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Família vende tudo por plano de abrir hostel, leva golpe e fica sem moradia

Rilavia Soares, de 53 anos, e o marido, Enivaldo Braz, 50, queriam abrir um hostel - Arquivo Pessoal
Rilavia Soares, de 53 anos, e o marido, Enivaldo Braz, 50, queriam abrir um hostel Imagem: Arquivo Pessoal

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

28/09/2020 12h04

Uma família que tinha o sonho de morar no litoral de São Paulo perdeu tudo ao ser vítima de um golpe de falsos corretores de imóveis. Rilavia Soares, de 53 anos, e o marido, Enivaldo Braz, 50, moravam no interior paulista e decidiram vender o imóvel, o veículo e deixaram os empregos para realizar a vontade de ter uma casa perto da praia para ter espaço suficiente para construírem um hostel para turistas.

Entretanto, o que era um sonho virou pesadelo. No dia da mudança, eles descobriram que o imóvel que tinham comprado em Itanhaém por R$ 55 mil já tinha dono.

Ao UOL a filha do casal, Nayara Soares Pina, 24, disse que os pais estão muito abalados com o acontecido. Ela explicou que eles estavam procurando anúncios de casas para vender pela internet, em cidades da Baixada Santista. Após escolherem entre quatro imóveis, a vendedora Rilavia Soares começou a negociar com uma corretora que se identificou como Alana. A casa em Itanhaém estava anunciada em um primeiro momento por R$ 90 mil.

Ao longo dos dois meses de contato direto com a corretora, Nayara Soares disse que a mulher sempre foi muito gentil e atenciosa com os pais: "Sempre mandava mensagem para minha mãe dando 'bom dia', 'boa noite'. Sempre conversava sobre o imóvel, pedindo para que ela fosse logo visitar a casa. Eu tenho os áudios, tenho tudo. E não dava para perceber nada, porque tudo que perguntávamos, ela tinha resposta", disse Nayara.

"Uma vez perguntamos sobre o CRECI (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) e ela disse que não podia passar, pois não estava autorizada, então imaginamos que ela estava trabalhando como autônoma, fazendo um bico como corretora. Nunca desconfiamos de nada. Foi muito bem armado, muito bem montado para passar essa segurança de processo legal pra gente", acrescentou.

A família ficou ao longo de meses negociando o valor do imóvel. A corretora chegou a informar que o valor da casa teria baixado para R$ 75 mil, já que o proprietário estava com pressa de vender o imóvel por causa da pandemia.

Visita ao imóvel

Depois de negociar o valor da casa, a família viajou por cerca de 200 km para conhecer o imóvel. Ao chegarem no local encontraram a mulher que se identificou como Alana e o suposto chefe dela, Fernando. Nayara disse que os dois corretores abriram os portões da casa, mostraram toda a residência e inclusive chegaram a listar obras recentes que haviam sido feitas no local e problemas estruturais que a casa ainda tinha.

casa - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Casa em Itanhaém viraria um hostel
Imagem: Arquivo Pessoal

"Foi uma apresentação muito bem feita. A gente viu que a porta estava com problema, parecia que havia sido arrombada. Tinha uma madeira na porta. Questionamos o motivo dela estar daquela forma e eles disseram que como o espaço é muito grande, o proprietário aluga a casa e que, em uma dessas vezes, um grupo de jovens acabou quebrando e o proprietário deixou dessa forma provisoriamente. Sabíamos que essas coisas acontecem", disse Nayara.

Depois da visita, a família ainda conseguiu uma nova negociação com a casa sendo vendida R$ 55 mil, porém, com a condição de que eles pagariam à vista via transferência bancária ao proprietário. Os corretores chegaram a alegar que por causa do baixo valor, o dono do imóvel iria tirar a comissão deles. A família chegou a dizer que para eles não se prejudicarem pagaria aos dois por fora: "Eles falaram para a gente que ficaram muito tempo com o proprietário no telefone para conseguir vender com o preço que sugerimos e que o proprietário iria tirar a comissão dela. Aí falamos que iríamos até pagar por fora pela ajuda que eles estavam nos dando", diz Nayara.

Dias depois de fechar a compra eles foram ao cartório para registrar os documentos. O proprietário foi até o local e a família conversou com o dono da casa. No local, ele teria pedido que o dinheiro fosse enviado à conta de uma suposta sobrinha já que eles estariam devendo no banco.

Desaparecimento dos corretores

Depois de voltarem para o interior de São Paulo, Nayara explica que eles precisavam do comprovante de residência. Ao pedirem para a corretora, a mesma bloqueou a família:

"Eu desconfiei da atitude dela, fiquei em alerta. Minha mãe conseguiu falar com um outro corretor que disse que a filha da 'Alana' teria sofrido um acidente e ela estava no hospital, mas que poderíamos ficar tranquilos e que poderíamos tratar do caso com ele, porém ele não respondeu mais. Eu contratei uma advogada e pedi para ela olhar toda a documentação e ela me disse que estava aparentemente tudo certo e aí ficamos até um pouco mais tranquilos", explicou Nayara.

Dia da mudança

Quando a família chegou ao local, a chave dada a eles não abria o portão. A filha do casal disse que chamaram um chaveiro e no momento final da mudança os vizinhos chamaram a polícia. Quando os agentes chegaram ao local, a família explicou o caso e os policiais disseram que aparentemente teriam sido vítimas de um golpe.

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A família entregou provas como as trocas de mensagens e áudios
Imagem: Arquivo Pessoal

Nayara diz que nesse momento a família desabou: "Nessa hora a gente perdeu o chão, ficamos desesperados porque percebemos que tínhamos perdido tudo, tudo que meus pais conquistaram a gente tinha perdido. A gente esperou o proprietário chegar, fomos a delegacia para registrar a ocorrência por estelionato. O proprietário queria que saíssemos no mesmo dia, só que já era de noite e estava chovendo e não tínhamos para onde ir, aí ele deu até o dia seguinte para sairmos do imóvel", desabafa a estudante.

A família agora conta com a ajuda através de uma vaquinha online para conseguir uma verba e ajudar a se reerguer.

"É muita revolta, tristeza, é muito difícil porque a gente só queria reaver o que perdemos, mas sabemos que vai demorar muito para localizarem eles. Nós fomos atrás dela. Passamos o contato dela para a polícia. Estamos perdidos, meus pais perderam tudo o que eles tinham conquistado em 30 anos de trabalho. É uma sensação de insegurança sem saber o que vai acontecer. Para não ficarmos dependendo tanto da justiça eu montei essa vaquinha online para tentarmos comprar outro imóvel. Algo assim abala tanto que ficamos sem rumo, sem saber por onde recomeçar".

Investigação

A Polícia Civil informou por meio de nota que o caso é investigado pelo 2ºDP de Itanhaém. "A unidade analisa imagens e informações que podem auxiliar na identificação e prisão dos autores do crime. Mais detalhes não serão divulgados para não prejudicar o trabalho policial".