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Policial em luta contra o câncer ganha homenagem, e vídeo emociona web

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

07/03/2020 08h39Atualizada em 07/03/2020 18h14

Há cinco anos lutando contra o câncer, a policial militar reformada Claudia Falcão Bastos, 54, foi surpreendida com uma homenagem da Polícia Militar de Alagoas com o coral infanto-juvenil da LBV (Legião da Boa Vontade) cantando a música "Peça Felicidade", do grupo Melim, e ainda ganhou flores dos colegas de farda. A surpresa foi filmada e a forma que ela recebeu a homenagem emocionou as pessoas. Vários vídeos do momento viralizaram nas redes sociais.

Nas imagens, a tenente-coronel Claudia Bastos veste a farda da Polícia Militar de Alagoas. Alegre com a homenagem, ela dança e canta junto com o coral. Em alguns momentos, se emociona e chora.

A homenagem ocorreu no último dia 28, um dia depois de ela se submeter à quinta sessão de quimioterapia contra um câncer no peritônio, metástase de um câncer de mama, descoberto em 2015. Ela foi reformada no ano passado e disse que o momento foi de agradecimento e despedida da PM de Alagoas.

"Como fui reformada, não posso mais usar a farda, mas autorizaram vesti-la porque eu ia fazer a foto representando a policial feminina para o Dia da Mulher. Eu não sabia que ia ser homenageada e agradeci a Deus pelo momento, por ter sido parte da Polícia Militar de Alagoas e por tudo que vem acontecendo em minha vida. O câncer é uma doença transformadora", destacou a policial.

Ela contou que recebeu o convite para fazer uma foto sobre o dia da Mulher, no Quartel-Geral da Polícia Militar de Alagoas, localizado em Maceió, e quando estava se maquiando, foi levada por colegas para a área externa, onde estava o coral.

Claudia Falcão Bastos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Claudia Falcão Bastos
Imagem: Arquivo pessoal

"Eles me puxaram pelo braço e fiquei feito uma barata tonta, ai a ficha caiu: 'isso é pra mim!' Comecei dançar e cantei sentindo a música, que é muito linda. Foi emocionante, foi uma despedida, tenho um amor sem tamanho pela polícia. Sou assistente social e meu trabalho na Polícia Militar de Alagoas era voltado para o policial e para a família dele. Nessa função consegui ver o outro lado", contou.

A Polícia Militar de Alagoas afirmou que a Claudia Bastos "representa a garra da policial feminina" e que estacou que o convite para a policial reformada ocorreu pela bravura dela na luta contra a doença, e ainda que "ela é a personificação da força, da perseverança e segue firme na luta pela saúde. E nós, na torcida! Seu exemplo motiva e serve de inspiração a todos", destacou a Polícia Militar de Alagoas.

A luta

A policial está lutando contra um câncer no peritônio, descoberto no ano passado. O câncer é metástase da doença que atingiu as duas mamas dela, em 2015. Naquele ano, Bastos fez mastectomia radical, foi submetida a quimioterapia e a radioterapia. Um ano depois, fez a reconstrução das mamas e voltou ao trabalho.

"Foi o pior momento da minha vida. Quando eu estava internada, minha irmã mais velha sofreu um acidente automobilístico indo me visitar no hospital e acabou tetraplégica. Passou quatro meses na UTI e depois morreu. Eu não pude visitar minha irmã porque minha imunidade estava muito baixa. Minha família se dividiu em cuidar das duas naquele momento", disse.

Acreditando estar recuperada, de volta ao trabalho e com a alimentação mudada, em 2018, a policial observou um "carocinho" embaixo da axila e voltou ao médico. O diagnóstico: metástase de tumor. Foi submetida à radioterapia novamente. Em 2019, começou a sentir desconforto gástrico, sem se alimentar e fez uma tomografia para descobrir o que estava ocorrendo com seu corpo. "Fui diagnosticada com uma obstrução intestinal, a médica começou a investigar e chegou ao carcinoma peritoneal, além de lesão na coluna lombar, todos causados pela metástase do câncer de mama", relatou.

A policial contou que sempre teve uma vida saudável, praticava exercícios físicos e tentou entender o porquê de ter sido acometida pelo câncer. "Como mulher, eu fazia monitoramento todos os anos e nunca tive problemas. Fazia atividade física, exames, mas pulei um ano o exame e só bastou isso para aparecer um tumor grande na mama esquerda e pequeno, que nem sabia que tinha, na outra mama."

Ela contou que receber o diagnóstico de câncer, por três vezes não foi fácil, principalmente quando soube da metástase. "Os médicos falaram que eu não passaria o ano de 2019 e os meus amigos e familiares não deixaram só. Recebi e recebo muito amor! No final do ano passado minha situação era muito dramática e hoje estou aqui, sem cabelos, lutando. Estou me submetendo a quimioterapia sem saber quando vou parar, vivo um dia de cada vez e tenho gratidão a todos."

Claudia disse ainda que, desde que descobriu o câncer, mantém uma estratégia para não abalar o estado emocional e ter a imunidade afetada. "Eu vivo um dia de cada vez. No dia da homenagem foi o melhor dia da minha vida. Hoje é o melhor dia da minha vida e o de amanhã será também o melhor. As minhas bases são o amor a Deus e a minha vontade de viver", destacou ela, dizendo que tem dois filhos, Davi, 27, e Ana Luísa, 24, e quer ser avó. "Quero ver meus netos, quero viver a vida."

Ela contou que vive uma rotina diária para não se abalar emocionalmente. Rigorosamente, às 4h30 da madrugada ela sai de bicicleta para ver o sol nascer na praia e começar o dia "com a minha intimidade com a natureza e a fartura que vem do sol."

"Só não vou no dia da quimioterapia, que é às terças-feiras. O sol vai nascendo e vou agradecendo, lembro de todos os amigos. O que não posso é me entregar. Faço um investimento diário de estar bem. Quando você é pego por uma doença, para muitos condenatória, você busca o melhor. Não fica na gravidade. É o pensamento positivo que transforma", disse.

Ela deixa o recado para quem recebeu diagnóstico de câncer ou está em tratamento contra a doença. "Chore, coloque a dor pra fora, mas não permaneça nela. Construa uma nova história da sua vida e busque os meios disponíveis que tem para lhe auxiliar, e conectado com a espiritualidade porque tudo passa. Viva um dia de cada vez e não olhe para trás. Transforme a doença no amor."

Errata: este conteúdo foi atualizado
Uma versão anterior do texto identificava incorretamente Ana Luísa como Mariana. As menções foram corrigidas.