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Presos por grilagem de terra podem ter elo com morte de Marielle, diz MP

Major da PM Ronald Paulo Alves Pereira é um dos presos  - José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Major da PM Ronald Paulo Alves Pereira é um dos presos Imagem: José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Gabriel Saboia

Do UOL, no Rio

22/01/2019 12h44Atualizada em 12/03/2019 15h19

A coordenadora do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão vinculado ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), Simone Sibilio, afirmou nesta terça-feira (22) que os cinco presos por envolvimento em uma milícia especializada em agiotagem e grilagem de terras, na zona oeste da capital fluminense, podem estar relacionados diretamente ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes, em março do ano passado.

O MP não informou quantos deles foram ouvidos como testemunhas durante as investigações sobre as mortes da parlamentar e do motorista. Mas confirmou que eles chegaram a ser convocados pela Delegacia de Homicídios da capital. No entanto, de acordo com a promotora, essa investigação visa crimes de agiotagem. "Não descartamos a participação deles no crime da Marielle, mas também não podemos afirmar. Não é o objeto da investigação", disse a promotora. 

De acordo com ela, a partir da prisão dos cinco presos --entre eles um policial militar da ativa e outro da reserva-- será possível realizar novas convocações para depoimentos sobre o crime que envolve a morte da parlamentar. Outras oito pessoas suspeitas de envolvimento com a mesma organização criminosa estão foragidas e são alvos de mandados de prisão na operação desta terça.

Em dezembro de 2018, o então secretário de Segurança Pública, general Richard Nunes, afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que a vereadora Marielle Franco (PSOL), morta em março do mesmo ano, teria sido morta por uma quadrilha especializada em grilagem de terras.

De acordo com ele, os criminosos teriam "superestimado" a atuação da parlamentar nessas localidades e, por isso, cometido o crime.

Em entrevistas posteriores às declarações do secretário, membros do PSOL negaram que Marielle estivesse sendo vítima de ameaças ou que tivesse uma atuação mais profunda de combate a esses grupos.

De acordo com a promotoria, a atuação da quadrilha se concentrava nas favelas de Rio das Pedras e Muzema. Também foram realizadas buscas em endereços nos bairros da Barra de Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Vargem Grande e Vargem Pequena, nesta terça.

"Se trata de uma organização criminosa que atua no ramo imobiliário, no aluguel e vendas de terrenos e imóveis, mediante extorsão de taxas, tomada de território e cobra da população, por exemplo, aluguéis de calçadas para quem quer trabalhar no local. Também há evidências de que eles fazem agiotagem, grilagem de terras, receptação de cargas roubada e dominação dos territórios. Sempre aliando isso ao porte de arma de fogo", afirmou a promotora.

Membros do MP-RJ falam a jornalistas sobre prisão de milícia envolvida em grilagem - Gabriel Saboia/UOL - Gabriel Saboia/UOL
Membros do MP-RJ falam a jornalistas sobre prisão de milícia envolvida em grilagem
Imagem: Gabriel Saboia/UOL

O major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves Pereira está entre os presos. Ele é apontado como um dos líderes da organização que explora o mercado imobiliário da região. Completariam a cúpula do grupo, Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como Capitão Adriano, e Ronald Paulo Pereira, o Major Ronald. Ambos estão foragidos e são alvos de mandado de prisão.

Flávio Bolsonaro na mira?

A coordenadora do Gaeco, Simone Sibilio, afirmou que o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) não é investigado no caso.

Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, o senador eleito Flávio Bolsonaro empregou até novembro do ano passado, em seu gabinete na Alerj, a mãe e a mulher do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, suspeito de comandar milícia no Rio de Janeiro.

"Recebemos esta notícia pela imprensa. O deputado não é investigado até o momento, sequer é citado por esta investigação", disse.

Além do Major Ronald, foram presos nesta manhã: Maurício Silva da Costa, Laerte Silva de Lima, Manoel de Brito Batista e Benedito Aurélio Ferreira Carvalho.

Segundo a investigação, o grupo controlava a compra e venda de loteamentos e imóveis em diversos bairros da zona oeste, e também manipularia documentos necessários para a realização dos negócios. Jorge Alberto Moreth, presidente da Associação de Moradores de Rio das Pedras, também teria ligações com o grupo, segundo informações do MP.

"Foram apreendidas seis armas de fogo nas associações de moradores de Muzema e Rio das Pedras. Além disso apreendemos farta documentação relativa à venda de imóveis nesses locais e um número expressivo de cheques apreendidos com altos valores - no condomínio Vivendas do Itanhangá, onde seria um dos escritórios da organização criminosa, foram encontradas 200 folhas em cheques já assinados e R$ 50 mil em espécie, o que reforça que havia ali a prática do crime de agiotagem", completou a promotora.