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"Aquele PM sujou a imagem de bons PMs", diz motoboy agredido a coronhadas

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

02/09/2020 18h47

Resumo da notícia

  • Após repercussão de vídeo, Mezzette foi solto na manhã de hoje do CDP do Belém, zona leste da capital
  • Motoboy soube do pedido de arquivamento do caso pelo MP durante conversa com o UOL
  • Promotor pediu a revogação das medidas cautelares e salientou que a Corregedoria da PM já apura a conduta do soldado

"A partir do momento em que a escrivã falou 'você está preso', meu mundo caiu", afirmou o motoboy André Andrade Mezzette, 29, ao UOL, na tarde de hoje, ao relembrar o que passou na noite do último dia 28 de agosto, após ter sido detido e agredido por um policial militar, no bairro do Tremembé, zona norte de São Paulo.

Mezzette foi solto na manhã de hoje do CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém, zona leste da capital, após a repercussão de um vídeo que mostrava agressões e apontava contradições na acusação do PM. Durante a conversa com a reportagem, Mezzette voltou a chorar, mas de alegria.

"Desculpe interromper a entrevista, mas estou lendo nos autos do processo que o MP (Ministério Público) pediu o arquivamento do caso, você está livre, Andrezinho", afirmou o advogado Paschoal Caruso, que defende o motoboy. "Ao acolher o motoboy, o advogado complementou: "Pode chorar, pode chorar, deu tudo certo". Ele respondeu: "Tirei o peso das costas".

02.set.2020 - André Andrade Mezzette após ter sido colocado em liberdade Imagem: Arquivo pessoal

Mezzette foi detido pelo soldado Felipe da Silva Joaquim, 30, que acusou o motoboy de tentar assaltá-lo. De acordo com a versão do motoboy, porém, o policial, à paisana, o deteve porque estava fumando um cigarro de maconha após fazer entregas na pizzaria onde trabalha.

"Aquele PM sujou a imagem dos bons policiais militares que existem na corporação. A PM tem que começar a saber quem está colocando na corporação, porque é essa a corporação que está defendendo São Paulo. Esse cara, por exemplo, não tem capacidade e mentalidade para proteger um cidadão", afirma o motoboy.

"Com todo o respeito, se ele fez comigo, ele fez com outros. Infelizmente, é uma realidade sobre o que acontece em São Paulo. Lá na cadeia, eu falei para os caras o que aconteceu comigo e ninguém duvidou de mim. Pelo contrário, conheci outros caras que estavam lá porque também foram forjados. Não sou o primeiro, nem vou ser o último", complementou Mezzette.

Ele se diz, por um lado, aliviado, e, por outro, com medo de sofrer represálias do PM ou de outros agentes. "Eu trabalho à noite, eu entrego pizzas. Eu trabalho na quebrada, entendeu? Eu não sei o que se passa na cabeça de uma pessoa como aquele cara, eu tenho medo, mas eu preciso trabalhar, me adaptar", disse.

O MP, que num primeiro momento referendou o que afirmou o PM, na tarde de hoje voltou atrás e pediu o arquivamento do caso. O promotor Celso Élio Vannuzini pediu a revogação das medidas cautelares estabelecidas e salientou que a Corregedoria da PM já apura a conduta do soldado.

O UOL procurou o soldado Felipe. Ele afirmou que tudo que está no boletim de ocorrência registrado no Jaçanã "é o ocorrido". Sobre o fato de Mezzette estar desarmado na ocasião, ele afirmou que "não é preciso arma para praticar um roubo". Ele acusou a imprensa de manipulação e de publicar mentiras e diz que está sendo ameaçado na rua onde mora por causa do caso.

Por meio de nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que "um homem, de 29 anos, foi preso em flagrante após tentativa de assalto a um policial militar de folga na noite da última sexta-feira (28), no Tremembé, zona norte da capital. O caso foi registrado como tentativa de roubo de veículo no 73° DP e remetido à Justiça. O policial foi afastado do policiamento operacional e a Polícia Militar também apura o caso".

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