquérito a respeito das mortes de Marielle e Anderson. 

Portador de informações privilegiadas

Pulgão é acusado de disputar territórios com o criminoso Wellington da Silva Braga, o Ecko, considerado atual chefe da Liga da Justiça, a maior milícia fluminense.

O setor de Inteligência policial do Rio afirma que Pulgão seria "portador privilegiado de várias informações acerca de vários crimes de homicídios" ocorridos em 2017 e 2018. 

A reportagem apurou que na prisão está custodiado, ele se encontra em uma "cela de seguro", ou seja, lugar reservado aos presos ameaçados de morte.

Ofício da Delegacia de Homicídios

Em 3 de dezembro de 2018, a DH pediu à Justiça que ele fosse escoltado da prisão até a sede da delegacia, no bairro da Barra da Tijuca, para prestar depoimento.

"Tal solicitação se faz necessária em razão de o citado ser investigado no inquérito policial 901-00385/2018", lê-se no ofício encaminhado ao juiz da 33ª Vara Criminal do Rio (veja fac-símile abaixo). O número é da investigação sobre as mortes de Marielle e Anderson. O documento não especifica qual teria sido a atuação dele no duplo assassinato.

Pulgão foi ouvido na DH quatro dias depois. Durante o interrogatório, no qual se manteve em silêncio, foi questionado se era amigo ou conhecia "Capitão Adriano".

Os policiais se referiam ao ex-oficial do Bope (Batalhão de Operações Especiais), acusado de comandar a milícia de Rio das Pedras, também na zona oeste do Rio, e o Escritório do Crime.

Capitão Adriano também é suspeito de participar do duplo homicídio da vereadora e de seu motorista. Ele está foragido.

Empresário morreu na mesma noite que Marielle

De acordo com seus advogados, em petição enviada ao STF (Supremo Tribunal Federal), ao chegar à DH, Pulgão foi informado pelos policiais que iria responder perguntas relacionadas a vários inquéritos de homicídios. Seus defensores pediram, sem sucesso, acesso aos outros inquéritos.

Por esta razão, Pulgão foi questionado sobre a morte do empresário Marcelo Diotti da Mata, assassinado a tiros na Barra da Tijuca, em circunstâncias semelhantes e na mesma noite em que morreram Marielle e Anderson. A munição usada no homicídio de Mata é a do mesmo tipo da encontrada pelos policiais quando prenderam o miliciano.

Armamento encontrado com Pulgão e seus comparsas em julho do ano passado Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Marcelo da Mata era casado com a cantora Samantha Miranda, ex-mulher do ex-vereador Cristiano Girão, condenado pela Justiça do Rio por formação de quadrilha e crime eleitoral por comandar uma milícia em Jacarepaguá (outra localidade da zona oeste carioca). Durante o processo, Girão alegou que não havia "provas consistentes" de sua atuação como miliciano.

Depois de cumprir pena, Girão está em liberdade condicional desde 2015. Ele é um dos milicianos cuja presença foi registrada na Câmara de Vereadores do Rio dias antes da morte da vereadora e de seu motorista, como revelou o site The Intercept Brasil

Advogados recorrem ao STF

Os advogados de Pulgão recorreram ao STF para ter acesso aos autos dos inquéritos policiais. Relator do caso, o ministro Ricardo Lewandowski negou o pedido de liminar, antes de julgar o mérito da ação.

A DH e o Ministério Público do Rio alegam que os casos correm em sigilo e por isso advogados não podem ter acesso aos autos. No último dia 28 de fevereiro, a Justiça do Rio negou um pedido de liberdade de Pulgão.

Os advogados de Pulgão afirmaram ainda, na nota enviada, "que até o momento, não há qualquer indiciamento ou formalidade de acusação quanto a morte da vereadora Marielle e de seu motorista Anderson. A defesa ainda repudia o desvirtuamento da diligência que visava obter informações ou dados relevantes sobre os autores do crime praticado, que não guarda qualquer relação com Rafael".

Em conversa por telefone, após a publicação desta reportagem, o advogado Daniel Dias disse que obteve acesso ao inquérito da morte de Marcelo Diotti da Mata, por meio de uma liminar concedida pela Terceira Câmara do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ele afirma que também neste caso, seu cliente não é investigado, e que foi ouvido pelos policiais na qualidade de testemunha.

*Colaborou Bernardo Barbosa, do UOL, em São Paulo

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