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Assassinos de genro de Castor atiraram por cima de muro e fugiram por mata

Polícia chega ao local onde ocorreu o crime - Herculano Barreto Filho/UOL
Polícia chega ao local onde ocorreu o crime Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

10/11/2020 18h31Atualizada em 10/11/2020 20h11

Os atiradores que mataram hoje à tarde Fernando Iggnácio Miranda, genro do contraventor Castor de Andrade, em um heliporto no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio, abriram fogo de cima de um muro em direção ao estacionamento onde estava a vítima e usaram um terreno baldio com cerca de 15 mil m² como rota de fuga, segundo fontes ligadas à Polícia Civil.

Os agentes apreenderam uma escada —possivelmente usada pelos suspeitos para acessar e deixar o local— e cápsulas de fuzil. Segundo a polícia, Fernando Iggnácio foi alvejado na cabeça por ao menos um atirador, mas ainda não é possível precisar quantos criminosos participaram da ação. Testemunhas viram ao menos um homem encapuzado portando uma arma de grosso calibre. Uma delas relatou ao UOL ter ouvido ao menos dez tiros.

Segundo a polícia, ele tinha acabado de desembarcar de um helicóptero vindo de Angra dos Reis (RJ) e foi surpreendido pelos atiradores, que portavam fuzis, antes de embarcar no seu carro que estava estacionado no local. Após o crime, a mulher que o acompanhava correu para o helicóptero e voltou para a cidade da costa verde fluminense.

10.nov.2020 - Rota de fuga de assassinos do contraventor Fernando Iggnácio Miranda - Herculano Barreto Filho/UOL - Herculano Barreto Filho/UOL
10.nov.2020 - Rota de fuga de assassinos do contraventor Fernando Iggnácio Miranda
Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Homens do 31º BPM cercaram o local até a chegada da Delegacia de Homicídios da Capital. A entrada principal do heliporto fica na avenida das Américas, uma das vias mais movimentadas da zona oeste carioca.

Sob a condição de anonimato, uma testemunha ouvida pelo UOL disse ter escutado ao menos dez disparos após a aterrissagem de um helicóptero. O portão do terreno tinha sinais de arrombamento.

Foi muito tiro. Mas não consegui ver quem atirou, porque há uma área de mata alta pelos fundos. Parece ter sido ação de quem observou a rotina por aqui.

Testemunha do assassinato que pediu anonimato

O UOL teve acesso a fotos da cena do crime, que mostram a vítima caída ao lado de um Mini Cooper vermelho após ter sido atingida por tiros de fuzil na cabeça.

Polícia apreendeu 64 câmeras de segurança

Investigadores da Delegacia de Homicídios da Capital apreenderam hoje à noite imagens registradas por 64 câmeras de segurança que fazem o monitoramento no interior do heliporto.

Em uma análise preliminar, foi possível verificar a movimentação de veículos suspeitos no terreno ao lado. Por lá, entraram os autores do crime, que usaram uma escada para escalar um muro de mais de 3 m, também usada na fuga.

"Os agentes observaram a movimentação dos carros no terreno usado pelos atiradores", disse Edmar Neves, proprietário da empresa responsável pelo monitoramento.

Os agentes agora irão analisar a movimentação no local nos últimos 30 dias, à procura da identificação de suspeitos.

Mais de 50 mortes por território do jogo do bicho

Fernando Iggnácio Miranda mantinha uma sangrenta disputa pelo controle do jogo do bicho e de máquinas de caça-níqueis na zona oeste do Rio havia mais de 20 anos com Rogério Andrade, sobrinho de Castor.

A disputa teve início após a morte do contraventor em 1997. Segundo investigações da Polícia Federal, mais de 50 assassinatos até 2007 são atribuídos à guerra da contravenção.

Em 1998, o assassinato de Paulo Andrade, o Paulinho, escolhido como herdeiro do jogo do bicho, fez com que Fernando Iggnácio, seu cunhado, assumisse o lugar dele na disputa. Meses depois, a polícia identificou como autor dos disparos o ex-PM Jadir Simeone Duarte. Em depoimento, Duarte acusou Rogério de ser o mandante do crime.

O próprio Rogério foi vítima de uma tentativa de assassinato em 2001. Em abril daquele ano, o filho de Rogério de Andrade, com 17 anos na época, morreu em um atentado a bomba na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, quando o carro que dirigia explodiu.

Em 2007, Fernando Iggnácio foi preso pela Polícia Civil do Rio. Meses depois, Rogério Andrade foi pego pela Polícia Federal. Naquele mesmo ano, Rogério Andrade e Fernando Iggnácio foram alvo da operação Gladiador, da PF, que investigou o esquema da dupla e a corrupção de policiais no Rio.