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'Fosse o contrário, não teria direito de fiança', diz mãe do menino Miguel

Mirtes Renata Souza, mãe do garoto Miguel - Reprodução/TV Globo
Mirtes Renata Souza, mãe do garoto Miguel Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

04/06/2020 13h35Atualizada em 05/06/2020 07h47

A mãe de um garoto que morreu ao cair de nove andares de um prédio, no Recife, desabafou sobre o caso e lamentou que a patroa, suspeita de ter sido negligente ao cuidar de Miguel Otávio Santana da Silva, de cinco anos, não seja exposta publicamente.

"Se fosse eu, meu rosto estaria estampado, como já vi vários casos na televisão. Meu nome estaria estampado e meu rosto estaria em todas as mídias. Mas o dela não pode estar na mídia, não pode ser divulgado", disse Mirtes Renata Souza, à TV Globo.

Segundo Mirtes, ela trabalhava no apartamento do prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker, e da mulher dele, Sari Corte Real. A identidade da patroa não foi divulgada pela Polícia Civil, que alegou cumprir a Lei de Abuso de Autoridade.

A patroa foi detida suspeita de homicídio culposo (sem intenção de matar), pagou fiança e responderá em liberdade. Mirtes criticou a situação e disse acreditar que "faltou paciência" para tirar a criança do elevador.

"Espero que a Justiça seja feita, porque se fosse o contrário, eu acredito que nem teria direito a fiança. Foi uma vida que se foi, por falta de paciência para tirar dali de dentro. Deixar uma criança sozinha dentro de um elevador, isso não se faz. Uma criança que foi confiada a ela".

A empregada doméstica desceu para passear com o cachorro dos patrões e deixou o menino aos cuidados da mulher. O menino teria entrado em um elevador sozinho antes da queda, à procura da mãe.

"Ela confiava os filhos dela a mim e a minha mãe. No momento em que confiei meu filho a ela, infelizmente ela não teve paciência para cuidar, para tirar [do elevador]. Eu sei, eu não nego para ninguém: meu filho era uma criança um pouco teimosa, queria ser dono de si e tudo mais. Mas assim, é criança. Era criança", disse a mãe, à emissora.

Mirtes diz que não foi obrigada a trabalhar durante a quarentena, mas que optou por ir, por necessidade. O prefeito de Tamandaré, Sergio Hacker, disse em abril que pegou a covid-19. Mirtes afirmou que sua família também foi contaminada, mas todos tiveram apenas sintomas leves.

"Ela [a patroa] disse que a gente não era obrigado a ir. A gente foi porque precisa trabalhar, precisa ganhar nosso salário para pagar as contas", explicou.

No dia do acidente, Mirtes precisou levar o filho junto ao trabalho. Na hora de levar os cães para passearem, disse que o faria sozinha. "Eu disse que eles não iam descer comigo porque estavam aperreando. Se eles se comportassem, eles passeavam mais tarde." Na volta ao prédio, soube que o filho havia caído.

2.jun.2020 - Menino morre ao cair do 9° andar de prédio em Recife - Reprodução/Google Maps - Reprodução/Google Maps
Imagem: Reprodução/Google Maps

Mirtes teve acesso a imagens do elevador em que o menino subiu ontem. "Ontem à noite, eu vim ver a realidade do que realmente aconteceu lá em cima no período em que eu estava andando com a cadela. Que ele entrou no elevador, que não tiveram paciência para tirar ele do elevador. [De] pegar pelo braço e [dizer] 'saia'', disse ela.

A empregada doméstica pediu demissão e disse que ligou para a ex-patroa. Há uma discussão entre saber se ela apertou ou não o andar em que o menino desceria - a patroa nega.

Entenda o caso

O incidente aconteceu no prédio do condomínio Pier Maurício de Nassau, localizado no bairro São José, área central de Recife, na tarde de ontem.

A criança é filha de uma empregada doméstica que trabalhava em um apartamento de um dos prédios e teria saído sozinha pelo edifício quando caiu de uma área comum do 9º andar, de uma altura de 35 metros. A suspeita é de acidente, segundo a perícia do Instituto de Criminalística.

A grade do guarda-corpo do prédio ficou com marcas, sugerindo que o menino subiu no local, e a barra quebrou com o peso da criança. A sacada da área comum não tinha tela de proteção.

Detida e liberada

A patroa da mãe da criança que morreu ao cair do 9º andar de um prédio em Recife, na tarde de ontem, foi detida ontem pela Polícia Civil de Pernambuco suspeita de homicídio culposo (quando não há intenção de matar).

Segundo a polícia, a mulher teria negligenciado e se omitido de cuidar do menino enquanto a empregada doméstica saiu do apartamento para passear com o cachorro da família. Após pagar uma fiança de R$ 20 mil, a investigada obteve a liberdade provisória.

Imagens do circuito de segurança do condomínio apontaram que o menino foi deixado sozinho dentro do elevador pela patroa, instantes após a doméstica sair para passear com o cachorro. O menino saiu à procura da mãe e acabou se perdendo no prédio, vindo a cair fatalmente do 9º andar.