Governo Doria quer ligar SP a Campinas com linha inspirada em trem de Miami
Resumo da notícia
- PSDB promete quinto projeto em 16 anos para conectar capital a Campinas com trem
- Decisão recente do TCU favorece concretização de trem paulista
- Equipe de Doria se inspira em serviço de Miami para ferrovia no interior de SP
- Apesar da promessa, Secretaria de Transportes Metropolitanos não fala em data para inauguração
Pela quinta vez em 16 anos, o governo de São Paulo promete um trem entre a capital paulista e Campinas. Agora, o projeto é uma linha inspirada no Brightline, que conecta Miami, Fort Lauderdale e West Palm Beach e se apresenta como o único serviço ferroviário de passageiros dos Estados Unidos com proprietários e operadores particulares.
Por aqui, a ideia do governo tucano é também deixar para a iniciativa privada as obras e a operação do futuro serviço, batizado de TIC (Trem Intercidades Paulista). A ferrovia deverá se estender até a cidade de Americana, a 40 quilômetros de Campinas e a 130 quilômetros de São Paulo.
A linha é promessa de campanha do governador João Doria (PSDB), que afirma que desta vez as obras sairão do papel, embora não apresente prazo para início da operação.
Decisão federal ajuda trem paulista
Segundo o secretário de Estado de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, a pasta quer terminar até dezembro as audiências públicas e a assinatura do contrato para início das obras.
Doria chegou a incluir outros trechos no seu plano de transporte ferroviário, mas o trajeto até Americana é tratado como prioritário.
No fim do ano passado, uma decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) deu um empurrãozinho ao projeto.
Questionado pelo Ministério da Infraestrutura se era possível renovar a concessão da malha ferroviária federal em vez de realizar nova licitação, o TCU aprovou a renovação sob a condição de que todas concessionárias de logística, hoje operadoras da malha, executem diversas obras de melhoria.
Dessa forma, a concessão das vias para transporte de carga que vence em 2028 deverá se estender até 2058 e implicará numa série de investimentos da parte das concessionárias.
No caso do Estado de São Paulo, onde a malha ferroviária federal tem 2.000 quilômetros e corta 70 cidades, a contrapartida é que as concessionárias facilitem a futura implantação do transporte de passageiros.
"Economizamos em desapropriações, eventuais licenciamentos e com a utilização da própria malha férrea", afirma o secretário ao UOL.
Segundo Baldy, a decisão do Tribunal favorece também os projetos de trem para o Vale do Paraíba, Santos e Sorocaba, em estudo pelo governo. "Mas vamos finalizar o para Americana primeiro", diz.
Além das empresas de logística que renovarão a concessão e farão obras para permitir a implantação do trem de passageiros, será feita licitação para escolher empresa que operará o sistema e também fará parte das obras.
"É provável que as empresas tenham de construir uma via dedicada para carga pelo menos a partir de Perus", afirmou Baldy.
SP-Campinas em uma hora
Baldy afirmou que o governo trabalha neste momento na modelagem do projeto, mas há várias decisões que já foram tomadas e outras medidas, cogitadas.
O tempo de viagem é uma delas: deverá ser de uma hora entre São Paulo e Campinas, para ser competitivo com o automóvel e o ônibus. A secretaria estimou potencial de 65 mil passageiros por dia no trajeto.
Outro item a ser definido é o preço. Hoje, a viagem de ônibus custa R$ 28.
É provável que o trem seja movido a biodiesel, assim como ocorre no trem da Flórida, e não eletrificado.
Um dos pontos quase pacíficos, de acordo com o secretário, é que a composição terá linha férrea dedicada ao expresso.
Para conseguir cumprir o trajeto de pouco mais de 100 quilômetros entre Campinas e São Paulo em uma hora, será necessário que o trem circule a uma velocidade superior a 120 quilômetros por hora, contando o fato de que poderá parar em cidades do caminho, como Vinhedo e Valinhos, endereço de muitos trabalhadores da capital.
Extensão da linha 7-Rubi
O trem para Americana será uma extensão da Linha 7-Rubi, que hoje liga a estação da Luz, em São Paulo, a Jundiaí, em uma hora e meia de viagem.
Na primeira semana de janeiro de 2019, conta o secretário, ele se reuniu com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.
Baldy afirma que as intercorrências na relação entre Jair Bolsonaro (sem partido) e Doria (PSDB), que passou a criticar o presidente, não afetaram os andamentos do projeto.
"Para nós, não mudou nada. O tratamento segue sendo o mesmo", afirma Baldy.
O trem de Miami
Na Flórida, o Brightline funciona desde maio de 2018 e liga Miami Central a West Palm Beach, a 110 quilômetros, em uma hora, com parada em Fort Lauderdale.
Enquanto as ações da companhia brilham na Bolsa de valores americana, acidentes fatais sem explicação aparecem periodicamente nos jornais da Flórida.
No mais recente, do dia 19 de novembro, o trem se chocou com um carro, e o motorista do carro morreu.
O trem corta áreas urbanas com uma velocidade que ultrapassa 130 quilômetros por hora.
A operadora anunciou a chegada a região de Tampa para logo mais e a disposição de fazer o trajeto até Orlando, a 380 quilômetros de Miami, em três horas. A estação final a ser construída pela empresa Virgin deverá ser localizada próxima de algum dos parques temáticos da cidade.
Há versão em português no site, devido a demanda de brasileiros na área.
"É um projeto que guarda semelhanças com o nosso, por ser de um estado que está retomando o transporte ferroviário após décadas de expansão rodoviária, por conectar também uma grande região metropolitana", analisa o secretário Baldy.
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