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Testemunha da morte de João Pedro foi levada de blindado para depor

João Pedro, 14, foi morto após operação policial em São Gonçalo (RJ) - Reprodução/Twitter/@_danblaz
João Pedro, 14, foi morto após operação policial em São Gonçalo (RJ) Imagem: Reprodução/Twitter/@_danblaz

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

04/06/2020 13h46

Uma testemunha do assassinato do jovem João Pedro Mattos, 14, no dia 19 de maio durante operação policial no complexo de favelas do Salgueiro, na região metropolitana do Rio, teria sido levada para depor em um caveirão, veículo blindado da Polícia Civil, poucos minutos depois do crime, segundo informa o defensor público Daniel Lozoya.

Por isso, de acordo com a versão dos fatos apresentada pela Defensoria Pública do Estado, o relato colhido não tem efeito legal. A polícia afirma que a testemunha confirmou ter visto criminosos fugindo da casa em que o adolescente estava quando foi atingido. A Civil, no entanto, não explica em que circunstância a testemunha depôs.

No relato dado por esta mesma testemunha ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e ao MPF (Ministério Público Federal), a versão apresentada foi outra: não havia fuga de criminosos quando os policiais chegaram ao local.

A Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), da Polícia Civil, e a PF (Polícia Federal) faziam uma operação no conjunto de favelas quando tiros atingiram a casa onde João Pedro estava.

"Essa menina [a testemunha] teve depoimento feito no caveirão [como é chamado popularmente o blindado da polícia], com a mãe de uma colega. Ao Ministério Público, as duas disseram que não viram criminosos na área da casa", explicou o defensor público Daniel Lozoya.

A defensora pública Lívia Cáseres, por sua vez, explicou que essa e outras irregularidades serão compiladas pela Defensoria e levadas ao Ministério Público, que realiza uma investigação paralela do caso.

"O que a gente pode adiantar é que com certeza as irregularidades do depoimento dessa menina vão ser levadas para o Ministério Público para providências que o MP possa entender como cabíveis", resumiu.

De acordo com a versão inicialmente apresentada pela Polícia Civil, a ação visava o cumprimento de dois mandados de busca e apreensão contra lideranças do tráfico na região.

Durante a ação, supostos seguranças dos traficantes teriam tentado fugir, pulando o muro de uma casa. Segundo os policiais, eles efetuaram disparos e arremessaram granadas na direção dos agentes, que responderam. No local foram apreendidas granadas e uma pistola.

Em relação ao suposto depoimento prestado dentro de um veículo blindado, a Polícia Civil ainda não se manifestou.

Policial entregou arma para análise dias depois do crime

Um dos policiais civis investigados pela morte de João Pedro entregou um fuzil M16 calibre 556 para análise uma semana após o crime. A informação é do jornal O Globo. A arma tem o mesmo calibre do projétil que atingiu o adolescente.

De acordo com a publicação, o agente omitiu que havia usado o fuzil no depoimento que prestou na dia 18 de maio, cinco horas após o adolescente ser baleado.

Na ocasião, ele alegou que tinha disparado dez vezes com um fuzil Parafal calibre 762. Os outros dois agentes que atiraram dentro do imóvel entregaram naquele dia fuzis 556.

Em novo depoimento, no dia 25 de maio, o policial admitiu ter usado um fuzil M16 na ação e entregou para perícia. Segundo o jornal, o policial admitiu que deu "em torno de 16 tiros" dentro do imóvel usando o fuzil calibre 556, que teria levado como "reserva". Ele disse que percebeu o erro no primeiro depoimento depois de contar os cartuchos que sobraram.

O fuzil entregue posteriormente será submetido a confronto balístico com o projétil retirado do corpo de João Pedro.