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Rota do tráfico: Rio Branco tem 7 homicídios em 3 horas e já soma 30 no ano

Papoco, bairro periférico que margeia o centro da capital do Acre, Rio Branco - 26.abr.2011 - Daniel Marenco/Folhapress
Papoco, bairro periférico que margeia o centro da capital do Acre, Rio Branco Imagem: 26.abr.2011 - Daniel Marenco/Folhapress

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

19/01/2020 08h11

Resumo da notícia

  • Tensão entre facções estaria por trás de assassinatos registrados no AC em 2020
  • Noite de sábado teve chacina de seis pessoas em um bar da capital, Rio Branco
  • Acre tem quatro facções: PCC, CV, Bonde dos 13 e Ifara
  • Estado fica no caminho de uma das principais rotas de entrada de droga no Brasil

Com quatro facções criminosas presentes e no caminho de uma das principais rotas de entrada de cocaína no Brasil, Rio Branco, capital do Acre, registrou 30 assassinatos nos primeiros 18 dias do ano. Só na noite de ontem, num período de 3 horas, foram sete homicídios na cidade.

Segundo a Polícia Militar, os homicídios de ontem foram cometidos por integrantes da facção B13 (Bonde dos 13), que é aliada do grupo paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) no Acre. Juntas, as duas batem de frente com membros do CV (Comando Vermelho) no estado. O Acre ainda tem uma quarta facção, menor: a Ifara.

Homens armados, dentro de uma caminhonete Hilux branca, entraram em um bar e mataram seis pessoas. De lá, partiram para outro endereço e balearam outra pessoa. PM e Polícia Civil, por meio do DHPP (Delegacia de Homicídios e de Proteção à Pessoa), investigam o caso e tentam localizar e prender os atiradores.

Anuário do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), divulgado em setembro do ano passado, aponta que a região Norte do país é a única em que a taxa de mortes violentas cresceu no Brasil em 2018.

Os únicos estados em que a taxa de mortes subiu foram Amapá, Pará, Tocantins e Roraima, todos na mesma região. Investigadores locais apontam que a violência tem aumentado, desde meados de 2014, por conflitos entre facções, na disputa pelo território.

"Se considerarmos a dinâmica do crime organizado e os esforços feitos pelos governos locais, veremos que as mortes da região Norte indicam um quadro ainda muito intenso de instabilidade e de conflitos", afirma Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Para o presidente do GNCOC (Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas), Alfredo Gaspar de Mendonça, o Norte se tornou rota internacional de tráfico. "Temos o eixo da introdução da droga no país por esses novos corredores da região Norte, que aumentou —e muito— essa guerra de facções, com número significativo de homicídios", conta.

A dinâmica das facções criminosas no AC

Até 2011, o Acre não havia registrado nenhuma facção criminosa atuando na região. Em 2013, foi identificada uma célula do PCC dentro do complexo prisional Francisco de Oliveira Conde, que fica em Rio Branco. Entre 2015 e 2016, chegou o CV.

Descontentes com burocracias impostas pelo PCC —como pedir autorização para matar, por exemplo—, alguns presos deixaram a facção paulista e criaram o B13. O PCC ficou fragilizado e decidiu se aliar ao B13 para fazer frente ao CV.

Depois, o Bonde dos 13 ainda teve uma dissidência. Alguns criminosos saíram para criar a facção Ifara. Atualmente, as aliadas Bonde dos 13 e PCC, além da independente Ifara, fazem frente ao CV no estado.

"As facções vieram para cá por causa da fronteira. E pela facilidade de entrada e de saída do país. Temos duas fronteiras, com Peru e Bolívia. Ficam nas cidades do Acre de Cruzeiro do Sul e Brasiléia. Há vários chefes de facções que atuavam nessas duas cidades que cumprem pena aqui em Rio Branco", explicou a juíza Luana Campos.

Do Comando Vermelho, são cerca de 900 presos no complexo penitenciário de Rio Branco. Os demais, das três facções juntas, somam cerca de 1.500. "Sobre os integrantes que estão na rua nós não temos uma métrica. Mas sabemos, realmente, que as facções dominam. Dominam bairros locais", explicou a magistrada.

O promotor Bernardo Albano afirmou "todas elas têm características de facção que buscam domínio de rotas relacionadas a drogas". "A partir do ano de 2016 e de 2017, ocorreu uma situação mais intensa. Com o racha entre CV e PCC, houve um realinhamento, como em todos os estados. Não foi diferente aqui."

Os dados da violência no Brasil, segundo anuário de 2019

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