'Ele já chegou me acusando', diz motoboy espancado por PM em SP

O motoboy André Andrade, 29, preso depois de ser espancado pelo soldado da Pmesp (Polícia Militar do Estado de São Paulo) Felipe da Silva, 30, que o acusou de tentar roubá-lo na noite da última sexta-feira (28), deixou o CDP (Centro de Detenção Provisória) de Belém, em São Paulo, na manhã de hoje.

Imagens da TV Globo veiculadas no "SP1" mostraram o motoboy sendo recebido pelo advogado, a namorada, a mãe e uma amiga na saída do CDP de Belém, por volta das 9h30. Aos jornalistas que estavam na porta da prisão, André negou a autoria do crime e disse ter sido vítima de racismo.

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"Eu fiz uma entrega em uma rua, parei em uma rua próxima, apareceu esse PM [Felipe da Silva Joaqim] do nada. Aí ele me viu, voltou. E aí eu penso assim: ele [PM] tinha todo o direito de dúvida [sobre minha conduta]. Eu estava em uma rua parada", disse o motoboy.

"Mas aí o certo é o que? [É ele perguntar:] 'Você está fazendo o que? Está trabalhando?', pegar o número da pizzaria, ver se eu era motoboy mesmo. Mas ele já chegou me acusando. É o que? É o tom de pele? Eu não posso mais ser um 'pretinho' em cima de uma moto?", completou.

Liberdade para o motoboy

O TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) determinou ontem a libertação de André. Na decisão, a juíza Tania da Silva disse que novas provas levantadas pela defesa do jovem demonstraram que os fatos "são nebulosos" e que há "fundadas dúvidas" sobre a acusação do policial militar de que o motoboy teria tentado roubá-lo.

A juíza completou afirmando ter tido acesso a vídeos disponibilizados pela defesa de André para embasar sua decisão e disse que o soldado Felipe não afirmou claramente nos depoimentos se houve o anúncio de assalto nem se houve a exibição de arma de fogo.

Um vídeo feito por moradores do bairro no dia da abordagem mostra André no chão, dominado pelo soldado. As imagens flagraram xingamentos e agressões do PM contra o motoboy.

Na gravação, André diz ao policial militar que estava fumando maconha, e o PM responde: "Deus sabe o que você fez". O policial, então, aponta uma pistola para a cabeça do motoboy, o arrasta para a rua e chuta suas costas.

As imagens levaram a SSP (Secretaria da Segurança Pública) a afastar o soldado do serviço operacional. André levou golpes de revólver na cabeça e recebeu três pontos na testa por causa das agressões.

Mesmo tendo sido libertado, o motoboy terá de cumprir algumas medidas cautelares como, por exemplo, informar uma eventual mudança de endereço e proibição de deixar a cidade onde vive por mais de oito dias sem prévia comunicação à Justiça.