Jovem forçado a praticar sexo oral no RJ convive com trauma, diz mãe
Pouco mais de um ano desde que um vídeo começou a circular denunciando que dois jovens foram retirados de uma composição do trem e obrigados a praticar sexo oral no Rio de Janeiro, uma das vítimas abandonou a escola e conta hoje com acompanhamento psicológico e psiquiátrico, além de fazer uso de cinco medicações.
A mãe do jovem conta que o filho, que já fez uso de substâncias ilícitas, não tinha sintomas psiquiátricos antes de ter sofrido a abordagem. Desde então, foi diagnosticado com esquizofrenia. As identidades de ambos não serão divulgadas a fim de preservá-los
Por conta disso, ela, que trabalhava como auxiliar de serviços gerais, não pôde retornar ao posto e hoje se dedica 24 horas por dia ao filho.
"Ele fica agitado, quer quebrar as coisas que vê pela frente. Com isso, não consigo trabalhar, tenho que ficar sempre de olho nele. Outro dia, fui ver um emprego e não consegui porque fiquei pensando nele. Ele precisa que eu fique por perto. Só eu consigo controlar a situação", conta.
No episódio que aconteceu em julho do ano passado, dois policiais militares e dois seguranças da Supervia — a concessionária que administra os trens — foram identificados como os responsáveis pela abordagem na estação Maracanã, zona Norte do Rio.
Nas imagens gravadas pelos próprios agressores, é possível ver um dos homens ameaçando os rapazes — à época com 17 e 18 anos —com uma arma e ordenando a prática do sexo oral entre eles. No áudio, eles afirmam que os garotos são usuários de drogas e questionam se a dupla iria continuar comprando maconha.
Após o corrido, uma queixa foi formalizada na Polícia Militar por um dos parentes das vítimas. Os jovens identificaram por fotos os policiais que participaram da abordagem. Segundo a Polícia Militar, os dois estão presos na Unidade Prisional da PM, em Niterói. "Um processo administrativo disciplinar foi aberto e segue em andamento", informou a corporação.
Os dois seguranças da Supervia também foram identificados e demitidos. A família da vítima foi indenizada pela Supervia e, com o dinheiro, comprou duas casas simples em Paracambi, na Baixada Fluminense, onde vive. Hoje, vivem com o dinheiro do aluguel dos imóveis.
"Uma casa, eu alugo por R$ 500 e, outra, por R$ 300. Não adianta a gente colocar o valor do aluguel lá em cima porque tem que pensar nas condições dos outros, né?", afirma.
"Viu o que fizeram comigo?"
Em um de seus episódios, o jovem agrediu colegas na rua após eles mencionaram a palavra "Maracanã", nome da estação onde o caso ocorreu. "Ele bateu nos meninos e depois ficou chorando muito", lembra a mãe.
"Meu filho conversava, interagia, mas agora ele fica muito na dele, não quer ficar perto de ninguém, fica sozinho. Antes, ele jogava bola, jogava videogame, mas nem disso ele brinca mais. Botei até o videogame na caixa e guardei, pois no último surto ele quebrou vários CDs", lamenta.
Desde aquela abordagem, o rapaz vai pelo menos uma vez por semana ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Em um ano, já precisou ser internado duas vezes. A primeira internação durou uma semana. A segunda, 15 dias.
"Você viu o que fizeram comigo? Viu o mal que eles fizeram? Deus tá falando para eu pagar o mal com outro mal", disse ele em um dos episódios.
Em outra ocasião, a família chegou a chamar o Corpo de Bombeiros. O jovem só não foi internado porque fugiu dos parentes.
A vítima, o irmão e a mãe vivem juntos na casa que pertencia à avó dos meninos. Ela sofreu um derrame quatro meses depois do ocorrido. Além da indenização da Supervia, a família aguarda também uma indenização do estado.
A ação está no Tribunal de Justiça do Rio e corre em segredo de justiça. A Defensoria Pública acompanha o processo.
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