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Médico é criticado ao dizer que enfermeiros precisam de 'xerecard'

Rafael Souza

Colaboração para o UOL, em São Luís

28/10/2020 10h09

A postagem de um médico do Maranhão realizado na segunda-feira (26) gerou críticas nas redes sociais. Nos stories de sua conta no Instagram, ao ser perguntado sobre o que acha da profissão de enfermeiro, Kayke Paiva disse que "ou tu faz enfermagem, ou usa o 'xerecard', ou então tu faz medicina".

"Medicina (é) que dá dinheiro. O resto é resto (...). A enfermagem só existe porque a medicina existe", afirmou. A mensagem foi considerada um desrespeito pela classe da enfermagem, por sugerir que vender o corpo é mais rentável que a profissão.

Uma página sobre enfermeiros recortou e publicou o vídeo. Depois disso, vários enfermeiros e até médicos publicaram comentários contra o profissional, denunciando o que chamam de discriminação e difamação contra enfermeiros e técnicos de enfermagem.

Ao UOL, o médico diz que tudo começou quando fizeram uma pergunta para a namorada dele no Instagram, e que ele apenas falou a realidade sobre a desvalorização dos enfermeiros. Kayke também emitiu uma nota para se explicar sobre o episódio.

Kayke Paiva - Reprodução - Reprodução
"Ou tu faz enfermagem, ou usa o 'xerecard', ou então tu faz medicina", disse o médico Kayke Paiva nas redes sociais
Imagem: Reprodução

"Sou uma pessoa que brinca muito sobre a coisa de ser pobre. Eu já andei de ônibus, era pobre. Em nenhum momento desrespeitei a profissão da enfermagem. Acredito que, sem ela, não há saúde, pois um hospital não funciona sem os enfermeiros. Quando mencionei o termo 'xerecard', quis dizer que talvez vender o corpo seja uma boa ideia para ganhar dinheiro, já que a enfermagem está tão desvalorizada", argumentou.

"Vejo o sofrimento de minha mãe, irmã e namorada ganhando pouco, trabalhando em condições precárias, sendo maltratadas pelos médicos em geral que são ignorantes na sua maioria. Peço perdão aos enfermeiros por qualquer fala equivocada da minha parte. Lembrando que muito do que falo nos meus stories do Instagram é apenas humor. Não busco humilhar ninguém, muito menos difamar profissão alguma, pois toda profissão tem seu espaço e merece o respeito devido", acrescentou.

"Para finalizar, gostaria de enfatizar que sempre tratei bem todos os enfermeiros e os técnicos, bem como toda a equipe, e que nunca fui alvo de processos nesse sentido. Espero que todos vocês, enfermeiros, aceitem minha retratação", completou.

Apesar da nota, o médico não poupa insultos a quem se sentiu ofendido pela postagem e foi reclamar em seu perfil pessoal. Ontem, o médico compartilhou na rede social as mensagens que recebeu, assim como suas respostas.

Kayke - Reprodução - Reprodução
No Instagram, Kayke Paiva bateu boca com usuários apesar de pedido de desculpas por declaração
Imagem: Reprodução

Em algumas delas, ele ameaça "encher a cara de murro" da outra pessoa. Em outra, diz que, se precisar de atendimento, irá para o Sírio Libanês, enquanto a outra pessoa "irá morrer pobre e diabética".

Kayke Paiva se formou em medicina em 2019 em uma universidade particular e diz já ter trabalhado em 10 hospitais públicos, como em UPAs, sendo a maioria no interior do Maranhão. Kayke afirmou que foi clínico geral por cerca de 10 meses, mas desistiu da medicina por ter se "cansado dos plantões exaustivos".

Atualmente, o médico vive em Barra do Corda (MA) e usa as redes sociais para vender cursos sobre como ser trader no mercado financeiro.

Medidas e repúdio

Ao tomar conhecimento do vídeo, o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) informou que vai solicitar ao Conselho Regional de Medicina a abertura de processo ético disciplinar contra Kayke Paiva. O Cofen também avalia adotar de outras medidas contra o médico, na esfera cível e penal.

"Os insultos proferidos por Kayke Paiva em seus stories são um desrespeito a 2,2 milhões de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, que estão 24h ao lado dos pacientes e dedicam suas vidas à saúde da população, em um momento de pandemia global. Revelam, ainda, desconhecimento sobre a complexidade do trabalho multiprofissional em saúde e desprezo pela integridade do ser humano", finaliza a nota do Cofen.

A Universidade Federal do Maranhão também emitiu uma nota de repúdio assinada pelo reitor Natalino Salgado, que é médico.

"A Universidade Federal do Maranhão, tendo em vista o caso de publicação, em rede social, pelo profissional médico Kayke Paiva, de ofensas à profissão de enfermagem, vem a público expressar o seu repúdio a tal conteúdo, ao mesmo tempo em que afirma o enorme valor dos profissionais de enfermagem para a estrutura de saúde. A formação em enfermagem é tão vital quanto qualquer outra da cadeia da saúde e, como tal, merece o devido respeito e reconhecimento", diz o texto.

"É importante ressaltar que a opinião deste profissional, preconceituosa e inconsequente, não representa o conjunto da categoria médica, que tem se pautado pelo sentimento de trabalho conjunto entre os profissionais da área de saúde. A UFMA, como entidade formadora e efetivadora da saúde no estado do Maranhão, com cursos de Medicina e Enfermagem em três dos seus nove campi, tem pautado a sua formação pelo respeito e senso de valorização e coletividade entre todos os profissionais que forma. E lamenta profundamente situações deste tipo", completa o comunicado.