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MG: Família culpa empresa e alega prejuízo de R$ 3 mi após incêndio em casa

Mariana Gonzalez

Do UOL, em São Paulo

25/07/2020 04h00

Uma família de Uberaba (MG) teve a casa no bairro da Quinta da Boa Esperança completamente destruída depois que um incêndio atingiu uma área próxima à parte de trás do imóvel, construído em um terreno de mil metros quadrados. Os donos da residência calculam o prejuízo em R$ 3 milhões e culpam a empresa VLI, de logística, que nega ter responsabilidade.

Dayenne Carvalho, de 23 anos, disse ao UOL que o fogo em sua casa começou por volta das 10h do dia 6 de julho, no mato de um terreno aos fundos do imóvel, por onde passa uma linha ferroviária que pertence à VLI. O incêndio teria sido contido pelos bombeiros, mas, duas horas depois, as chamas teriam voltado, se alastrado rapidamente e atingido o imóvel.

Os moradores não estavam na residência naquele momento. "A hora em que a gente chegou em casa, não reconheceu, não era a mesma. Perdemos tudo, além das memórias, muitos bens materiais, roupas, móveis, coleções, tudo que tinha um carinho especial", conta Dayenne. O valor de R$ 3 milhões, estimado pela família, englobaria todos os danos materiais.

Dayenne vivia no imóvel há 20 anos com a mãe, Tânia, de 58 anos, e os tios, Rubens, de 62, e Wagner, de 52. Ela conta que incêndios similares ocorrem no local há pelo menos sete anos e que moradores da região já procuraram a empresa para evitar novos episódios, mas não tiveram sucesso.

"Todos os vizinhos que moram ao redor reclamam [dos incêndios], pedem que o mato seja aparado para que não aconteça um acidente e o fogo entre na casa de alguém, como aconteceu na minha casa", afirma. "A nossa parte [do mato] a gente sempre aparava". Incêndios em vegetação são comuns na região nos meses de seca.

Segundo os moradores, o mato foi aparado ontem pela empresa.

Mato aparado - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Incêndios anteriores

A VLI oferece soluções logísticas e opera as ferrovias Norte-Sul e Centro-Atlântica. A companhia também é dona de terminais portuários em Santos (SP), São Luís (MA), Barra dos Coqueiros (SE), São Gonçalo do Amarante (CE) e Vitória (ES).

Reportagens de veículos locais mencionam pelo menos dois incêndios que teriam sido ligados a incidentes envolvendo a VLI no Triângulo Mineiro, um em maio e outro em setembro de 2019. Segundo o Jornal da Manhã, vagões de trens da companhia pegaram fogo em Uberaba, em maio de 2019; quatro meses depois, em setembro, houve um outro incêndio, desta vez em um pátio ferroviário da VLI, também em Uberaba, de acordo com informações do jornal.

A companhia também estaria envolvida em um incêndio que destruiu três fazendas no Tocantins, em agosto do ano passado. Segundo a TV Anhanguera, a faísca de uma máquina de solda teria dado início às chamas, em trecho da Ferrovia Norte-Sul que seria administrado pela VLI.

O UOL teve acesso ao boletim de ocorrência do Corpo de Bombeiros, que registra o envio de três agentes para conter as chamas. Segundo o documento, o trabalho levou quatro horas no total e houve desabamento e danos materiais.

Em fotos e vídeos enviados pela família, é possível ver apenas cinzas no local onde ficava a casa.

Dayenne conta que a mãe e os tios passaram 20 anos construindo a casa, de oito cômodos. Ela disse que a família havia acabado de fazer uma reforma e que um deck de madeira havia sido concluído horas antes de o imóvel ser atingido pelo fogo. Os quatro estão vivendo temporariamente em outro imóvel da família, que estava desocupado.

"É muito difícil pensar que a casa que você passou 20 anos construindo, decorando, cuidando para ser seu refúgio, sua paz, se transformou em cinzas."

Dayenne expôs o caso nas redes sociais:

"Mesmo após toda a repercussão, eles não nos procuraram. Apenas se manifestaram por meio de uma postagem no Instagram, negando que a área é de propriedade deles, mas já foi confirmado pelo perito que é", disse a jovem.

Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que instaurou inquérito para investigar o caso e que aguarda a conclusão dos laudos periciais para entender as causas do incêndio. A PC confirmou ao UOL que o terreno onde o fogo começou pertence à VLI.

A família pretende processar a empresa.

O que diz a VLI

Procurada pelo UOL, a empresa disse que "está contribuindo com as investigações e à disposição da família para esclarecimentos". Leia a nota, na íntegra:

"A VLI, responsável pela linha férrea, esclarece que está contribuindo com as investigações e à disposição da família para esclarecimentos. A empresa reforça que identificou o início de incêndio fora da sua faixa de domínio e não havia qualquer atividade da ferrovia no local. As causas estão sendo apuradas pelas autoridades."

A VLI, no entanto, não respondeu se tem conhecimento de incêndios similares em anos anteriores nem se se responsabiliza pela destruição da casa de Dayanne ou se pretende ressarcir a família. A VLI também não confirmou se é dona do terreno.