Número de brasileiros que se declaram pretos cresce no país, diz IBGE
A proporção de brasileiros que se declaram pretos --grupo que, com os pardos, forma a população negra, de acordo com os critérios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)-- foi a única que cresceu em todas as regiões do país entre 2015 e 2018, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua feita pelo instituto.
Em pontos percentuais, o maior avanço ocorreu no Centro-Oeste, indo de 6,4% da população em 2015 para 9,2% em 2018 (2,8 pontos percentuais). No Nordeste, que tem a maior proporção de pretos no país, a população deste grupo foi de 9,2% para 11,3% (2,1 pontos percentuais).
No Sudeste, os pretos são 9,9% da população (aumento de 1,3 ponto percentual). O grupo representa 7,1% dos habitantes do Norte (avanço de 0,7 ponto percentual) e 4,8% dos do Sul (crescimento de 1,2 ponto percentual).
A Pnad Contínua 2018 também informou as mudanças nas populações branca e parda. A primeira diminuiu em todas as regiões. A segunda só avançou na região Sul.
Mesmo com as mudanças, os grupos majoritários em cada região não tiveram alteração em 2018. Os brancos continuam sendo maioria nas regiões Sul (73,9%) e Sudeste (50,7%), assim como os pardos no Norte (71,8%), Nordeste (63,2%) e Centro-Oeste (53%).
No Brasil como um todo, o maior aumento em pontos percentuais também é da proporção da população preta, que saiu de 7,4% em 2012 para 9,3% seis anos depois. Os pardos foram de 45,3% para 46,5%. Os brancos, por sua vez, eram 46,6% da população e chegaram a 43,1%.
Segundo Maria Lúcia Vieira, gerente da Pnad Contínua 2018, o crescimento da população parda é "natural e esperado" por causa da miscigenação da população ao longo do tempo. O avanço da população preta se deveria ao aumento na autodeclaração.
Uma questão que pode ter influenciado para este dado é a presença de políticas afirmativas para redução das desigualdades raciais, diz a pesquisadora. Um exemplo deste tipo de medida é a implantação de cotas raciais em universidades públicas.
Vieira explica também que seria necessário verificar se a taxa de fecundidade da população preta, especificamente, é maior do que a dos outros grupos, mas ainda não há esse dado. A taxa de fecundidade é a estimativa de filhos que uma mulher tem ao longo da vida.
Infraestrutura desigual entre regiões
A Pnad Contínua 2018 também traz dados sobre serviços de água, esgoto e lixo que apontam as desigualdades de infraestrutura entre os domicílios das diferentes regiões do país.
No Norte, 58,9% têm acesso à rede de água, contra 92,4% no Sudeste. Mesmo o acesso à rede não é garantia de fornecimento constante. No Nordeste, por exemplo, 26,1% da população ligada à rede de água não consegue usá-la todos os dias. No Sul, este percentual é de 1,9%. No Brasil como um todo, o índice é de 10,2%.
A discrepância também existe quando se trata de coleta de esgoto. No Norte, só 21,8% dos domicílios são ligados à rede geral. O maior percentual está no Sudeste (88,6%). Em todo o país, 66,3% dos domicílios têm coleta de esgoto. Os índices de domicílios com coleta de esgoto tiveram pouca variação entre 2016 e 2018.
Os números sobre coleta de lixo mostram as regiões Norte (17,6%) e Nordeste (15,3%) com os maiores percentuais de queima de lixo dentro de propriedades. No Sudeste, a proporção deste tipo de descarte é de 2,7%. A região tem o maior percentual de domicílios com coleta diária de lixo: 91,1%.
De acordo com Maria Lúcia Vieira, os indicadores das regiões Norte e Nordeste são, em geral, piores do que o do restante do Brasil desde que a pesquisa é feita, em 2012. Mas, segundo ela, há avanços.
"Em termos de acesso a serviços, esgoto e lixo, a gente vê que os indicadores estão melhorando", diz.
No entanto, a velocidade desta evolução depende de outros fatores, como se os serviços de água, esgoto e lixo estão acompanhando o crescimento dos locais pesquisados. "E aí tem a ver com como as regiões cresceram, se foi planejado, organizado ou não."
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