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Destroços de navio encalhado ficam expostos e viram atração em Santos

Navio encalhado tem partes expostas em Santos (SP) - Marcelo Martins/Divulgação/Prefeitura de Santos
Navio encalhado tem partes expostas em Santos (SP) Imagem: Marcelo Martins/Divulgação/Prefeitura de Santos

Rafaella Martinez

Colaboração para o UOL, em São Vicente (SP)

22/07/2020 12h39

A estrutura de um navio na areia da praia do Embaré, em Santos, chamou a atenção ontem e despertou a curiosidade de quem passava pelo local. A embarcação teria encalhado há mais de 100 anos na cidade, segundo estudiosos, e é a quarta vez que ela fica exposta por conta da maré baixa.

Em nota, a Prefeitura de Santos afirma que monitora a área desde 2017, quando apareceram os primeiros destroços do navio. Devido à baixa da maré ontem, parte da estrutura da embarcação ficou exposta. A área foi cercada para ser isolada e proteger os banhistas.

"Eu costumo caminhar pela orla e a movimentação de pessoas no Canal 5 me chamou a atenção. Não consigo ver um navio, mas fui informada de que se tratava de uma embarcação antiga encalhada e fiquei muito curiosa para saber mais", destaca a advogada Nina Gagliardo.

Navio encalhado tem partes expostas em Santos (SP) - Marcelo Martins/Divulgação/Prefeitura de Santos - Marcelo Martins/Divulgação/Prefeitura de Santos
Estudiosos investigam qual é a origem do navio encalhado em Santos (SP)
Imagem: Marcelo Martins/Divulgação/Prefeitura de Santos
O jornalista José Carlos Silvares, que já publicou dois livros sobre naufrágios na Costa brasileira, acredita que a embarcação de 80 metros tenha encalhado na areia antes da construção dos tradicionais canais que integram a modernização do plano de saneamento na cidade.

"A localização da embarcação, bem colada ao Canal 5, revela que provavelmente Saturnino de Brito (engenheiro responsável pelo projeto dos canais da cidade) ainda não havia projetado o sistema quando o navio chegou na areia. O Canal teria sido então erguido sobre os destroços do navio em 1927. Talvez tenha sido uma tempestade ou algo que o fez perder o rumo e parar na praia por volta do ano 1880", conta.

Silvares ressalta ainda que aproximadamente 10 embarcações já naufragaram na Baixada Santista, a maior parte delas em Santos, por conta da movimentação portuária.

O encalhe mais conhecido é o do navio Recreio, distante cerca de mil metros da embarcação misteriosa. O navio, que ficava estacionada na Praia do Góes, em Guarujá, soltou-se após uma tempestade em 1971, encalhando na areia de Santos. Apesar dos esforços para retirada dos destroços, em dias de maré rasa partes do navio ainda são visíveis.

Investigação

Arqueólogos, geólogos e historiadores do Brasil e de Portugal estiveram na cidade em 2017 com o objetivo de identificar a embarcação. Em outubro daquele ano, a sondagem da área revelou que o navio está totalmente enterrado e que, dentro dele, há um objeto de metal do tamanho de um carro, com seis metros de comprimento e dois metros de largura.

Uma das suspeitas é que os restos sejam do veleiro Kestrel, que teria afundado na mesma região em 1895. Questionado sobre essa hipótese, Silvares afirma não ser possível uma confirmação sem mais análises.

"Só é possível dizer que é uma embarcação de madeira, muito antiga e que, embora as aparições tenham sido mais frequentes nos últimos quatro anos, a existência da estrutura na areia já é conhecida há mais de 30 anos", finaliza.

Monitoramento

De acordo com o arqueólogo Manoel Gonzalez, diretor do Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas, a identificação oficial dos destroços será possível somente após a escavação da estrutura.

"O trabalho de pesquisa foi encerrado no final do ano passado por não conseguirmos financiamento. O que mantemos até hoje é o monitoramento da embarcação, junto ao Ministério Público e com apoio da Prefeitura de Santos", disse Gonzalez.

Em relação ao objeto metálico no interior da estrutura, o pesquisador acredita se tratar de um depósito de metal para guardar carvão e lenha, comuns em veleiros do século 19. "O sonar apontou que a embarcação está enterrada de 2 a 3 metros mais fundo do que a linha visível na areia, que tem aproximadamente 50 centímetros. Após a pandemia voltaremos a buscar apoio para finalizar a pesquisa e preservar este patrimônio", finaliza.